segunda-feira, junho 07, 2010

Passe férias cá dentro

O apelo de Cavaco Silva soa bem aos ouvidos dos portugueses e vindo de alguém que não se cansa de dizer que sabe muito de economia (uma característica rara naqueles que sabem mesmo muito) soa a verdade científica. O problema é que nem todos têm uma vivenda de luxo no Algarve, se assim fosse estou certo que muitos portugueses não teriam de concluir que um hotel no Algarve pode ficar muito mais caro do que no sul de Espanha.

Mas se Cavaco apela a que se façam férias cá dentro para evitar o crescimento da dívida externa, também pode fazer muitos outros apelos nesse sentido, que comam tomates portugueses, que comprem roupa fabricada em Portugal em vez de irem à Zara, que bebam bagaço em vez de whisky, que comprem sapatos portugueses, enfim, as oportunidades não faltarão.

Só que não é apenas Portugal que tem problemas, tanto quanto se sabe os ingleses, os irlandeses, os espanhóis, os gregos e os húngaros também estão a passar por algumas dificuldades, não sendo nada de excluir a hipótese de outros países se juntarem à lista que já deixou de ser dos “pigs”. A rainha de Inglaterra ou o rei Juan Carlos podiam fazer o mesmo e apelar aos seus concidadãos para que se fiquem no Reino Unido e em Espanha, a rainha de Inglaterra podia mesmo apelar a que optassem pelo Whisky em vez do Vinho do Porto e o Rei Huan Carlos teria boas razões para dizer aos espanhóis que têm excelentes vinhos.

Se Cavaco Silva sabe tanto de economia como diz também sabe que o seu apelo manhoso é uma negação do comércio internacional e que se todos fizessem o mesmo Portugal seria a primeira vítima pois é dos que mais depende das suas exportações. Vindo de um economista com tiques liberais este apelo é uma aberração, vindo de um político é um gesto pacóvio mais próprio de um presidente de uma junta de freguesia.

Resta-nos esperar que os jornalistas europeus que estão em Portugal não liguem muito ao que Cavaco diz pois se noticiarem nos seus países o que o Presidente da República disse isso só serve para Portugal cair no ridículo. Bem, também serve para a partir de agora podermos acusar de falta de nacionalismo qualquer português que se lembre de passar férias no estrangeiro.

O apelo deste tipo vindo de um Presidente da República não passa de uma forma subtil de proteccionismo, um gesto muito pouco próprio para o mais alto magistrado de um país da União Europeia.