quarta-feira, outubro 07, 2015

Resultados eleitorais e hipocrisia

A direita ganhou as eleições mas perdeu mais de 700 mil votos, o CDS é um grande partido vitorioso, mas nos Madeira, onde concorreu em listas separadas passou de 13,67% em 2011 para 6,2% em 2015, dirão que este resultado desastroso se deve à saída de cena do tenebroso Alberto Jardim, o seu abono de família eleitoral, mas nos Açores o resultado foi ainda mais desastroso, o CDS passou de 12,7% para 3,9%. O PCP canta vitória porque ganhou votos passou de 441.147 votos em 2011 para uns assombrosos 444.907, isto é, graças às suas gloriosas lutas de rua e à sua maioria absoluta das calçadas conseguiu 3.760 eleitores, isso tudo descontando os filhos dos seus 50.000 militantes, pioneiros que teráo chegado à maioridade.
  
Para o esquentador luxemburguês a perda da maioria absoluta da direita e de 743.271 foi uma grande vitória. Ou será que o senhor Junkers estava considerando os votos do PS e até os do BE, agora que o Syrisa também é um defensor da austeridade? Parece que a unanimidade em relação à escolha do derrotado está no PS, o coitado do António Costa que teve mais 175.694.
  
Se a avaliação dos resultados diz muito sobre a hipocrisia que grassa neste país o que dizer das causas? O Expresso encontra dez causas, os Seguristas dizem que a causa é o Costa, todos encontram defeitos no pobre do António Costa, desde o momento humorístico do sermão aos chineses à cor das gravatas. O caso Sócrates está sempre presente e a culpa é mais uma vez do Costa, umas vezes por ter nascido, outras por que foi a Évora.
  
De Quantos votos precisava António Costa para ganhar? Talvez uns cerca de 200 mil. 
  
Avaliemos agora qual o impacto do caso Sócrates nas eleições, principalmente nos indecisos que optaram pela direita ou nos que preferindo um governo que só poderia ser do PS optaram pelo BE. Ter-se-ão apaixonado pelo brilhantismo da Catarina, pela piada das Mariana Mortágua ao Zainal Bava? A crer nos nossos comentadores a direita nada tem que agradecer à filha do antigo director da PJ dos tempos do cavaquismo, ao Rosário ou ao Alexandre e muito menos ao trabalho dos jornalistas que durante meses calcorrearam o caminho entre o arquivo do processo e as redações dos jornais. Durante meses o país foi matraqueado com o tema, durante a campanha eleitoral alguns jornais fizeram questão de recordar o assunto todos os dias, uma televisão dedicou-lhe mesmo uma noite e no CMTV era tema de manhã, à tarde e à noite. Mas o processo não teve qualquer impacto, só prejudicou o PS porque Costa foi a Évora ver o Sócrates.
  
Quando António Costa esteve em Viseu, o título da notícia no Expresso online era que tudo tinha corrido mal, lendo a notícia percebia-se que tudo tinha acontecido o contrário. Esta foi a linha editorial do Expresso e de quase todos os jornais, já nem vale a pena falar do Observador, um jornal criado para apoiar Passos. A estratégia da direita era denegrir o PS e António Costa e elogiar o BE, o PSD não tinha esperança de ganhar votos ou de impedir a sua perda, limitou-se a promover o BE para que fosse o destino dos votos. E ganhou mesmo perdendo.
  
Costa falhou, Costa perdeu, mas os vencedores não foram apenas a Catarina Martins e o Passos Coelho graças a ela. A vitória da direita também foi da Procuradora-geral da República que não garantiu ao processo de Sócrates o nível de segredo que assegurou ao do Miguel Macedo, também foi do procurador Teixeira e do juiz Alexandre, bem como dos juízes e magistrados que colocaram os ódios corporativos acima da defesa da democracia, como se percebeu numa página do Facebook que ficou tristemente famosa, mas cuja investigação parece ter sido já abafada. A vitória da direita também foi do José Manuel Fernandes que com o seu Observador seguiu às riscas as instruções da direita, do Pinto Balsemão e da TVI que souberam agradecer o facto de Passos não ter permitido o nascimento de um quarto canal ou a privatização de um dos canais públicos, bem como do director de informação da RTP que fez o trabalho que lhe cabia fazer.

Devemos ser ingénuos, para os donos da comunicação social que sobreviveu à maior crise no mercado publicitário vendendo jogo ilegal em directo e evitaram mais um canal concorrente é mais importante o acesso dos cidadão à informação, para os magistrados a justiça está acima de tudo , para a Catarina Martins o objectivo é a revolução e um mundo próximo do paraíso e para os jornalistas o que conta é a verdade e só a verdade.
  
Não sejamos hipócritas nem foi só o António Costa que perdeu, nem o Passos e a Catarina ficam sozinhos na galeria dos vencedores, alias os vencedores poderiam muito bem aparecer na fotografia de braço dado pois foi assim que andaram durante a campanha eleitoral.