quarta-feira, julho 11, 2012

Das equações diferenciais à revolução


É um clássico a explicação das curvas das equações diferenciais recorrendo à relação entre predadores e presas. Se na savana os predadores forem em pequeno número e as presas em grande número aqueles poderão caçar com facilidade alimentando facilmente as suas crias, a tendência será para aumentar o número de predadores à medida que diminui o número de presas. Chegará o momento em que se inverte a relação entre predadores e presas, estas serão em tão pequeno número que não serão suficientes para alimentar os predadores, a tendência será para que o peso destes diminua até chegar ao ponto em que aumenta o número de presas.
  
Na economia passa-se um pouco o mesmo, quando os desempregados são muitos os empresários mais gulosos e sem escrúpulos tornam-se predadores e exploram a miséria alheia enquanto podem, multiplicam-se, engordam sem limites, enriquecem. Assistimos a isso nos últimos anos, os lucros eram fáceis, a evasão fiscal era a regra, multiplicou-se uma classe de gente rica que pelo comportamento está mais próxima da designação de xulos do que de empresários. Desde as descobertas que sempre foi assim, as elites económicas em vez do empreendedorismo beneficiaram de sucessivos ciclos de proxenetismo, foram as Índias, o esclavagismo africano, as plantações de cacau, o ouro do Brasil, os recursos mineiros de África e, por fim, as ajudas comunitárias.
  
Séculos de evolução estimulada por situações de proxenetismo económico criou uma classe que tem mais aptidões para serem xulos do que empresários empreendedores, aliás, a zona de Lisboa onde se situa o nosso centro empresarial e financeiro em vez de ser no Marquês de Pombal, deveria situa-se mais para os lados do Intendente.
  
Esgotados todos os recursos os ideólogos dos nossos predadores descobriram um novo recurso por explorar, a classe média, é como na savana as manadas de gnus dessem lugar às zebras, mais pesadas, com  mais carne  e fáceis de caçar. Com os pobres a parecerem-se com gnus escanzelados o nosso Gaspar não resistiu a caçar as zebras reluzentes, de um dia para o outro a miséria estatal deu lugar à fartura, deixou de ser urgente renegociar as PPP, as rendas das energias renováveis deixaram de ser excessivas, os institutos são indispensáveis e seria uma injustiça mexer nas instituições privadas. Até já se falava em reduzir impostos e o Gaspar já não gozava com o sôr Álvaro por não haver medidas para promover o crescimento.
  
Os predadores não escondem a felicidade, nunca tiveram presas tão fáceis, nem é preciso disparar, batalhes assobiar e entram em fila para o matadouro. De repente os nossos predadores tiveram a oportunidade de voltar a engordar, até elogiavam o comportamento das presas pois nunca foi tão fácil caçar, quem iria imaginar que um dia poderiam pagar menos de trezentos euros a um enfermeiro? Ainda por cima há uma manada de classe média a perder de vista, à frente e mais fácil de caçar vem a Função Pública, mais atrás segue a do sector privado.
  
O problema é que nesta selva em que o país está transformado o darwinismo também pode conduzir a mudanças de comportamento, nas savanas os búfalos, a mais fácil e apetecível das presas dos leões aprendeu a defender, aprenderam que se actuarem como manada podem não só defender-se como eliminar o predador, de presas passam a caçadores, perseguem os leões e eliminam as suas ninhadas. Às consequências previsíveis com recurso às equações diferenciais que permitem prever que um dia este recurso será escasso e os predadores sofrerão as consequências dos seus excessos de proxenetismo junta-se a evolução das espécies e as manadas de zebras mansas poderão aprender que juntas podem eliminar os predadores ao coice.
  
Quem pensa que na savana tudo é ciclico e eterno pode enganar-se as presas podem transformar-se em caçadores e os predadores que julgavam ter recursos ilimitados para enriquecer poderão ter que se atirar ao Tejo e nadar até à ditadura mais próxima. As relações sociais não se aplicam apenas com equações diferenciais e estas poderão conduzir a uma revolução.
 
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