domingo, junho 19, 2011

Semanada

Esta semana marca o fim do cavaquismo não só porque o governo de Passos Coelho deixa os discípulos de Cavaco Silva de forma mas principalmente porque se esgotaram os objectivos políticos de Cavaco Silva. Tal como muitos insectos morrem no momento da procriação os nossos presidentes esgotam a sua energia política quando cumprem o destino de mandar abaixo o governo eleito para fazer eleger um governo dos seus. A partir de agora as intervenções do Presidente da República deixarão de ter interesse, ninguém vai procurar nas entrelinhas ou mesmo nas linha um ataque ao maldito Sócrates, os portugueses já podem agendar as férias descansados porque Belém não agendará numa comunicação oficial dramática na hora de meter as malas no carro. A partir de agora a tarefa mais importante de Cavaco Silva será cortar fitas, ironicamente cortará as fitas das obras de Sócrates.

Passos Coelho surpreendeu o país, quando se esperava um governo de cotas reformados e bem instalados na vida propôs um governo de jovens. Num país onde só os velhos e os funcionários públicos aceitam ser governantes porque não têm de prescindir de fartos rendimentos parece ter sido uma boa solução. Resta perceber porque razão Paulo Macedo que enquanto director-geral dos Impostos não prescindiu de um ordenado de quadro do Millenium e agora aceita abdicar do ordenado de vice-presidente do mesmo banco para ser ministro, ficando a ganhar menos como ministro do que ganhava como director-geral. Ou o Millenium estava farto dele, ou ele estava farto do Millenium ou a obra achou que deveria era mais importante organizar missas de acção de graças governamentais. Veremos se é o Millenium que se está a afundar ou se será o Paulo Macedo a afundar o governo.
 
Como era de esperar a formação deste governo não escapou à regra do costume no nosso país, poucas horas depois da divulgação dos futuros ministros os jornais divulgaram os nomes dos que rejeitaram os convites. Ou alguém ligado a Passos Coelho tentou chamar ratazanas aos que abandonaram o barco recusandose a torcar o conforto por um cargo público, ou os convidados não deixaram de perder a oportunidade para valorizarem o seu curriculo lançando uma nódoa sobre as segundas escolhas. Um espectáculo repugnante a que nos vamos habituando.

Nunca um primeiro-ministro abandona o cargo em tão grande silêncio, desde que perdeu as eleições José Sócrates desapareceu deixando o palco por inteiro a Pedro Passos Coelho e figurantes como Relvas e Moedas. Depois de um discurso de derrota notável parece que Sócrates está a preparar a sua saída de cena com mais cuidado do que o que Passos Coelho está a ter com a sua entrada. Mal divulgou a composição do governo os cavaquistas fizeram questão de fazer saber que tinham recusado os convites, ficando no ar a ideia de que estes teriam sido endereçados antes da indigitação de Passos por Cavaco, se assim foi a primeira mentira de Passos Coelho foi a declaração de que só convidaria os ministros depois de ser indigitado. Veremos quantas mentiras dirá um homem de palavra.

António Costa recusou candidatar-se a líder do PS, foi uma decisão sábia, ninguém no seu pleno juízo troca um pássaro na mão por dois a voar, ninguém troca as mordomias e luxos da autarquia da capital e a segurança de um cargo público por uma candidatura incerta. Quando negociou com Helena Roseta e lhe deu o lugar de número dois da CML na condição de as vereadora não ascender à presidência se António Costa a abandonasse o então candidato não contava com tal hipótese para ser líder da oposição, mas parece que Sócrates trocou-lhe as voltas e preferiu ir até ao fim deixando o seu número dois de mãos a abanar.