Se há contribuinte a quem o fisco não precisa de sugerir que
peçam faturas são os comerciantes, podem evitar ao máximo emitir o papelinho
maldito, mas na hora de as pedirem nunca se esquecem. É por isso que durante
estas férias achei surpreendente um estranho fenómeno a que assistir
diariamente na loja do Lidl na terra do Madurinho algarvio. Até cheguei a
pensar que a Geringonça teria declarado um paraíso fiscal em Vila Real de Santo
António.
Os primeiros clientes do Lidl são na sua maioria comerciantes
que se abastecem de produtos que vão dos bolos aos queijos e fiambres. Nenhum
deles queria fatura. Durante quinze dias não vi um único comerciante pedir
fatura. Este fenómeno faz lembrar um outro que se generalizou quando o
malfadado Núncio Fiscoólico era a última coca-cola do deserto na secretaria de
Estado dos Assuntos Fiscais, de um dia para o outro muitos milhares de lojas e
restaurantes afixaram avisos informado que “não se aceitam pagamentos por
multibanco”.
O Núncio Fiscoólico aprendeu a usar o medo como forma de
coagir os contribuintes a pagar o que deviam e o que não deviam, por isso
lembrou- se de avisar os portugueses que iriam ser feitos cruzamentos entre as
faturas emitidas e os pagamentos por multibanco. A resposta dos comerciantes
foi imediata, para esperto, esperto e meio, uns deixaram de aceitar pagamentos
por multibanco, outros passaram a emitir faturas apenas para os pagamentos
feitos com cartões.
As medidas de combate à evasão fiscal, sejam as reais ou as
de terror virtual costuma ter a mesma eficácia que o veneno para os ratos,
começam por matar os ratos até que estes se habituam a resistir ao veneno e
passam a alimentar-se deste. Se a ameaça feita aos portugueses de que passariam
a ter os tostões contados pelo Big Brother do CDS criou algum terror, acabou
por ser uma medida com efeitos perversos que não foram avaliados pelo
espertalhão do Núncio Fiscoólico, hoje um advogado rico e bem sucedido da
praça, acabaram por empurrar muitos milhares de contribuintes para a clandestinidade,
onde estão a salvo de um fisco que insiste em cobrar e inspecionar sempre os
mesmos.
É isso que explica o estranho fenómeno doo Lidl, muitos
comerciantes optam por ficar na clandestinidade fiscal e como não emitem
faturas optam por fazer as compras no Lidl. Não só se escapam aos impostos como
não deixam qualquer rasto, sejam faturas ou guias de transporte. Enfim, tratam
o cão com o pelo do próprio cão.