Os mais de quarenta mortos em consequência do desastre que atingiu a Madeira seria uma excelente oportunidade para o atacar, assacando-lhe as responsabilidades pelo sucedido, houve quem o fizesse ainda havia gente a morrer. Nesse mesmo sábado, ainda antes de se ter a noção da tragédia que a Madeira estava a viver, assisti na TVI24 a um programa onde se alertava para o risco de uma catástrofe se socorresse um muito provável sismo de grande magnitude em Lisboa. Dei comigo a imaginar quanto ganhariam os especialistas que opinava se lhes fossem encomendados dezenas de projectos para remodelação dos milhares de edifícios.
É sempre assim, sempre que ocorre uma catástrofe surge uma procissão de especialistas, políticos, representantes da “sociedade civil”, arautos da cidadania e ambientalistas a aproveitarem a oportunidade que lhes dá a comunicação social, é o momento para fazerem publicidade das suas aptidões, promoverem os seus negócios, ganharem notoriedade.
É evidente que as cidades e os cursos de água dão-se mal, são poucas as cidades do mundo atravessadas por cursos de água que não tenham tido essa experiência. Também é verdade que o mau ordenamento urbano pode potenciar o risco e ampliar os desastres. Mas também é verdade que o que choveu em poucas horas na Madeira foi uma brutalidade, muito provavelmente mesmo que o Funchal não existisse aquelas ribeiras teriam transbordado e, muito provavelmente, mudado o seu curso.
Apesar de não ter qualquer consideração pela pandilha que governa a Madeira não alinho nesta busca nacional de culpados, não concordo com esta mania nacional de que para tudo tem de haver culpados, que todos os desastres deveriam ter sido prevenidos e que teria sido sempre possível evitar o desastre. Quantos dos que agora defendem o Alberto são indiferentes ao risco de um aeroporto dentro da cidade? Quantos dos que agora vão defender o Alberto exigiram a condenação de culpados, nem que fosse os culpados “de serviço”, pela queda da ponte de Entre-os-Rios.
A verdade é que há acidentes, há desastres naturais e, não raras vezes há falhas humanas, mas será possível prever e prevenir tudo, impedir que em nenhuma cirurgia ocorre um erro, que todas as pontes estejam em perfeitas condições e sejam capazes de resistir a todas as catástrofes, que todos os cursos de água sejam capazes de suportar caudais dez vezes superiores aos habituais? Será possível ter dinheiro, capacidade de previsão e processos de decisão política adequados para termos a certeza de que ninguém morreria em Lisboa se ocorresse um grande sismo, de que seria impossível um avião cair em Lisboa, de que todas as pontes e barragens resistiriam a todas a cheias por mais violentas que fossem, que todas a falésias da costa resistem aos mais fortes temporais, que as praias mais vulneráveis não perdem areia com os temporais de inverno?
É por isso que não alinho nesta caça às bruxas, a hora é de ajudar a Madeira, mesmo sabendo que os governantes locais não saberão agradecer a generosidade do país e que mais tarde ou mais cedo o Alberto João virá com as ofensas do costume e ainda conclui que foi a Madeira é uma colónia e que lhe devemos dinheiro. A hora é de ajudar os madeirenses, mesmo sabendo que votam no Alberto João e muitos deles estejam convencidos de que os do Continente são uns malandros.