quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Panteão Nacional, Lisboa

FOTOS DOS VISIOTANTES D'O JUMENTO

Fonte de São Simão, Vila Fresca de Azeitão (foto de A. Cabral)

IMAGEM DO DIA

[Gregorio Cunha/Agence France-Presse/Getty Images]

«MUDSLIDE DEATH: Rescue workers removed a body from a car in Funchal, Madeira Island, Portugal, Monday. Authorities confirm flash foods killed at least 42 people; crews are searching for 32 missing people.» [The Wall Street Journal]

JUMENTO DO DIA

António Arnaldo Mesquita e Paula Torres de Carvalho, jornalistas do 'Público'

Ao que parece o MP não fará qualquer acusação a José Sócrates, isto é, o primeiro-ministro é inocente em todas as acusações que lhe foram feitas. No plano jurídico até seria considerado inocente se fosse acusado, condenado e na sequência de um recurso um tribunal superior assim o decidisse.

Mas na linguagem sacana portuguesa há uma forma de insinuar a culpa de um inocente, é dizer que não foi acusado por falta de provas, uma expressão muito querida dos nossos magistrados do Ministério Público, depois de enxovalharem um qualquer cidadão na praça pública usam esta linguagem para deixarem no ar que o arguido era culpado mas foi esperto.

Hoje toda a comunicação social deu a notícia da inocência de Sócrates no caso Freeport, mas só o 'Público' recorreu à forma sacana e o título da notícia era "MP sem provas para acusar Sócrates no caso Freeport". Isto é, deixa-se no ar que Sócrates pode não ser inocente, só que o MP não encontrou provas de culpa.

Compreende-se a sacanice cobarde, o blogue do Belmiro de Azevedo foi um dos jornais que mais se destacou na utilização do caso Freeport na tentativa de destruir politicamente José Sócrates.
Começa a ser tempo de quem não concilia com este jornalismo de esgoto deixar de comprar jornais como o 'Público'.

PRIMEIRO DIA SEM "FACE OCULTA"

O processo Casa Pia arrasta-se nos tribunais, as conclusões do Caso Freeport foram para o congelador, o caso BPN seguiu para o matadouro onde será feito o sacrifício de Oliveira e Costa a bem da nação cavaquista, o caso Face Oculta já deu o que tinha a dar. Onde nascerá o próximo processo, em Coimbra, em Aveiro, em que departamento do MP? Aceitam-se apostas!

Ainda não sei quando estalará o próximo processo para derrubar ou obrigar Sócrates a resignar, mas aposto que vai rebentar, assim como aposto que vamos ouvir Jerónimo de Sousa exigir que as investigações devem ir até às últimas consequências, o senhor Palma exigir meios para que as investigações não sejam bloqueadas, a Felícia Cabrita a beneficiar da gentileza do garganta funda do Ministério Público, um juiz de instrução disposto a prender alguém num local público, a direita a pressionar o Procurador-Geral, o Presidente da República a dizer que está preocupado, o engenheiro Cravinho a propor mais uma medida legislativa de combate à corrupção, o Fernando Lima a beber mais uns cafés na Avenida de Roma.

Isto começa a ficar um pouco monótono.

PIDE, JORNALISMO E MINISTÉRIO PÚBLICO

No tempo da PIDE ninguém podia estar descansado e mesmo que os bufos não conseguissem obter informação a polícia política tentava por outras formas destruir as personalidades incómodas para o regime. Quando conseguia inventar matéria levava os opositores a um tribunal plenário onde um juiz estava a mando do agente de serviço e os "réus" era condenados sem direito a qualquer defesa.

No tempo da PIDE os jornalistas corriam riscos, quando ultrapassavam os limites impostos pelo regime eram perseguidos, alguns eram mesmo presos, eram despedidos. Os jornais que se opunham ao regime eram perseguidos e mesmo encerrados.

O que vemos agora?

O Ministério Público promove processos sucessivos contra um governante que é odiado pelas corporações da justiça, até os sindicatos dos magistrados acicatam o PGR, não perdem uma oportunidade para exigir mais investigações, para justificar tudo o que se passa. Tal como no tempo da PIDE é óbvio que há um objectivo claro de forçar a demissão do primeiro-ministro, até já quem tenha a "generosidade" de sugerir ao PS que substitua o primeiro-ministro, percebendo-se que se tal sucedesse fazia-se luz na face oculta de muitos processos.

Os jornalistas que se queixam de falta de liberdade usam noticiários para campanhas pessoais, são promovidos, recebem milhões de euros para mudarem de emprego. Um dois jornais, o semanário SOL, até está a resolver os seus problemas financeiros graças à perseguição que faz ao primeiro-ministro, com a ajuda de gente oculta que lhe faz chegar os processos judiciais.

Digamos que os juízes dos tribunais plenários decidiram fazer os julgamentos na praça pública por falta de instalações e que com jornalistas destes deixaram de ser necessários os esquemas difamatórios promovidos pela PIDE. O mais divertido é que estes canalhas fascistas ainda têm o descaramento de dizerem que estão a defender a democracia e, como se isso fosse pouco, ainda contam com o apoio do PCP, do BE e do PSD.

QUE MERDA DE JORNALISMO

Os mesmos jornalistas que andavam excitados com o golpe Face Oculta andam agora a esquadrinhar o Funchal na esperança de serem os primeiros a noticiar mais um morto.

A BUFARIA

«O caso Mário Crespo não é um problema de liberdade de informação, mas (mais) um sintoma da degradação a que chegou a comunicação social.

Uma conversa privada do primeiro-ministro, num restaurante, sobre um jornalista que há anos o critica publicamente, é prontamente denunciada ao visado que logo tenta criar um escândalo político.

Sublinhe-se que ambos são figuras públicas com direito a terem, uma da outra, as opiniões que entenderem. Apenas com um senão: nem José Sócrates poderá usar os seus poderes de primeiro-ministro para perseguir o jornalista Mário Crespo, nem este deverá usar os meios de que dispõe como jornalista para perseguir o primeiro-ministro. Porém, os jornalistas, em geral, julgam-se no direito de publicar as opiniões que quiserem (por mais ofensivas que sejam) sobre os governantes (mesmo violando as regras éticas do jornalismo), porque entendem que isso é direito de informar. Mas se os visados emitirem a mais leve opinião sobre esses jornalistas isso é um ataque à liberdade de informação.

O jornalismo português tem vindo a degradar-se por falta de referências éticas. Hoje, tudo vale para obter informações, incluindo o recurso a "bufos". Nos tempos do Estado Novo usava-se esse termo para designar as pessoas que davam informações à polícia política sem que ninguém desconfiasse delas. Geralmente eram até da confiança das vítimas. Faziam delação às escondidas, por dinheiro ou simplesmente para tramar os visados. Agora continua-se a denunciar pessoas a quem as possa tramar. Os "bufos" são os informadores privilegiados dessa nova polícia de costumes em que se transformaram certos órgãos de informação de Lisboa.

Vejamos alguns exemplos.

Há alguns anos, um político e professor universitário (Sousa Franco), por sinal meio surdo, conversava tranquilamente num restaurante. Numa mesa ao lado, uma jornalista (talvez disfarçada de costeleta de borrego) tomava notas da conversa, sem que os visados se apercebessem. Dias depois o teor da conversa era manchete num semanário de Lisboa.

Também há alguns anos, um professor do ensino secundário (Fernando Charrua), conversando com um colega no gabinete deste, emitiu sobre o primeiro-ministro uma daquelas opiniões que só se expressam em conversas privadas. Pois, logo o colega o foi denunciar aos superiores hierárquicos.

O mesmo aconteceu com um juiz conselheiro, que, numa conversa a dois com um colega, emitira o mesmo tipo de opinião sobre o Conselho Superior da Magistratura. Logo o colega o foi denunciar ao CSM. Mais recentemente, um magistrado do Ministério Público que, durante um almoço com dois colegas, opinara sobre um processo de que estes eram titulares foi de imediato denunciado por os ter "pressionado".

Hoje não se pode estar à vontade num restaurante, porque ao lado pode estar um "bufo" a ouvir a conversa para a ir relatar ao seu tablóide preferido. Até a factura da refeição pode ser útil para o mesmo fim. A privacidade deixou de ter qualquer respeito ou protecção.

Os meus rendimentos, constantes da minha declaração de IRS, foram obtidos ilicitamente nas finanças e andaram a ser oferecidos a alguns jornais de Lisboa até que um deles os publicou. Tudo para tentar desqualificar-me como advogado, mostrando que, supostamente, eu ganhava mais como jornalista.

A sordidez desse tipo de jornalismo traz-me à memória um episódio ocorrido há cerca de 20 anos em que se chegou ao ponto de tentar fazer uma notícia sobre uma consulta de ginecologia de uma dirigente política, que na altura desempenhava funções governamentais.
Tudo isso só é possível porque o jornalismo está em roda livre, sem qualquer regulação e a própria justiça, em vez de corrigir esses desvarios, coonesta-os e acaba por também recorrer a eles.

Por mim tomei já vários cuidados. Evito conversas em restaurantes, já não falo ao telefone e mesmo no meu escritório já tomei as devidas precauções. Perdi toda a confiança nas comunicações em Portugal porque a deriva fundamentalista e justiceira de muitos dos nossos magistrados mostra que qualquer pessoa pode estar sob escuta, incluindo as mais altas figuras do Estado.

Por isso, não falar ao telefone é hoje um gesto tão prudente como o era no tempo da ditadura. E mesmo como advogado, já retirei do meu escritório quaisquer elementos que possam ser usados contra alguns dos meus clientes, pois é normal em Portugal fazerem-se buscas a escritórios de advogados, com mandados em branco, ou seja, com ordem para apreender tudo o que possa ajudar a incriminar os seus constituintes. » [Jornal de Notícias]

Parecer:

Por Marinho e Pinto.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

EXCESSO INSUPORTÁVEL DE PALAVRAS INÚTEIS

«Nada há para dizer e, no entanto, ninguém pára de falar. Falou o Presidente. Falou o primeiro-ministro. Falou o líder do Governo Regional da Madeira. Falou o ministro. Falou o homem da Protecção Civil. Falou o comandante dos bombeiros. Falou o comentador profissional. E os jornalistas não se calam, horas e horas e horas a fio. Há demasiadas palavras inúteis na linguagem destes tempos que correm.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Pedro Tadeu.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se»

CONTRA FACTOS, A NARRATIVA

«Em Junho, da primeira vez que foi confrontado na AR com a possibilidade de negócio, alegou desconhecimento. A narrativa, devidamente baseada em escutas descontextualizadas, sugere-nos que Sócrates mentiu aos deputados. Vozes da "política de verdade" têm, aliás, alegado o mesmo. Somos levados a acreditar na imagem de um primeiro-ministro mentiroso. Tudo vai nesse sentido. Tanto mais que Sócrates tem revelado uma preocupação inusitada com o que a comunicação social diz de si, o que se traduzirá automaticamente num impulso controleiro de facto. Conclusão: Sócrates não só saberia do negócio como seria autor moral da sua concretização. E se não tiver sido assim?

A pergunta é tão insólita que ninguém está disposto a colocá-la. A tendência é de tal modo claustrofóbica que se surgirem factos que contrariem a narrativa, ninguém quererá saber da força dos factos. Contra factos, o que conta é a narrativa, ardilosamente construída.» [Diário Económico]

Parecer:

Por Pedro Adão e Silva.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

DÉCIMOS OUTRA VEZ

«O siteThe Daily Beast celebrou os Jogos de Vancôver com uma Olimpíada da preguiça. Escolheu 24 países ocidentais e aplicou-lhes critérios como calorias por dia; tempo no sofá e aversão a praticar desportos nas horas livres. Está aqui: http://bit.ly/bHJRG2.

O 1.º e 2.º lugar são previsíveis: os EUA e o Canadá. O 3.º é uma surpresa: a Bélgica. Pensando bem, até está certo. O mal é nosso: não estamos habituados a pensar na Bélgica. Como país então, é muito difícil. Em 4.º lugar vem um país em que deveríamos pensar mais: a Turquia. A Grã-Bretanha aparece só em 5.º. Então e Portugal?

Passa a Polónia que dá a ideia de ser tão trabalhadora; o México que se diria mais indolente; a França em oitavo e, espectacularmente à frente de Portugal em preguiça bruta, a Alemanha.
Nós ficámos em décimos, como tantas vezes. Menciona-se que a International Journal of Epidemiology, em 2003, consagrou Portugal como o país mais sedentário e preguiçoso da Europa. Bons tempos.

De que nos serve ficar à frente da Espanha, da Grécia e da Itália? É pouco consolo. Afinal, somos pouco menos trabalhadores e desportistas do que os dinamarqueses, que obtiveram o 11.º lugar. Os espanhóis, gregos e italianos bem disfarçam, mas a verdade é que são umas abelhinhas de actividade, a zumbir debaixo das sestas.

Há glória em ser o primeiro, segundo, terceiro ou último. Décimo é que não pode ser. Temos de repensar a nossa identidade. Mas não pode ser já. Temos de ter calma.» [Público]

Parecer:

Por Miguel Esteves Cardoso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.

RELVAS CRITICA RANGEL

«A ligação passada ao CDS pelo candidato à liderança do PSD Paulo Rangel leva um dos maiores apoiantes do seu adversário Passos Coelho, Miguel Relvas, a manifestar preocupação. Ao CM, declarou: "Não vejo mal em ter sido militante de outro partido. O que me preocupa é a tentativa de ocultar ou omitir. Não encontro razão para isso." Em causa estão declarações de Rangel nas últimas Europeias, em que não disse, preto no branco, que tinha sido militante centrista. » [Correio da Manhã]

Parecer:

Coitado do Rangel que nem é mentiroso, tem um problema grave de amnésia.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Marque-se uma consulta de neurologia para o petit Rangel»

PROCESSO FREEPORT "QUASE" NO FIM

«O despacho final do caso Freeport estará concluído em Março, mas até agora o Ministério Público continua sem ter provas que sustentem uma acusação ao primeiro-ministro (PM), noticia o Público. José Sócrates deverá assim ficar de fora da lista de acusados, resultante da investigação às suspeitas de corrupção, durante o processo de licenciamento do 'outlet' de Alcochete, construído numa área desafectada da Reserva Natural do Estuário do Tejo.

Este acto ocorreu numa altura em que Sócrates era ministro do Ambiente, do governo liderado por António Guterres. O nome do actual PM acabou por ser referido pelos representantes da Freeport no negócio em Portugal, em conversas filmadas no Reino Unido, posteriormente descobertas pela investigação paralela ao caso levada a cabo pelas autoridades britânicas, entretanto arquivada sem acusações formais.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Até parece que os investigadores do MP estão a retardar o mais possível as conclusões, depois de terem desistido de conseguir apanhar Sócrates devem ter perdido a pressa. Resta esperar que no relatório não apareça uma insinuação manhosa do género "não se conseguiram provar as suspeitas", algo parecido ao que fizeram em relação a Jorge Sampaio no caso das casas da CML.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se pelas conclusões do processo.»

DESTRUIÇÃO DAS ESCUTAS A SÓCRATES RESOLVIDA EM BEVE

«O procurador geral da República (PGR), Pinto Monteiro, garantiu hoje que a questão da destruição das escutas telefónicas do processo Face Oculta que captam conversas do primeiro ministro será resolvida "em breve". » [Diário de Notícias]

Parecer:

Nessa altura já foram publicadas no SOL.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se a merecida gargalhada.»

CRESPO CONFUNDE CENSURA COM VITIMIZAÇÃO

«O director do Jornal de Notícias garantiu hoje não ter cometido um acto censório ao optar pela não publicação de uma crónica do jornalista Mário Crespo e que não confunde "censura verdadeira com vitimização pessoal".

"Não houve nenhuma censura. Comecei a trabalhar ainda havia censura. Não confundo o que é censura verdadeira com actos de vitimização pessoal", afirmou José Leite Pereira durante uma audição na Comissão de Ética Sociedade e Cultura da Assembleia da República.» [Diário de Notícias]

Parecer:

O que o Crespo fez foi coscuvilhice bufa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se.»

RANGEL É ALDRABÃO

«"Nunca escondi a ligação ao CDS, apenas disse que não me recordava de me ter filiado", afirmou ao DN Paulo Rangel, a propósito da polémica sobre a sua ficha de inscrição no partido liderado por Paulo Portas. O candidato à presidência do PSD frisa que sempre admitiu ter participado no Conselho Consultivo dos centristas a convite de Portas.

Estas declarações de Rangel surgem na sequência da revelação da sua ficha de militante do CDS pelo Correio da Manhã. O eurodeputado social-democrata entrou no partido então liderado por Manuel Monteiro em 1996 e saiu três anos mais tarde. "Escrevi a carta de renúncia no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas romperam com o acordo para a Alternativa Democrática (AD)", esclarece. E enviou-a a 30 de Março de 1999, recorda agora com clareza o candidato a líder do PSD.» [Diário de Notícias]

Parecer:

É mais do que evidente que omitiu. O PSD vai ter um líder que não se lembra dos partidos onde esteve filiado? Será que daqui a três anos Rangel se lembrará de ter sido candidato a líder do PSD?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Meça-se o nariz ao petit Rangel.»

NORM MURRAY

WWF