sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Um agradecimento às agências de rating


Dantes tínhamos o FMI que de vez em quando nos puxava as orelhas, os governo armavam-se em simpáticos, metiam a economia em sarilhos e mais tarde ou mais cedo vinha uma missão do FMI e dizia-nos que ou tínhamos juízo ou passaríamos a andar de alpargatas. Os governos entravam na linha, os sindicatos ficavam mais comedidos, O José Mário Branco animava a extrema-esquerda (hoje esquerda moderna e fiel apoiante do mesmo Manuel Alegre que nesse tempo estava ao lado de Soares e de Constâncio) e editava um disco com o título “FMI”, o povo lá percebia que era mesmo água que chovia e não ouro.

Só que com a entrada no Euro passou a haver algum cuidado, as contas públicas ou entraram na linha ou passaram a ser bem aldrabadas, a dívida externa passou a ser em euros pelo que nos deixámos de preocupar com a necessidade de arranjar dólares, a balança de transacções correntes deixou de ser problema.

Mal surgiu a oportunidade de escapar à rigidez das regras do Pacto de Estabilidade foi o que se viu, o pior ano da economia mundial nos últimos cinquenta anos foi para muitos portugueses um excelente ano, ao salários reais aumentaram como não se via há muito tempo, choveram subsídios e ajudas estatais, o Estado resolveu o problema de todos os que lhes bateram à porta, ficaram de fora os desempregados e os clientes do BPP. Houve dinheiro para tudo e ainda sobrou, a crise foi um excelente argumento para que os partidos se digladiassem para se ver qual era o que prometia mais dinheiro e menos impostos.

O resultado foi o que se viu, o défice disparou para quase 10%, o desemprego não foi travado, as empresas não tiraram grande partido das ajudas e os bancos não deixaram de ser mais restritivos na concessão de crédito ou de aproveitar a oportunidade para cobrar mais juros e comissões. Se não fossem as agências de rating governo e oposição concluiriam que era necessário intervir mais, conceder mais ajudas às empresas, aumentar os subsídios para tudo e para todos, os mesmos que agora se dizem preocupados com o défice voltariam a exigir descidas de impostos o que, aliás, alguns continuam a propor.

Mas tivemos azar, o FMI já não nos chateia, os relatórios da OCDE só são lidos pelos economistas mas apareceram as empresas os desmancha prazeres das empresas de rating e eis que caímos de novo na realidade. Ainda por cima dantes assinávamos um acordo com o FMI e tudo ficava esclarecido para dois ou três anos, agora andamos a roer as unhas ansiosos por saber como a alta finança nos olha como credores.

Só não entendo a admiração de alguns responsáveis políticos, aquilo que está a suceder ao país no mercado financeiro internacional é o que sucede a qualquer cidadão ou empresa portuguesa que entra num banco para pedir um financiamento bancário, se não oferece garantias de que o vai pagar sujeita-se a taxas de juro mais elevadas senão mesmo a sair sem o crédito solicitado.

O que as empresas de rating estão a fazer mais não é do que aquilo que qualquer chefe de uma agência bancária faz todos os dias. Nenhum chefe de uma agência concede um crédito a alguém sem emprego, sem património e viciado no jogo, da mesma forma um casal desavindo ou mesmo uma “união de facto” não é grande ajuda no caso de ser solicitado um crédito à habitação. Ora, se toda a gente sabe que a oposição aprovou o orçamento na generalidade só para inglês ver e que na primeira oportunidade começam as disputas para ver quem consegue ser mais simpático aumentado a despesa, é natural que a finança internacional tenha tanta confiança no país como o chefe da agência bancária terá num casal que lhe vai pedir um crédito à habitação e entra no banco à estalada.

Ainda bem que as agências de rating fizeram o que tinham a fazer, desconfiar de um país onde os políticos só têm imaginação para aumentar a despesa pública, não ousando lançar uma crise política se daí resultarem sinais positivos em meras sondagens eleitorais. Quem confia num país onde o braço direito do Presidente anda a conspirar contra o primeiro-ministro, o maior partido da oposição é liderado por Manuela Ferreira Leite, o ministro das Finanças não sabe a quantas anda o défice e onde 18% dos eleitores acham que o problema se resolve com um Hugo Chavez com uma ditadura do proletariado e o candidato de um partido social-democrata se apresenta aos eleitores apoiado e empurrado pela extrema-esquerda.

Se por cá ninguém tem juízo resta-nos agradecer às agências de rating para que se ponha fim ao ambiente de PREC criado por uma classe política que parece andar com os copos.