segunda-feira, abril 30, 2007

A Ota, a engenharia, a economia e a política


Ao contrário do que se tem feito crer o investimento num grande aeroporto internacional não é um problema de engenharia. À engenharia não cabe nem a decisão quanto à construção ou à escolha do local, dos engenheiros espera-se que encontrem as soluções de engenharia para que o aeroporto seja construído aqui ou acolá, cabe-lhes avaliar o locais onde o aeroporto pode ser construído e propor as soluções técnicas.

Em função da localização e da dimensão o novo aeroporto terá maiores ou menores custos, mas os custos e benefícios vão muito para além dos custos contabilísticos que qualquer engenheiro pode calcular. Os custos de um aeroporto não se medem apenas em sacos de cimento como os engenheiros defendem, nem em galos de Barcelos vendidos na Rua Augusta como Miguel Sousa Tavares quer fazer crer.
Encontradas as soluções técnicas, salvaguardadas as exigências ambientais e avaliados os custos/benefícios económicos a decisão de construir o aeroporto num determinado local, num determinado momento e com uma determinada dimensão é política, portanto cabe ao Governo assumir a responsabilidade pelas suas decisões.

Mas como os opositores à localização enveredaram pela estratégia da prova técnica, tentando “tratar o cão com o pêlo do próprio cão”, jogando no terreno preferido do Lic. Sócrates (que tem vindo a reduzir a democracia portuguesa a sessões de leitura de relatórios técnicos), os portugueses acabam por assistir à decisão de investir uma boa parte dos seus recursos sem que se realize qualquer debate sério.

O próprio Governo não diz mais nada senão que foi o PSD que decidiu tudo, isto é, ao atribuir ao PSD a responsabilidade pela localização e dimensão o PS está a dizer que não tem qualquer estratégia em termos de desenvolvimento económico, limita-se a adoptar aquela que era a estratégia do PSD. O Governo limita-se, de forma manhosa, a aproveitar a estupidez dos que entregaram o debate à engenharia para não promover o debate e o próprio ministro das Obras Públicas fala do aeroporto como se fosse construir uma casa lá na “terra”.

O PSD também não explica não explica o porquê da sua simpatia por Palmela, ainda que nos baste olhar para um mapa para se perceber que um aeroporto naquela zona dava um ‘jeitão’ a Belmiro de Azevedo e a outros empresários que cujos investimentos a sul do Sado seriam fortemente valorizados com um aeroporto internacional privativo.

Apesar de muito se ter discutido sobre a Ota não tem havido um debate sério, ao colocar-se uma decisão desta natureza no domínio da engenharia estão-se a discutir questões secundárias e a tomar uma decisão sem que seja dada uma única justificação, já que a cada grupo de interesses não faltam engenheiros disponíveis para defenderem as suas soluções.

Até ao momento nem Marques Mendes nos explicou porque prefere a margem sul, nem Sócrates se deu ao trabalho de justificar a sua opção pela Ota. Há demasiada engenharia, pouca economia e nenhuma política. Dantes a política era para os políticos, agora a política é para os engenheiros ou, para não excluir ninguém, para os licenciados em engenharia. Começa a haver engenharia a mais e democracia a menos.