segunda-feira, agosto 09, 2010

Há lodo na democracia portuguesa

O que me surpreende no Caso Freeport não é o comportamento dos magistrados, a violação sistemática e manhosa do segredo de justiça e muito menos a actuação de alguns jornais e jornalista. Há muito que não tenho grande confiança nos nossos procuradores, penso até que a competência e a independência não são o seu forte. A violação sistemática do segredo de justiça é uma instituição em Portugal, é uma instituição bem mais forte na nossa justiça do que a defesa mais elementar dos direitos dos cidadãos. Dos nossos jornais e jornalistas não se pode esperar grande coisa, vendem informação com os mesmos princípios dos negociantes de time-sharing.

O que mais me enoja neste processo é o de gente de quem esperava a coragem da defesa dos princípios não cedendo à tentação de ganharem eleições graças ao trabalho sujo. É evidente que há gente na justiça em derrubar José Sócrates e que para o conseguirem estão dispostos a irem até onde for necessário, não hesitando em destruição a democracia. Não passam de fascistas disfarçados de polícias de toga.

Era de esperar que os políticos da oposição dissessem não, que rejeitassem a ajuda destes fascistas afirmando os valores da democracia. Seria lógico que o maior partido da oposição afirmasse claramente que quer chegar ao poder sem ajudas, afirmando os seus princípios e propostas. Mas, infelizmente, são raras as vozes vindas do PSD que se levantam contra o espectáculo triste de um golpe fascista disfarçado de processo de investigação. Os dirigentes do PSD optaram pelo silêncio cobarde e oportunista, apostando no desgaste do primeiro-ministro, se não foram os promotores, foram claramente os beneficiados e por isso mesmo optaram pelo oportunismo. No caso Face Oculta foram mesmo mais longe, esqueceram o património democrático do PSD e permitiram que Pacheco Pereira chegasse ao ponto de querer divulgar escutas declaradas ilegais pelo Supremo Tribunal de Justiça.

Todos sabemos o ódio que os derrotados por Sócrates lhe têm, era de esperar as campanhas feitas por email, mas chegar ao ponto de abdicar de todos os princípios para se calarem enquanto o país assistia ao linchamento de um primeiro-ministro democraticamente eleito promovido por gente sem escrúpulos é algo que me envergonha enquanto português.

Nenhum partido da oposição tomou posição contra a violação do segredo de justiça, nenhum decidiu rejeitar frontalmente a ajuda que lhes estava a ser prestada pelos procuradores, nem mesmo o Presidente da República foi capaz de tomar posição contra a destruição da justiça portuguesa, pior ainda, chamou o senhor Palma a Belém para tirar nabos da púcara sobre supostas pressões sobre procuradores, acabando por ser ele próprio a dessa foram pressionar contra Lopes da Mota.

Talvez alguns políticos e partidos tenham obtido ganhos no meio de toda esta sujidade, mas é certo que mais cedo do que tarde serão eles próprios do lodaçal que por cobardia ajudaram a formar-se.