sexta-feira, abril 27, 2007

Carmona & Companhia


Pouco mais há a dizer sobre o espectáculo triste a que assistimos na Câmara Municipal de Lisboa, o número dois de Santana não resistiu à tentação de aceder a número um de Marques Mendes que até o exibiu como vedeta de congresso. Arredado dos gabinetes ministeriais, com as autarquias mais importantes entregues a rebeldes, dissidentes e excomungados restou a Marques Mendes a autarquia da capital para estagiar como líder partidário e assegurar modo de vida aos inúteis que contou como incondicionais.

É mais do que evidente que o Carmona de hoje não passa de uma marioneta de Marques Mendes, nunca se ouviu falar de tanta intervenção de um líder partidário na gestão de uma autarquia, nada se passa na CML sem que a comunicação social noticie que Carmona foi à sede do PSD dar explicações ou receber instruções. Marques Mendes tem sido o verdadeiro presidente da autarquia, foi ele que escolheu os autarcas, os assessores e os gestores das empresas municipais, a relação que o PSD estabeleceu com a autarquia assemelha-se mais com a actuação de um partido de Estado do que com um partido democrático, basta comparar o espectáculo de Setúbal com o da capital para se perceber que entre o ortodoxo Jerónimo de Sousa e Marques Mendes poucas diferenças existem.

Mas seria bom que esta relação abusiva entre partidos e autarquias se limitasse a Lisboa, na verdade tem-se vindo a generalizar a muitas autarquias e a todos os partidos, a falta de rigor com que se gerem as autarquias, o envolvimento dos partidos com interesses locais e a ignorância de muitos eleitores para os quais basta foguetório para darem os autarcas por competentes estão a transformar muitas autarquias em grutas do Ali Babá.

Considerar Carmona Rodrigues como o mau da fita vais ser a solução fácil de Marques Mendes, o professor de engenharia que tem vindo a revelar-se um político ambicioso e desajeitado vai ser vítima da mesma cultura política de que foi beneficiários, afinal não passou de uma marioneta de que o líder do PSD se serviu para usar a autarquia da capital como centro de emprego e de negócios do partido.

Enterra-se Carmona Rodrigues e salva-se Marques Mendes, mas salva-se também um modelo de gestão política das autarquias que tem vindo a generalizar-se a todos os partidos, um modelo e que em vez de servirem os políticos servem-se de tudo quanto for órgão de poder que lhes permita o acesso à gestão de favores.

As autarquias que poderiam ser uma escola para os nossos políticos estão a transformar-se em centros de estágio da malandragem.