sexta-feira, julho 17, 2009

Os "PRD"

Se em Portugal há quatro ou cinco partidos quanto a independentes há variedades para todos os gostos, desde os que não se querem envolver na lógica dos aparelhos partidários, por não serem candidatos a boys ou por não se sentirem bem nas vestes de monges da Cartuxa. Há os independentes que há duas décadas que exercem cargos políticos nomeados pelo mesmo partido, os que exercem cargos públicos mas que vão oscilando ideologicamente em função do partido que está no poder, os que usam a sua notoriedade técnica para serem comentadores independentes ao serviço dos seus clientes, os que aparecem ciclicamente a dramatizar os problemas do país ara depois desaparecerem em cargos de assessoria bem remunerados, os líderes de uma imensidão de organizações não governamentais, etc..

Alguns dos independentes que condenam os partidos têm a frustração secreta de não serem líderes partidários, consideram-se superiores mas não querem suportar os custos da militância nem serem escrutinados por outros militantes ou pelos eleitores. Outros gostariam de exercer cargos públicos mas sentem dificuldades em fazer opções. Alguns usam o estatuto de independente para namorem os políticos e quando se sentem reconhecidos por terem sido convidados para alguma mordomia, como uma qualquer comemoração nacional, tornam-se admiradores dóceis na esperança de virem a exercer algum cargo ministerial num futuro governo.

De vez em quando o sistema partidário entra em crise, os partidos do poder implodem quando não alcançam maiorias absolutas, o que com um modelo constitucional romântico e pouco preocupado com a governabilidade do país sucede muitas vezes. Foi num contexto destes que um Presidente da República tentou dar expressão partidária ao seu prestígio institucional, é, aliás, uma tentação frequente dos nossos presidentes, aproveitando-se do prestígio da instituição confundem-no com o seu próprios prestígio e não resistem à tentação de influenciar o curso da democracia. Enfim, é um vício que não é exclusivo de presidentes, os nossos magistrados, principalmente alguns mangas-de-alpaca do Ministério Público, também gostam de se armar em sacerdotes da democracia.

De vez em quando os independentes e alguns militantes dos partidos do poder, provavelmente porque foram excluídos das benesses governamentais, apresentam-se como salvadores da Pátria, como os donos da honestidade e com projectos de criação do paraíso, em alternativa aos políticos profissionais. Quando assim é surge a tentativa de criar um “PRD”, o partido perfeito, preocupado com o povo, respeitador da cidadania e da democracia representativa, com líderes que são autênticos modelos de virtudes.

Portugal já teve o seu PRD e foi o que se viu, serviu para aturarmos Cavaco Silva durante dez anos, mais os que estiver como chefe dos assessores de Belém, a própria Ferreira Leite é um dano colateral do PRD eanista. Quanto ao resto foi o que se viu, os virtuosos do PRD aproveitaram o peso eleitoral adquirido com a ajuda de Eanes e foram vender os seus serviços a bom preço a Cavaco Silva, passando alguns deles de eanistas a cristãos novos do cavaquismo.
É por estas e por outras que sendo independente tenho uma grande alergia a iniciativas de independentes.