quarta-feira, setembro 22, 2010

Para exportar não basta produzir barato

Sempre que alguém fala na necessidade de exportar mais aparece logo alguém a defender uma baixa de salários, como para se exportar baste vender barato, e trinta anos depois a única solução alternativa às desvalorizações que foi encontrada pelos nossos competentes economistas é a baixa de salários.

Só que para exportar não basta vender barato nem os custos das exportações dependem apenas dos custos de produção. Aliás, para exportar nem sequer é necessário produzir como nos provam os holandeses.

Dir-me-ão que os holandeses têm em Roterdão o melhor porto do mundo e em Amesterdão um dos mais movimentados aeroportos da Europa onde muita gente chega para reunir num dos hotéis de negócios das imediações seguindo viagem sem sequer ir ao centro da conhecida cidade holandesa. É por isso que dou razão a Cavaco Silva quando chama a atenção para a importância dos portos, criticando os que passam o tempo a debater o novo aeroporto e o TGV e esquecem a importância económica das infra-estruturas portuárias.

Tive a mesma opinião das primeiras vezes que aqui questionei os grandes investimentos e poderia agora comparar o que fizeram os governos de Cavaco Silva neste domínio e o que tem sido feito. Mas é uma discussão supérflua, mais estrada de acesso aos portos menos estrada, mais cais menos cais, fez-se pouco. E muito provavelmente fez-se muito menos em matéria de custos e talvez pouco em celeridade nas operações, aliás, quando olho para o porto de Lisboa fico com a impressão de que os seus responsáveis estão mais preocupados com os seus gabinetes de luxo e com a exploração comercial da frente ribeirinha do que com as exportações.

Um país que depende das suas exportações e tem uma posição geográfica excepcional deveria apostar tudo neste sector da economia e isso não significa apenas ter uma agência nacional onde se colocam uns notáveis para irem beber champanhe por esse mundo fora, para não referir os nossos diplomatas que são especializados em marcas de vinhos e de roupa, mas na perspectiva do seu consumo. Ao longo dos anos já tive que “aturar” diplomatas estrangeiros que se deslocam aos serviços em defesa das suas empresas, duvido que hajam muitos diplomatas portugueses a tirarem o dito cujo da cadeira para fazerem o mesmo.

Mas neste domínio as carências são múltiplas e as do ensino merecem destaque, hoje são muito raros os alunos que saem das escolas de gestão sabendo o que é um incoterm, ou mesmo distinguir FOB de CIF. Aprendia-se mais sobre esta matéria no antigo curso geral de comércio (o antigo 5º ano das escolas comerciais) do que hoje nas universidades. Repare-se como há tanto curso técnico e quase nada no domínio do comércio internacional.

Apesar de dependermos das exportação somos um país de amadores em matéria de comércio internacional.