sábado, abril 09, 2016

Umas no cravo e outras na ferradura



 Jumento do dia
    
João Soares

João Soares decidiu armar-se em Bruno de Carvalho do governo, considerando que o Facebook é um espaço de alarvidades onde se diz o que nos vai na alma como se estivéssemos em finais do século XIX, quando o ofendido batia com a luva na cara do ofensor em sinal de desafio. João Soares ainda não percebeu o tempo em que vivemos, em que é inadmissível que um governante reaja a críticas com ameaças de bofetadas, independentemente de se saber qual a intensidade das bofetadas ou se as mesmas são em sentido figurado.

João Soares não é um jovem político inexperiente, tem idade para saber que de um ministro da Cultura seria de esperar outra forma de debater ideias, pelo que a sua demissão era inevitável, até porque este não é o +primeiro incidente com que penaliza a imagem do governo. É óbvio que a nomeação de João Soares veio a revelar-se um erro de casting, acabou por ser vítima do de um "tempo novo" de cuja chegada parece não se ter apercebido.
 
Nas directas do PS João Soares optou por apoiar Seguro ns presidenciais alinhou com Maria de Belém e ainda disse que se a mãe fosse viva apoiaria a sua candidata, mesmo assim António Costa convidou-o para o governo. O mínimo que se esperava era que João Soares se deixasse de atoardas típicas dos debates políticos do século XIX, dando à direita a oportunidade de denegrir o governo. Mas não, a vaidade de João Soares é superior a tudo isso e em pouco tempo tem sido a vedeta deste governo pela negativa, enquanto os seus colegas fazem o melhor possível João Soares passeia os seus disparates.

«Mais de 24 horas depois do polémico post no Facebook em que prometeu bofetadas aos colunistas Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente, o ministro da Cultura, João Soares, pediu a demissão. E o primeiro-ministro aceitou "naturalmente" a saída, disse António Costa aos jornalistas, no Porto.

"Torno público que apresentei esta manhã ao senhor primeiro-ministro, António Costa, a minha demissão do XXI Governo Constitucional. Faço-o por razões que têm a ver com a minha profunda solidariedade com o Governo e o primeiro-ministro, e o seu projecto político de esquerda", afirmou João Soares num comunicado enviado à agência Lusa.

Poucos minutos depois, António Costa anunciava que aceitou a demissão. "Naturalmente aceitei o seu pedido de demissão", disse o primeiro-ministro, afirmando que respeita a "avaliação" de João Soares e que a decisão de se demitir é "totalmente exclusiva" do agora ex-ministro.» [Público]

      
 Ah, se fosse comigo, João Soares...
   
«Vasco Pulido Valente disse, e bem: "Cá fico à espera das bofetadas." Porque as palavras são isso, palavras. Enquanto palavras, as bofetadas são palavras, não mais. As bofetadas não se prometem, dão-se e, até prova em contrário (serem dadas), são palavras. Mas podem ser erradas, como foram, neste caso, as de João Soares. Nesta edição temos a foto do último duelo em Portugal, 1925. O jornalista do DN escreveu: "Levávamos aquela boa disposição de sempre, a habitual dos espectadores de duelos, de antemão sabendo que ao fim havia de se dar um aperto de mão reconciliador. Um duelo! A costumada comédia..." Palavras... O azar é que, daquela vez (é o problema por vezes das palavras), um dos duelistas morreu de ataque cardíaco. Quer dizer, as palavras, apesar de palavras, podem ter consequências. Dito isto (e porque só estamos no domínio do dizer), o que mais impressiona no episódio das lamparinas prometidas é o palavrório que desencadeou. Demissão! - não se fez por menos. E culpa acrescida por vir de um ministro da Cultura! - supina estupidez. Exatamente por ser de um ministro da Cultura e para dois cronistas, "um par de bofetadas" ganha o estatuto de poder ser dito que não teria, por exemplo, um inspetor do SEF falando a um homem sem passaporte. Aquela conversa Soares-VPV-Seabra é, que diabo, entre iguais. Eu seria ainda mais breve que VPV e responderia ao ministro, assim: "Circunlóquio!" Ou talvez: "Perfunctório!" Palavras, enfim.» [DN]
   
Autor:

Ferreira Fernandes.

      
 Só agora?
   
«Inspectores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária (PJ) estão a realizar esta sexta-feira buscas na sede da TAP, junto ao Aeroporto de Lisboa, confirmou ao PÚBLICO fonte daquela polícia. Os investigadores estarão a recolher documentos e até ao momento não terão sido efectuadas detenções. 

Em causa estarão suspeitas de crime relativas à compra da TAP Manutenção e Engenharia Brasil (antiga VEM). A TAP entrou no capital da empresa de manutenção de aviões em 2005, tendo ficado com 100% em 2007, quando comprou a posição da Geocapital, detida pelo empresário macaense Stanley Ho.

O presidente da TAP, Fernando Pinto, já foi ouvido pelo Ministério Público no final de 2014 no âmbito deste processo. E já então a inquirição - desconhece-se em que condição processual foi ouvido - aconteceu depois de terem sido realizadas, no contexto deste caso, as primeiras buscas nas instalações da companhia de aviação em meados de 2013 e de terem sido ouvidas pessoas com informações sobre a gestão da operadora de handling Groundforce, a compra da unidade de manutenção do Brasil e a tentativa fracassada de venda da empresa a Gérman Efromovich. Movimentos que surgiram depois de uma denúncia anónima ter chegado à PJ.» [Público]
   
Parecer:

Este negócio sempre cheirou muito mal e os mesmos gestores da TAP que fizeram campanha pela sua privatização são os que a arruinaram com um negócio muito duvidoso, até parecia que se queriam ver livres da tutela estatal o quanto antes.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se para ver»
  
 A voz do dono
   
«O treinador do FC Porto quer reagir à derrota com o Tondela com “caráter, humildade e profissionalismo” até ao final da época e não só em Paços de Ferreira, no domingo, na 29.ª jornada da I Liga de futebol.

“O que é exigível e o que a história e a grandeza do clube obrigam é que tenhamos todos esses atributos. É um dado que nós, como equipa, temos de realçar. Temos todos de dar esta resposta”, destacou José Peseiro, na abordagem do jogo em Paços de Ferreira.» [Observador]
   
Parecer:

Pinto da Costa deu o campeonato por terminado, disse que as jornadas que faltam eram para avaliar o carácter dos jogadores. Agora vem o treinador dizer que quer um jogo com carácter, intérprete ou a voz do dono?
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»

 Fraco direito à palavra
   
«"Torno público que apresentei esta manhã ao senhor primeiro-ministro, António Costa, a minha demissão do XXI Governo Constitucional. Faço-o por razões que têm a ver com a minha profunda solidariedade com o Governo e o primeiro-ministro, e o seu projeto político de esquerda", salienta João Soares no comunicado enviado à agência Lusa.

No mesmo comunicado, João Soares sublinha "o privilégio que representou" para ter integrado este Governo. "E ter trabalhado com o primeiro-ministro, a quem agradeço a confiança. Demito-me também por razões que têm a ver com o meu respeito pelos valores da liberdade. Não aceito prescindir do direito à expressão da opinião e palavra", acrescenta.» [DN]
   
Parecer:

Se o direito à liberdade de expressão é responder à crítica ameaçando com bofetadas vou ali e já volto.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»