sexta-feira, setembro 08, 2017

Cativações


O que une Passos Coelho e Catarina Martins? As cativações, um mecanismo contabilístico que permite aos governos gerirem a despesa pública, ajustando-a às possibilidades financeiras do Estado. E o que pretendem Passos Coelho e Catarina Martins? Passos Coelho quer que se alguma coisa vier a correr mal do lado da receita, o governo seja impossibilitado de compensar com um corte de despesa, de forma a que se abra a porta ao tão desejado diabo. Catarina Martins quer que a despesa seja rígida, sem qualquer possibilidade de redução, ajudando Passos Coelho a abrir a porta ao mafarrico.

O tal senhor do rigor, do controlo das gorduras, dos tês orçamentos retificativos por ano, quer agora que aconteça o que acontecer o governo seja obrigado a gastar o que tem e o que não tem. Como o exercício de 2016 correu bem porque o ministro das Finanças ajustou a despesa em função das receitas, de forma a cumprir com os compromissos internacionais, o líder do PSD achou boa ideia retirar ao governo esse instrumento de gestão.

Passos Coelho estudou apenas a evolução das receitas, sabia que o OE para 2016 estava armadilhado por via das retenções da fonte do IRS e aos reembolsos de IVA que ficaram por fazer em 2015. Por isso andou os primeiros sete meses de 2016 a exibir pelo país a pantomina do primeiro-ministro no exílio.  Estava certo de que Paulo Núncio tinha deixado a armadilha bem montada, agosto seria o mês do buraco financeiro, setembro seria o da divulgação desse buraco e, muito provavelmente, o do segundo resgate.

Passos foi à lã e estava tão descansado e certo do buraco nas contas públicas que acabou por ser tosquiado, Centeno sabia da sua artimanha e não só cumpriu com o défice de 2015 como compensou as vigarices da equipa de Paulo Núncio com um controlo da despesa. Fê-lo da forma que todos os ministros das Finanças fazem, impedindo os serviços públicos de fazerem despesas não urgentes, limitando os dinheiros orçamentados através das cativações. É assim que se controla a despesa, por exemplo, no tempo de Ferreira Leite as cativações obrigaram muitos funcionários a trazer o papel higiénico de casa, sob penha de terem de limpar o rabo a folhas de papel A4.


Agora Passos parece um genro que espera que a sogra morra num acidente rodoviário para receber a herança. Mas como a senhora, apesar do excesso de velocidade consegue evitar os acidentes usando o travão, o genro descobriu que o automóvel da sogra não deve ter travões, assim é tudo honesto, se a senhora anda depressa deve ir contra uma parede. O estranho de tudo isto não está na esperteza saloia de um líder partidário que enquanto gente está em Massamá, mas como político já reside no Cemitério dos Prazeres. O ridículo de tudo isto está no facto de a mecânica que vai tirar os travões ao carro da sogra ser a Catarina Martins.