Jumento do Dia
O discurso de Cavaco Silva foi o costume, ainda que agora o homem de Boliqueime esteja em roda livre, sem assessores é ele que escreve os discursos e nesse sentido esta intervenção foi uma das mais genuínas que fez.
Aquilo que ouvimos foi o Cavaco, o homem que insiste me querer ficar na história, que não assume as críticas de forma frontal e que passa a vida a tentar o seu próprio engrandecimento. Só que desta vez foi ridículo demais, fez acusações graves de existência de censura, mandou indiretas a Marcelo e espumou de raiva em relação ao governo. Está esquecido das falsas escutas a Belém ou da manipulação da comunicação social feita pelo seu antigo assessor de imprensa.
Mas o mais ridículo da sua intervenção foi a tentativa de projetar o seu modelo de presidência recorrendo ao presidente francês. Só mesmo um rural de Boliqueime se lembraria de se armar em Júpiter. Convenhamos que ao lado de Macron, Cavaco não passa de um Plutão, um não planeta que ficou na história da humanidade por dar o nome a Pluto, o cachorro da banda desenhada.
«Quase duas décadas depois de ter deixado de participar em iniciativas partidárias, e quase dois anos depois de ter deixado a Presidência da República, Cavaco Silva abriu uma “exceção” à regra que impôs a si próprio para estar presente da Universidade de Verão do PSD. Levantou-se cedo, às 6h da manhã, para sair de Albufeira a tempo de chegar à aula que iria dar em Castelo de Vide. Pedro Passos Coelho assistiu ao seu regresso na primeira fila. Não houve selfies — porque o ex-Presidente não quis. “Peça antes àquela menina para tirar”, disse, no final, a um jovem, de telemóvel em riste, que quis posar consigo na fotografia. Até nisso quis ser diferente do sucessor.
Numa intervenção perante jovens aspirantes a políticos, Cavaco Silva fez contas com o passado; revelou o segredo do impasse que se instalou na nomeação dos membros do Conselho de Finanças Públicas, dando-se como “culpado”; mas sobretudo deixou duras críticas ao governo da “geringonça” que “finge que pia mas é apenas por jogadas partidárias”, aos partidos da “coligação”, que defendem a saída do euro para “outra galáxia, talvez para a galáxia onde vive a Venezuela”. Ainda criticou a comunicação social portuguesa, por também fazer “fake news” e elogiou o presidente francês Emmanuel Macron de uma maneira que evidenciou o que Marcelo Rebelo de Sousa não devia fazer. Mas sempre sem dizer os nomes dos visados.» [Observador]
E agora marqueses?
«Luís Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social (MSESS) do Governo de coligação PSD/CDS, autorizou uma das viagens pagas à Huawei em 2014, realizada por João Mota Lopes, então vogal do conselho diretivo do Instituto Informático da Segurança Social. Um ofício assinado por Gabriel Osório de Barros, chefe de gabinete do então ministro, dava conta de que, no dia 27 de janeiro de 2014, o responsável pelo ministério tinha autorizado a deslocação daquele alto quadro do MSESS à China.
O ex-ministro do CDS justifica ao Observador a aprovação de viagens pagas por terceiros por entender que “é normal nas empresas e na administração pública a participação em congressos e seminários, que possam incorporar conhecimento” nos dirigentes. “É normal que estas visitas se façam”, diz Luís Pedro Mota Soares.
Outro argumento que levou o ex-governante a aprovar a deslocação paga pela Huawei tem a ver com o facto de a viagem ter sido proposta pelo presidente do conselho diretivo do Instituto de Informática da Segurança Social, Pedro Corte Real: “Para nós era relevante ter autorização do dirigente máximo do serviço, do conselho diretivo”. Quando eram justificadas com esta lógica, diz o ex-ministro, havia uma maior probabilidade de as deslocações serem aprovadas:
"Perante esse crivo do presidente do conselho diretivo, que entendia que a viagem era relevante para o próprio serviço, podíamos autorizar. O presidente do conselho diretivo entendeu que a visita era relevante, e justificou-a”.» [Observador]
Parecer:
Se um dos que viajaram contou com a aprovação governamental fará sentido prosseguir investigações aos que viajaram nas mesmas circunstâncias?
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»
Se fixa um prazo para quê um ponto de situação
«A Procuradoria-Geral da República (PGR) deu 45 dias a Amadeu Guerra, diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), para fazer o ponto da situação sobre a Operação Marquês.
Através de um despacho emitido esta terça-feira pelo vice-procurador geral Adriano Cunha, fica claro que Joana Marques Vidal não está à espera que a equipa de investigação de Rosário Teixeira termine a investigação até ao próximo dia 13 de outubro.
No mesmo despacho, o n.º 2 da PGR confirma que a resposta à última carta rogatória enviada para a Suíça chegou aos autos da Operação Marquês no dia 22 de agosto. E, com base no despacho da procuradora-geral da República de 27 de abril — que tinha decidido “prorrogar por 3 meses, contados da data de devolução e junção ao inquérito da última carta rogatória a ser devolvida, o prazo de encerramento do inquérito n.º 122/13.8 TELSB” –, Adriano Cunha confirma que “se iniciou a 22 de agosto” o referido “prazo de 3 meses”.
Traduzindo o despacho de Adriano Cunha, podemos concluir o seguinte:
- Confirma-se oficialmente que o prazo de conclusão da Operação Marquês passou a ser 20 de novembro;
- O diretor do DCIAP — departamento a que pertence a equipa do procurador Rosário Teixeira que investiga o inquérito que tem José Sócrates como principal arguido –, terá de dizer até ao dia 13 de outubro se esse prazo se confirma. Isto porque o despacho de 27 de abril permite um novo adiamento, caso exista fundamento para tal.
- Tendo em conta o prazo para fazer um ponto da situação, é pouco provável que o despacho de encerramento de inquérito seja emitido até ao dia 13 de outubro — ou seja, o documento só deverá ser emitido após as eleições autárquicas.» [Observador]
Parecer:
O ponto de situação só poderá servir para abrir a porta a novo prazo.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aposte-se que vai haver um novo prazo com base em novas investigações de outro processo.»