Quando Paulo portas, essa personagem estranha da direita
política, mandava nas pastas económicas apresentava o sucesso do setor do
turismo como obra dos seus afilhados. Era um pouco como a crista que confundia
oliveiras com couves e considerava que o aumento da exportação de azeite
extraído de azeitonas de oliveiras cultivadas dez anos antes, como resultado da
sua política.
Agora que a direita fica com azia com qualquer notícia boa
para o país, por vontade de Passos as temperaturas altas e os incêndios deviam
continuar até às próximas legislativas, o turismo só tem defeitos. Aquilo que
salvava o país é agora a nossa desgraça, dantes criava emprego e riqueza, agora
cria emprego com baixos salários e quase não deixa riqueza.
Aliás, esta desvalorização do turismo numa perspetiva
económica não é partilhada apenas pela direita partidária. Quem fez este tipo
de críticas ou não pensa muito ou fá-lo com irresponsabilidade.
Quem defende esta tese parece pensar que os trabalhadores
sem qualificações que o turismo emprega poderiam ser contratados para trabalhos
que exigem qualificações elevadas ou mesmo para projetos de investigação
científicas. Os que convidaram os quadros mais qualificados a abandonar o país
queixam-se agora do emprego pouco qualificado, os que eram contra o aumento do
salário mínimo queixam-se dos salários dos novos empregos, os que criavam
empregos com falsos estágios desvalorizam, o emprego criado sem qualquer ajuda.
Mas a argumentação da direita não revela apenas má fé, denuncia
muita ignorância. Os turistas não se limitam a pagar viagens de low cost e a
dormir em hotéis baratos, também fazem compras e consomem. Os sapatos vendidos
na Rua Augusta deixam uma margem de valor acrescentado muito maior do que os
vendidos para exportação. Os preços dos muitos contentores de cerveja vendidos
a turistas cheios de sede são muito superiores aos contentores exportados para
Angola. Além disso estas “exportações” não estão sujeitas a atrasos de
pagamento, a cartas de crédito, a transportes com custos elevados e a comissões
para os mais diversos agentes.
O que vendemos aos turistas equivale a uma exportação mas
com margens muito superiores ás praticadas no comércio internacional. Os
empregos criados pelo turismo não são apenas de condutores de tuc-tuc,
empregados de mesas e pessoal de limpeza. As dezenas de hotéis em construção
traduzem em emprego para muitos engenheiros, arquitetos e trabalhadores
qualificados. Esta criação de emprego induzido pelo turismo sente-se em muitos
setores da economia e em muitas profissões. As próprias receitas fiscais que
gera permitem o financiamento do estado e por essa via o financiamento de
atividades que exigem elevados níveis de qualificação, desde professores a
médicos.
Os que se queixam do baixo nível salarial dos novos empregos
que deixem de verter lágrimas de crocodilo. Não tardará muito que a pensar nas
empresas amigas deixarão de ir para o Pontal com discursos xenófobos contra os
emigrantes, não tarda a que defenda a vinda de trabalhadores estrangeiros para
promover os baixos salários que as novas leis laborais não conseguirão provocar
quando se sentir a falta de alguns profissionais, fenómeno que já se faz sentir
em muitos setores de atividade.