quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Painel de azulejos na Av. de Berna, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Carolyn Kaster/Associated Press]

«FAINTING SPELL: Comrades helped a military honor guard soldier who fainted while standing at attention during the funeral of Rep. John Murtha (D., Pa.) in Johnstown, Pa., Tuesday. Mr. Murtha died Feb. 8 at the age of 77 after complications from gallbladder surgery.» [The Wall Street Journal]

JUMENTO DO DIA

Mário Crespo, pretensa vítima de Sócrates

Mário Crespo foi dar espectáculo para a Assembleia da República mostrando uma t-shirt com uma tirada humorística e distribuindo um artigo que supostamente não fou publicado, o que não é verdade pois publicou-o num site do PSD e foi mais lido do que teria sido se a redacção do 'Jornal de Notícias' se tivesse disposto a alinhar nos seus métodos jornalísticos.

«O jornalista Mário Crespo distribuiu hoje aos deputados da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República fotocópias de uma crónica que não pôde publicar, por não ter onde escrever, disse o próprio.

"É uma descrição da conversa que levou a um acto de censura no século XXI", afirmou o jornalista da SIC, enquanto distribuía as cópias aos deputados presentes na sala.» [Diário de Notícias]

A ANEDOTA DO DIA

Antes de mais, uma declaração de interesses: participei no SIMplex desde o seu nascimento, recebi todos os mails trocados na mailing list do blogue, coloquei lá posts sempre que me deu na real gana, participei numas jantaradas de que tenho saudades, festejei o resultado, privei com os perigosos "assessores" pagos pelo erário público, é bem provável que tenha usado meios públicos, quanto mais não seja usei o Metro para chegar ao local onde está o computador e voltaria a fazer tudo o que fiz, o que não é muito diferente do que estou a fazer e tenciono continuar. É verdade se por conta de tudo isto me tivessem oferecido uns fardos de palha ter-lhes-ia chamado um figo, dariam muito jeito em tempos de crise, mas para azar não fui prendado com tal benesse. O que nunca aceitaria era uma única palha a troco de trair quem comigo partilhou a sua intimidade, nem que fosse o meu maior inimigo.

O pior dos inimigos não é o "pide" ou mesmo o "bufo", é o traidor, é aquele que num momento de medo decide entregar aqueles que nele confiaram aos seus adversários, aquele que tenha obter ganhos traindo os seus, aquele que segundo a Bíblia recebeu os trinta dinheiros. Esta notícia não tem nada de novo, há algum tempo que um dos participantes no SIMplex assumiu o estatuto de "arrependido" e fazia ofertas públicas de divulgação de mails que entretanto tinha mantido com outros colaboradores do SIMplex.

Esta notícia, como muitas outras que vamos ouvindo, não resultou de qualquer jornalismo de investigação como sugere o Correio da Manhã, foi alimentada por um acto deplorável, próprio de alguém que fez uma tatuagem na testa dizendo "vende-se". Vendeu-se e para obter lucros adicionais vendeu também aqueles que nele confiaram. O problema desta gente é que estas tatuagens ficam para uma vida inteira, um traidor será sempre um traidor.

EU VOTAREI FERNANDO NOBRE

Queriam alguém que seja um bom exemplo de cidadania? Queriam um candidato que não herdasse os vícios da velha classe política? Queriam alguém que nunca pediu nada em troca do muito que deu à sociedade? Esse alguém é claramente Fernando Nobre.

O país já não vai ter que escolher entre dois políticos que estão convencidos de que o país e os portugueses está em dívida para com eles. Já há alguns dias que sugeri o nome de Fernando Nobre e a sondagem no canto superior direito demonstra que os visitantes do blogue consideram maioritariamente que a melhor alternativa ao defunto cavaquismo é Fernando Nobre.

Eu votarei Fernando Nobre caso se confirme a sua candidatura à Presidência da República.

AD NEUSEAM

Um comentário do visitante Bettencourt de Lima:

«A direita, ou melhor, aquilo a que se convencionou chamar a direita em Portugal, há muito que está convencida não conseguir chegar ao poder através da luta politica escorreita, ou seja pela força das suas ideias e convicções. Nem pela conjugação de votos CDS/PSD, muito menos através de um único partido, no caso, o PSD.

Dispondo de um vasto conjunto de meios de informação disponíveis, recheados de jornalistas cuja ascensão na carreira depende da boa vontade dos detentores destes grupos, para não referir o vasto conjunto de precários, tem recorrido a campanhas sistemáticas de manipulação da opinião pública visando arredar do poder aqueles que se oponham à histórica subjugação do Estado aos seus interesses. O canal público de televisão não escapa a esta influência, pois está controlado por poucos jornalistas, que, seja por razões familiares, de proximidade partidária ou para escaparem à acusação de falta de «isenção», transformaram-se em câmara de eco da corrente dominante. Usam a conhecida técnica de acusarem o adversário ou inimigo político daquilo que eles próprios promovem. Com esta técnica, arrasaram Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso e, desde 2005, ensaiam o mesmo com o PM. Com um sucesso muito relativo no segundo caso, pois apesar de tudo as sondagens não lhes são favoráveis. Mas insistem através da exploração ad nauseam do método. As audições na AR sobre a liberdade de imprensa são um pretexto para manter a pressão.

Todavia, a sua estratégia está eivada de um erro de análise grave. Em democracia, os representantes do povo são eleitos através do voto e não estão sujeitos ao plebiscito de jornalistas que, na maior parte das vezes, não conseguem libertar-se dos interesses dos respectivos patrões por mais que o apregoem. Para mudar de governo, no caso em apreço, existem os seguintes mecanismos: moção de censura, moção de confiança e dissolução do Parlamento pelo PR. Sabe por que a primeira e terceira não são utilizadas? Porque têm medo de o actual PM merecer novamente a confiança dos portugueses.

No recato da mesa de voto, a população decide com sentimentos, percepções e simpatias que não são totalmente controláveis. Um dos «problemas» de um regime democrático.

Quem percorre os jornais na net vê como são apreciados os poucos jornalistas que lutam para manter a decência.»

E AGORA MANUEL ALEGRE/FRANCISCO LOUÇÃ

Com a anunciada candidatura de Fernando Nobre o pré-candidato do Bloco de Esquerda corre um sério risco de ser humilhado nas presidenciais, fazendo recordar a segunda candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho, os argumentos que Alegre usou na primeira candidatura jogam agora a favor de Fernando Nobre, um homem que deu mais do que cobrou ao país, o contrário do que sucede com o poeta.

Francisco Louçã que usou Alegre numa manobra destinada a dividir o PS e apropriar-se dos futuros louros da candidatura corre agora o risco de ser derrotado e, ainda por cima, ver o seu eleitorado e uma boa parte dos militantes do BE votar Fernando Nobre.

Enfim, com ferros se mata, com ferros se morre.

VOLTANDO À GRÉCIA FRIA

«Dizem-me que o Tutankamon morreu de paludismo e uma doença dos ossos. Mas o faraó foi ontem, 3000 anos, que aprendemos com ele? É ramo demasiado próximo, temos é de aprender com as raízes. Talvez não valha a pena chegar a Lucy, esqueleto de 3 milhões de anos. Ela ainda não era nós, mas o filho começou a sê-lo, o homo erectus, lá, à direita do Rift etíope. É engraçado, os nossos distantes antepassados que ficaram à esquerda, na África com árvores e água, continuaram macacos. Os das terras secas etíopes, os que tiveram de fazer o sacrifício de se erguer e de usar a cabeça, ficaram erectus e aumentaram o crânio. Eis o homo ergaster, cuja melhor tradução é homem trabalhador, o que faz artefactos. Foi o primeiro homem a sair de África, para a Ásia e Europa, terras mais temperadas. É engraçado, também não descendemos directamente deles, dos que foram para as facilidades. O homo sapiens - esse, sim, já nós - é filho do homo ergaster que ficou nas dificuldades etíopes e aumentou mais o crânio. Quando o sapiens resolve viajar, vinga, não desaparece como o ergaster, que se deixou levar pelas facilidades. Esta é uma repetição da minha crónica de ontem, em que perguntava: por que razão o alemão Walter, de 67 anos, paga com o seu trabalho a aposentação do grego Konstantinos, de 61?» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

UMA BOA NOTÍCIA

«O fundador e líder da Assistência Médica Internacional (AMI), o médico Fernando Nobre, vai candidatar-se à Presidência da República. A candidatura vai ser apresentada na sexta-feira, no Padrão dos Descobrimentos, às 20h00.» [Público]

Parecer:

Já tenho em quem votar.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Apoie-se a candidatura.»

MAS QUE GRANDE QUEDA!

«As escutas do processo ‘Face Oculta’ que envolvem o primeiro-ministro num alegado plano de controlo da comunicação social estão a penalizar a imagem de José Sócrates perante o eleitorado.

Segundo a sondagem CM/Aximage, realizada no dia 13 de Fevereiro, após a publicação das escutas no jornal ‘Sol’, José Sócrates continua a liderar a intenção de voto dos portugueses, mas sofreu uma queda de 1,4%» [Correio da Manhã]

Parecer:

A verdade é que os portugueses têm mais com que se preocupar.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se pelas próximas eleições.»

CRESPO DEIXA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA ENCRESPADA

«O chefe da Casa Civil da Presidência da República divulgou hoje, quarta-feira, a carta que enviou ao director da SIC, onde assegura que as acusações de Mário Crespo de que Belém transmitia notícias inverídicas são "absolutamente falsas".

Num esclarecimento do Chefe da Casa Civil do Presidente da República divulgado no 'site' de Belém, o chefe da Casa Civil refere que decidiu tornar pública a carta que enviou ao Director de Informação da SIC "desmentindo afirmações feitas por um jornalista" depois de ter tomado conhecimento de que o seu nome foi hoje referido nas audições em curso na Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura a propósito da missiva enviada a 8 de janeiro de 2009.

Na carta, José Manuel Nunes Liberato recorda as afirmações de Mário Crespo na edição do dia anterior do programa "Nós por Cá", quando o jornalista falou sobre o relacionamento da Presidência da República com a comunicação social referindo-se a uma "prática que tem algo de crónico, algo de preocupante". » [Jornal de Notícias]

Parecer:

Pois, quando se atira caca para a ventoinha toca a todos.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Assista-se ao espectáculo triste desde a primeira linha.»

NO 'JUGULAR'

O post "A ética do bufo":

«Parece "que um dos membros do Simplex mostrou ao Correio da Manhã documentos enviados ao longo de meses por João Galamba". Entretanto, dando uma volta pela blogosfera — ao calhas — verifico que, por exemplo, Carlos Santos, Professor de Economia e Analista de Política Internacional — assim se anuncia—, diz num dos seus blogues que por uma questão de "ética pessoal" não comenta este texto de Eduardo Dâmaso (vou evitar fazer piadas dirigidas ao nome do senhor e nem sequer farei qualquer alusão ao facto de ser director-adjunto de um jornal e de esse jornal ser o Correio da Manhã). ...)

Voltando à vaca fria, é igualmente de espantar a forma como se gera uma notícia. Há pois uma mistura de pinguim — por certo um gajo sem qualquer resquício de "ética pessoal", ao contrário do professor atrás citado — que revela as entranhas de um blogue. Mostra os mails que se trocaram, as estratégias que se montaram. A razão só a figurinha com boca de megafone a poderá dar. Esperava uma gratificação e não lha deram? Queria ser ministro, secretário de estado? Queria ser assessor, tu queres ver? Não andou lá por crença mas à espera de recompensa?

Por certo, teria muito — o naco de gente — a aprender com Carlos Santos, ético pessoal, analista e professor. Esse ensinar-lhe-ia que ética pessoal é reserva sim, mas não reserva mental.
Lido o texto — maravilhosamente romanceado —, e depois de todos aqueles factos e contrafactos, deparo-me com as colunas superiores, destacadas a vermelho. Por uma delas, qual não é o meu espanto, verifico que a folia continua. Sob o título “Blogues Depois do Simplex” elucida-se: “Os mesmos protagonistas do Simplex criaram outros blogues, onde os conteúdos são também muito favoráveis ao Governo. Entre eles, o País Relativo, Valor das Ideias e a Regra do Jogo”.

Vem-me novamente à cabeça a notícia principal, onde se diz que “O blogue Simplex criado em Junho de 2009 para apoiar a candidatura de José Sócrates a primeiro-ministro foi alimentado por meios públicos a partir do Governo”.

Recordo(-me) que o Valor das Ideias é da autoria do Carlos Santos e que a Regra do Jogo foi um blogue fundado, logo após as eleições, pelo mesmo ético pessoal, professor e analista. Neste ponto, só me posso solidarizar com o Carlos Santos e esperar que encontre depressa o misto de bufo e bufão que andou a despejar textos e mails privados pelos jornais. Se me acontecesse assim algo a mim, eu não gostaria. E garanto que a coisa não ficaria pelo papel de um jornal.»

NO "LÉXICO FAMILIAR"

O post "Escândalo: o governo faz política

«Anda para aí uma grande indignação, baseada nesta investigação jornalística que consumiu o tempo de três jornalistas, que tiveram de ler mails de uma mailing list (de que aliás eu fazia, faço, parte) que lhes foi devidamente entregue por um sujeito. No fundo, a indignação é um retrato fiel do país. Anda tudo indignado porque, veja-se lá, assessores do governo faziam política. Ou seja, passavam argumentários com informação pública sobre a acção governamental para uma mailing list de que faziam parte bloggers e candidatos a deputados. Tudo durante a campanha eleitoral. Mas onde é que já se viu tal coisa? O que se espera de assessores governamentais é que façam continhas, assinem informações e retirem as mangas de alpaca à hora de regressarem a casa. Política? a minha política é o trabalho e até acho que a política devia ser criminalizada. Pois o meu trabalho é a política e o que me parece que faz falta é exactamente que o Governo faça mais política, que informe mais e que produza mais argumentos, desde logo convincentes. Não é preciso estar muito atento para se perceber que é isso que falta e não o contrário. Pelo meio, fico também com uma certeza: a blogosfera pode revelar-se particularmente útil - representa um meio eficaz para os perturbados mentais fazerem terapia ocupacional e expressarem as suas frustrações. Mesmo se, pelo caminho, violarem correspondência. »

NO "DA LITERATURA"

O post "A Central":

«Nas últimas legislativas, militantes e independentes próximos de vários partidos dinamizaram blogues de apoio. Fiquemos pelos que foram criados para o efeito, extinguindo-se a seguir às eleições: SIMplex, pró-PS, Jamais, pró PSD, e Rua Direita, pró-CDS/PP. Um propósito legítimo, transparente, que não escandalizou ninguém. Colaborei com muito gosto no primeiro. Os textos estão aí, não mudo uma vírgula do que escrevi.

Isto dito, vamos ao que interessa. Hoje, Eduardo Dâmaso (director-adjunto do jornal, que dedica o editorial ao tema), Tânia Laranjo e Manuela Teixeira assinam no Correio da Manhã duas páginas de insinuações sobre uma hipotética Central do governo, alimentada por assessores de vários ministérios e, nessa medida, «paga com dinheiros públicos». Ou seja, o CM acusa o PS e o governo de fazerem política, actividades, julgava eu, para as quais estão mandatados. De caminho, transcreve o conteúdo de um e-mail privado, trocado entre dois colaboradores do SIMplex. Ao arrepio do que parece, o alvo da catilinária é mais um actual deputado do PS do que um controvertido blogger que tanto inquieta os seus pares de direita.

Como chegamos ao vale tudo, nada disto admira. O inquietante é que o ónus da prova esteja a ser exigido aos acusados e não (como num Estado de direito) aos acusadores.»

PAVEL KISELEV

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