O país só tem soluções de médio e longo prazo para problemas de curto prazo e mesmo essas soluções esbarram na boa vida conquistada pelos grupos corporativos, o funcionalismo sente-se no direito de estar ao abrigo dos problemas enfrentados pelo comum dos cidadãos, os magistrados continuam mais preocupados em saber se a toga está bem engomada do que em melhorar a justiça, cada grupo corporativo defende os seus interesses, as elites da capital continuam a enriquecer com subsídios, avenças e cargos públicos.
Os políticos especializaram-se em ganhar votos de forma fácil, a esquerda conservadora insiste em que o paraíso está ao virar da esquina, a direita quer rigor orçamental ao mesmo tempo que todos os dias inventa excepções, desde a suspensão do código contributivo à defesa da orgia orçamental protagonizada pelo senhor dos trópicos, Sócrates sonha com o efeito multiplicador das grandes obras.
O governo enfrenta o dilema do lençol, se gasta mais para estimular a economia asfixia-a com o défice, se mesmo assim aumentar o crescimento consegue-o estimulando a procura interna e aumentando as importações por via dos grandes investimentos, isto é, o crescimento que apenas resultará em receitas fiscais daqui a algum tempo não só se traduz num aumento da défice público como também num aumento do endividamento externo. Os dois fenómenos associados traduzir-se-ão em dificuldades acrescidas no financiamento interno.
Depois de trintas anos de lazer os portugueses vão pagar a factura dessa combinação de romantismo com voto em políticas fáceis, terão de fazer de uma assentada as reformas que se recusaram a fazer durante três décadas, senão durante oito décadas. A verdade é que temos um país atrasado com excelentes auto-estradas e acesso a banda larga, um país cujas empresas foram maltratadas em nome de populismos políticos de direita e de esquerda, que sentem grandes dificuldades em enfrentar a concorrência nos mercados interno e externo.
Não vale a pena propor aos portugueses que sejam feitas reformas, como vimos os políticos estão mais interessados no voto fácil, desde o populista Manuel Alegre a Manuela Ferreira Leite todos são simpáticos com todos os que consigam mobilizar uma manifestação com mais de cem pessoas. O melhor é esperar que tudo desabe, talvez nessa ocasião seja possível discutir as soluções.