segunda-feira, julho 06, 2009

Crise económica ou crise da política?

A crise financeira teve o mérito de mostrar como uma boa parte dos políticos portugueses estão mais preocupados com o poder pessoal do que com a vida dos portugueses. A luta pelo poder, seja a luta pela conquista do governo, seja a luta por uma pequena autarquia como Aljustrel ou a liderança dos trabalhadores da Autoeuropa levou muitos dos nossos políticos à falta de honestidade intelectual, senão mesmo à total falta de escrúpulos.

Nenhum partido reagiu à crise de forma construtiva, defendendo propostas para a superação, avaliando as políticas governamentais segundo o mérito, criticando as medidas criticáveis e elogiando as que fossem positivas. Aquilo a que assistimos foi a políticos comportando-se perante a situação difícil que os portugueses atravessa como abutres sobre um governo ferido pela mais grave crise de origem externa que Portugal enfrentou desde sempre, já que o isolamento e o subdesenvolvimento serviram de barreira à crise de 1928.

Nos países desenvolvidos vejo os políticos da oposição esforçarem-se por apresentarem alternativas melhores do que as dos governos, até no Reino Unido onde o partido no poder parece estar derrotado há muito vemos uma oposição tranquila, desejando que o seu país ultrapasse a crise. Por cá, onde muitos portugueses passam dificuldades, muitos deles já as tinham antes de serem desempregados ou mesmo estando trabalhando, vejo políticos que nem se dão ao trabalho de esconderem a sua alegria pela ocorrência da crise, até criticam violentamente quem ouse falar no fim da crise.

O importante para alguns não é a sobrevivência da Autoeuropa, é a liderança do movimento sindical na empresa, o ministro da economia não deve ser avaliado pelo seu mérito mas sim por um gesto que poderá ter influenciado a escolha do futuro autarca de um pequeno concelho. A regra que domina o debate é a do oportunismo, até alguns brilhantes economistas tentaram demonstrar que não se deveria avançar para as grandes obras públicas por causa do endividamento externo mas abstiveram-se de propor soluções para o emprego ou para o endividamento.

Político que foram cobardes calando-se quando os armadores fecharam as lotas ou quando os camionistas e que prometiam uma estratégia de silêncio, começaram a fazer uma grande algazarra quando a economia portuguesa quebrou perante o impacto da crise. Mas até hoje não ouvi ser proposto um conjunto de propostas para superar a crise, ao que parece há um programa secreto para salvar o país, secreto para que não seja copiado, não vá o Sócrates adoptar as medidas.

Ao oportunismo, cobardia e hipocrisia só faltava mesmo juntar-se o cinismo presidencial, quando o país mais precisou de solidariedade institucional vimos Cavaco Silva silenciar-se apenas aparecendo em público com intervenções que apenas visam lançar a instabilidade e favorecer Manuela Ferreira Leite.

Com gente deste nível o país não vai longe, a crise há-de passar mas continuaremos com este presidente e mais os seus assessores pagos pelos contribuintes para se dedicarem à intriga política e com políticos mais preocupados com o poder e com o seu ego do que com o país e os portugueses.