sexta-feira, junho 04, 2010

O BE, o PCP e Manuel Alegre

Com o PCP a adiar um apoio a Manuel Alegre para a segunda voltas das presidenciais e os militantes do PS a apoiar Manuel Alegre com a mesma convicção com que muitos dos nossos católicos vão à missa vão ser os militantes do BE a emprenhar no apoio a Manuel Alegre como, aliás, Louçã já disse. Apoiado o candidato com que alguns sectores da extrema-esquerda que integra o bloco Louçã pretende colher os frutos da exposição mediática num sector do eleitorado que pretende retirar ao PS.

Louçã já teve melhores dias, está a ficar gasto e sabe que com um PSD a fazer oposição os seus dias de glória estão contados, a candidatura de Manuel Alegre é a sua hipótese de crescimento eleitoral, pouco importando que o seu candidato perca na sua volta. O líder do BE sabe muito bem que o seu apoio militante e ostensivo, ao ponto de querer ser ele a situar ideologicamente o candidato, terá como única consequência a derrota de Manuel Alegre. Só que para Louçã pouco importa quem vai ser o próximo Presidente da República e quanto ao governo há muito que aposta na substituição do PS pela direita.

É aí que reside a grande diferença entre a extrema-esquerda de Louçã e o PCP, enquanto para o Bloco tudo é uma questão de estratégia, para o PCP não é indiferentes se o próximo presidente é um candidato da esquerda ou um candidato da direita. O PCP lançará um candidato na primeira volta para na segunda volta apoiar um candidato da esquerda contra Cavaco Silva. O Bloco apoia um candidato e prefere que este perca na primeira volta para não perder protagonismo político porque na segunda volta a vitória desse candidato depende mais do apoio do PCP dos que das homilias de Francisco Louçã. Para o PCP a responsabilidade política determina a sua posição, para o Bloco o que importa são os seus ganhos eleitorais e esses serão maiores se Alegre for derrotado na primeira volta, até porque assim pode insinuar que a culpa foi da falta de empenho dos militantes do PS.

Vamos ter, portanto, uma candidatura de Manuel Alegre marcada pelo apoio de um Bloco de Esquerda que deseja a sua derrota na primeira volta, que conta com o apoio do PCP numa segunda volta e é apoiado pelos mesmos militantes do seu partido que num passado recente tiveram que lutar contra os prejuízos eleitorais provocados pelo candidato que agora apoiam.

Sócrates não gosta de Manuel Alegre e este nunca gostou de Sócrates, pior ainda, nunca lhe perdoou a derrota que lhe infligiu nas directas para a liderança do PS e o apoio à candidatura de Mário Soares. Mas Sócrates sabe que se não apoiar Alegre a vitória de Cavaco Silva é mais do que certa, não poderia apoiar outro candidato, ainda por cima Fernando Nobre é monárquico de madrugada, de direita durante a manhã, do centro à hora de almoço, de esquerda durante a tarde e á noite vai reflectir sobre o que será no dia seguinte.

Só restava a Sócrates apoiar aquele que mais fez para o derrubar, da mesma forma que só restou a Alegre ajeitar-se politicamente para receber o apoio daquele que elegeu como principal adversário político nos últimos cinco anos. Sócrates apoia Alegre pela mesma razão que Alegre apoia Sócrates, para sobreviver, e Louçã apoia Alegre apostado na sua derrota para que Cavaco faça aquilo que ele não conseguiu, derrubar José Sócrates.

Louçã não vai querer ser líder de um pequeno partido de oposição a um primeiro-ministro apoiado por um presidente que promoveu como seu. Louçã quer ser líder da oposição e para isso precisa que Cavaco seja presidente e Passos Coelho primeiro-ministro, enquanto o PS se afunda em divisões interna com a sucessão de Sócrates.. O futuro político de Louçã passa pela derrota de Manuel Alegre.