domingo, abril 22, 2007

O lado invisível do poder


Em democracia governa quem ganha as eleições, ganha as eleições quem tem votos e são os cidadãos que votam, portanto os governos representam os eleitores. Deveria ser assim mas não é verdade, os eleitores, mesmo os mais esclarecidos são influenciáveis, a generalidade dos opinion maker estão à venda pelo melhor preço, os jornais estão engajados politicamente, o poder económico financia os partidos que melhor os serve.

Se uma parte dos eleitores não são sensíveis a campanhas publicitárias (como a que Durão Barroso lançou antes das eleições que venceu e num momento em que se sabia que o PSD não tinha um tostão nos cofres) ou às inflexões do opinion makers a verdade é que estes estão longe de representar uma fracção do eleitorado suficiente para decidirem as eleições, o eleitorado fiel dos partidos não é suficiente para as decidir. É o eleitorado sensível à comunicação social que faz a diferença, decidindo quem governa.

A não ser em circunstâncias especiais como as que levaram Sócrates ao poder, quando as asneiras de Santana Lopes foram suficientes para anular os efeitos do processo Casa Pia e para inibir o poder económico de apostar nele, os bastidores do poder são decisivos para as escolhas de uma boa parte do eleitorado.

Porque motivo em Portugal há um eleitorado maioritariamente à esquerda e ao centro e a regra é ser a direita a governar, tendo o Partido Socialista chegado ao poder em situações de cansaço ou de incompetência da direita ou mesmo para tomar as medidas necessárias para salvar a economia, para depois a direita colher os frutos?

Em primeiro lugar, porque uma parte da esquerda ainda sonha com a versão leninista do Céu cristão tendo maior ódio por governos (traidores) do PS do que por governos de direita. Mas não são os eleitores destes partidos que decidem as eleições, são os eleitores que votam ao centro, são estes que decidem e são estes os mais sensíveis à opinião alheia. Se em Portugal os eleitores são maioritariamente à esquerda o poder económico e os jornais são um exclusivo da direita. Se fossem os jornais ou os empresários a votar nem valeria a pena a esquerda concorrer às eleições e o facto é que, em regra, há uma grande correlação entre as simpatias da comunicação social e os vencedores das eleições.

Neste capítulo algo parece estar a mudar, o que justifica o nervosismo de Marques Mendes que, adivinhando o que ia suceder na Media Capital, correu a propor a privatização da RTP, uma forma de assegurar que a perda da TVI seria compensada restabelecendo parcialmente a "normalidade". Lutas como as que se travaram na PT ou a que se está a travar no BPI não são indiferentes à gestão do poder, os homens fortes do BCP nada têm que ver os da La Caixa da Catalunha, a Opa do BCP ao BPI parece a reedição de uma batalha entre franquistas e anti-frnquistas muito anos depois de o caudilho ter morrido. Não é por acaso que Santo Silva, o homem do BPI, tenha assegurado que "no passarán".

E como se isto não bastasse o PSD pode ver secarem as suas fontes tradicionais de financiamento tradicionais, para além das fracturas resultantes de processos como a Opa de Belmiro sobre a PT, as guerras em torno da Ota, o lançamento de grandes obras públicas, ao mesmo tempo que s grandes autarquias que gere estão quase falidas, levam a que os grandes empreiteiros deixem de precisar da ajuda dos barões do PSD, os homem do Apito de Betão.

Algo está a mudar nos bastidores do poder, resta saber se estamos perante uma consequência ou se Sócrates está a revelar-se melhor do que a encomenda, revelando-se menos ingénuo do que os seus antecessores no PS que um a um foram caindo, Constâncio graças a uma manchete de O Jornal ou Ferro Rodrigues engolido pela conspiração da Casa Pia.