quarta-feira, junho 22, 2011

Livre como um passarinho

É mais fácil ser jornalista do que blogger. Se fosse jornalista tudo seria fácil, não teria de pensar nas minhas opções, nos filhos ou no seu será melhor para o país, ao saber o que seria melhor para o director ou para o patrão do jornal saberia o que seria melhor para mim. Estaria sempre desculpado perante a minha consciência, ao ser a voz do patrão deseja estaria a defender o meu interesse, de jornalistas honestos e independentes estão os centros de emprego cheios.

Mas ser blogger e em cada momento estar tranquilo com a minha consciência, poder enfrentar os meus amigos de cara erguida e sem vergonha dos fretes que pudesse ter feito, garantir o respeito dos que concordam ou discordam do que penso, é bem mais difícil. O blogger recebe emails questionando as suas mudanças de opiniões, o jornalista recebe apaparicos do patrão pelos fretes que faz, com sorte ganha prémios e sobe na empresa, se o patrão for demasiado honesto sempre há a concorrência.

Quando um conhecido jornalista decidiu usar a primeira página do jornal ‘i’ para denunciar o suposto autor deste blogue, umas das motivações que evidenciou na troca de emails que teve comigo foi a admiração por nas eleições anteriores ter apoiado Sócrates apesar das críticas que fiz e de algumas perseguições que me foram movidas. Neste país as coisas são assim, se alguém for de esquerda e um governo me atingir nos seus interesses deve mudar-se para a  direita, se for democrata e o sindicato do PCP defender as minhas mordomias abusivas deverei aderir ao ideal comunista e votar PCP, se for um pouco envergonhado vota no BE que até há uns meses atrás era coisa fina.

Ter como bitola para a coerência a defesa dos meus interesses seria a mais lógica e não me faltariam razões para há muito ter defendido a demissão de Sócrates, agora até me poderiam acusar de estar na fila para lugares de boy do PSD, da mesma forma que muitas vezes insinuarem ser boy do PS, alguns mal o PSD ganhou as eleições comentaram logo que eu iria perder o meu grande tacho.

É uma chatice, não tenho nem quero ter tacho, tive muitas razões de discordância em relação a Sócrates e entendi que acima de coisas pequenas que moveram alguns eleitores estava o que eu pensava ser o melhor para o país. Talvez para o tal jornalista o melhor seja fazer primeiras páginas à custa de actos de bufaria, para muitos professores o melhor será aderir a quem os livrar de avaliações, defender os nossos interesses é fácil e cómodo.

Mas é mais fácil criticar o que se deve criticar e apoiar o que deve ser apoiado, se no poder estiver um partido que não ajudámos a eleger será ainda mais fácil. Por isso sinto-me livre como um passarinho, para usar uma expressão que uma vez Mário Soares usou quando perdeu uma batalha eleitoral, não me sentirei condicionado por criticar um governo cuja eleição não apoiei, sem me sentir inibido por apoiar medidas de um governo que não ajudei a eleger. É o que farei daqui em diante.

PS: Aos que muitas vezes me acusaram de boy e de ter um tacho à custa das minhas opiniões façam o favor de se me dirigirem por email, terei todo o gosto de lhes dizer onde está a vaga para o caso de estarem interessados.