sexta-feira, agosto 29, 2008

"Público", o blogue não oficial de Belmiro de Azevedo


Felizmente há grandes diferenças entre um blogue e um jornal, mesmo admitindo que em ambos possam haver opções políticas claramente assumidas, assim como o autor de um blogue exprime-se condicionado por essas opções, o chefe de redacção e os jornalistas não são árbitros de futebol, é-lhes impossível noticiar ou comentar indiferentes à sua visão pessoal da sociedade.
Mas se um blogue é um “caderno diário” de alguém que decide exprimir os seus sentimentos, opiniões ou mesmo emoções, sem ter que se condicionar a princípios de isenção, o mesmo não se pode dizer de um jornal que é pago, que os cidadãos compram para obter informação e ler as opiniões claramente identificadas enquanto tal.

Há pouco tempo o próprio Pacheco Pereira, um dos articulistas do Público, disse claramente que o Público estava a fazer uma cruzada contra o Governo, num momento de derrapagem, esquecendo todos os seus bons princípios e o que escreveu a propósito do incidente de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, apoiou essa cruzada.

Mas é bom lembrar que esta postura menos digna do Público e de José Manuel Fernandes, o seu director, não é de sempre, na relação entre o Público e o Governo há um antes e um depois, há um antes opa da Sonae sobre a PT e a decisão da Ota, e um depois destes dois acontecimentos que desagradaram a Belmiro de Azevedo. Graças à decisão governamental de localizar o aeroporto na Ota a Sonae perde a possibilidade de ter um aeroporto “privativo” ao serviço dos seus investimentos turísticos de Tróia, por causa da decisão da CGD de não vender a sua participação na PT à Sonae Belmiro de Azevedo perdeu a oportunidade de adquirir a PT ao preço da uva mijona e livrar-se do seu principal concorrente, um tipo de negócio que no passado o ajudou a enriquecer, como foi o caso da aquisição do BPA.

Antes da Ota e da PT o Público só elogiava o governo, ninguém se esquece da botanada de Tróia, em que Sócrates fazia implodir o velho edifício perante o olhar embevecido de Belmiro de Azevedo. Antes da Ota e da PT a ministra da Educação era o exemplo da determinação e do reformismo que o país carecia, depois da Ota e da PT a ministra era uma desgraça, o mesmo sucedendo com todos a generalidade dos membros do governo. Antes da Ota e da PT eram excelentes, agora são coxos.

O diploma de Sócrates era há muito conhecido, era objecto de críticas na blogosfera desde há meses, mas só depois da Ota e da PT é que os jornalistas do Público repararam nisso e se preocuparam com o tema. Os editoriais do Público que antes da Ota e da PT roçavam o sabujo passaram a ser crítico, dia sim, dia não José Manuel Fernandes lá aproveita qualquer coisa para passar a mão pelo pêlo do patrão.

O Público de hoje é um bom exemplo do jornalismo segundo José Manuel Fernandes, depois de as declarações de Cavaco Silva, feitas há dois dias, estarem estafadas, o próprio Público não se cansou de as noticiar, são agora apresentadas como notícia de grande destaque, como se fosse feitas ontem. Isto para criar expectativa para o editorial de José Manuel Fernandes que revela pouco respeito pelos seus leitores e, ainda por cima, desconhecimento da lei. José Manuel Fernandes não deve ter lido a Lei Quadro da Política Criminal e a Lei Sobre Política Criminal. Mas se leu prefere que sejam ignoradas, esconde-as dos seus leitores pois só assim pode abordar o tema da política criminal sem quaisquer preocupações com a isenção do jornalista.

José Manuel Fernandes transformou um jornal de referência na imprensa portuguesa num blogue não oficial de Belmiro de Azevedo. Daí não vem mal ao mundo, se Belmiro prefere ter prejuízos no jornal para obter lucros noutras áreas de negócios isso é com ele. Mas neste caso Belmiro e José Manuel Fernandes deveria ter respeito pelos leitores informando-os de que estavam a comprar a edição do blogue não oficial de Belmiro de Azevedo.

Se o Público inverteu as suas prioridades, passando a dar mais importância aos objectivos político-financeiros do grupo Sonae deveria ser honesto com os seus leitores que não só estão a engolir a propaganda dissimulada da Sonae como ainda têm de pagar. Talvez por isso devesse passar a ser gratuito tendo na primeira página a menção “publicidade da Sonae”.

Para terminar aqui fica um pedido de desculpas aos blogues que na sua maioria esmagadora são mais honestos do que o Público, são raros os casos em que não assumem claramente as suas opções e, quando é caso disso, não fazem as suas declarações de interesses.