quarta-feira, junho 15, 2011

Tenham tento na língua

Quando Sócrates perseguiu judicialmente jornalistas que o ofenderam, e o que não faltaram nestes últimos seis anos foram notícias visando destruir a imagem do ainda líder do PS, os jornalistas reagiram corporativamente. Agora que Cavaco fez o mesmo em relação a um jornalista da revista Sábado que ousou opinar sobre a forma como o então candidato a Presidente da República reagiu às revelações dos seus negócios financeiros e imobiliários fez-se um silêncio quase total, os jornais e os jornalistas assobiaram para o ar.

E que crime cometeu Miguel Pinheiro, director da revista Sábado? Opinou sobre o candidato Cavaco Silva.

Mas o candidato Cavaco Silva estava acima dos outros candidatos, enquanto estes eram meros cidadãos comuns Cavaco ainda exercia as funções de Presidente da República beneficiando de uma reminiscência Salazarista do Código Penal, quem ofender o Presidente da República comete um crime. Não são crimes as ofensas ao presidente da junta, ao presidente da câmara, ao ministro ou ao primeiro-ministro, se estes se sentirem ofendidos que reclamem nos tribunais, mas ofender o Presidente da República é crime.

Portanto tenham cuidado quando se referirem a Cavaco Silva não vá algum magistrado de serviço estar a ouvir-vos ou a ler-vos e levam com um processo em cima, poderá ficar em águas de bacalhau, mas das chatices, despesas inerentes e da morosidade dos processos ninguém vos livra.

Se como cidadãos tiverem dúvidas sobre a conduta de um Presidente da República devem ficar calados, não só serão perseguidos judicialmente como na lei portuguesa não há forma de tirar alguém da Presidência da República, nem a constituição nem a lei comum o prevêem, um alto magistrado até pode estar demente ou com sinais de doença de Alzheimer, pode mesmo revelar-se um trafulha que ou sai pelo seu pé ou fica até ao fim do mandato.

A nossa democracia tem esta originalidade, somos uma república mas devemos tratar o presidente como um soberano pelo menos durante o mandato, aliás, parece ser mais fácil derrubar um rei que o é por graça de deus do que um presidente português eleito pelos cidadãos. Em contrapartida, o presidente pode derrubar os governos eleitos pelos mesmos cidadãos e se alguns destes ousarem criticá-lo para além dos limites ainda é perseguido judicialmente.