sexta-feira, abril 13, 2007

A fantasia da convergência com a Europa


Político que se preze apregoa como grande objectivo a famosa convergência com a Europa, os que governam garantem essa convergência para breve, os que se opõem exigem-na para o dia seguinte. Só que a convergência não passa de uma fantasia nacional, ela só ocorreu quando a Europa mandou milhões suficientes para empolar o nosso crescimento económico, verificando-se também quando o nosso ciclo anda desencontrado com o dos parceiros europeus, o que, aliás, é a regra já que a economia portuguesa depende da europeia, reflectindo com algum desfasamento temporal o comportamento dos nossos parceiros. Se a economia europeia cresce afastamo-nos porque a retoma da economia portuguesa só sucede passado algum tempo, se a economia europeia arrefece aproximamo-nos pois só mais tarde a economia portuguesa reflecte esse comportamento, todavia, a médio prazo a diferença aumenta.

Com um ministro da Economia a promover Portugal com o argumento dos baixos salários nem faz sentido que Sócrates aborde o tema como o fez na entrevista dedicada ao seu canudo. Uma economia que cresce à custa de indústrias de baixo valor acrescentado nunca poderá aproximar-se de economias cujo crescimento assenta na valorização dos seus recursos humanos, pode ter-se essa ilusão durante um ou dois anos, para depois confrontamo-nos mais uma vez com a desilusão do costume.

Sejamos honestos com os portugueses, com o que temos e com o que somos essa convergência não passa de uma fantasia política, de uma mentira com que se enganam os eleitores e se justificam políticas de resultados duvidosos. Se estamos atrasados temos que crescer mais e melhor do que os outros, pelo que se impõe a pergunta: o que temos nós de melhor para que a economia portuguesa cresça mais do que as economias mais desenvolvidas da Europa promovendo a convergência?

Temos mão-de-obra menos qualificada, temos empresários menos inovadores, não temos recursos naturais significativos, não temos recursos energéticos e vendemos a energia muito mais cara, temos as telecomunicações mais caras, temos um Estado mais burocrático, temos um dos maiores índices de corrupção, temos uma das piores justiças, temos um dos Estados mais burocráticos e como se isso fosse pouco ainda temos os políticos mais oportunistas da Europa e arredores.

Para alcançarmos a convergência com as economias mais desenvolvidas da Europa teríamos que crescer mais e melhor do que essas economias e para isso não bastam comportamentos conjunturais da economia, teríamos que ser melhores em muita coisa que não somos. E para sermos melhores teríamos que valorizar o mais possível os portugueses e cada um deles teria que ser e querer ser melhor, não bastando mandar bolas à trave como sucedeu no jogo em que o Benfica defrontou o Espanhol de Barcelona.

Não é desestabilizando os funcionários públicos, promovendo investimentos que se limitam a aproveitar os baixos salários, nomeando dirigentes incompetentes na Administração Pública ou destruindo funcionários competentes que são saneados só por não serem adoradores dos primeiro-ministros, que se consegue a convergência seja com o que for.

A convergência será conseguida quando os portugueses a assumirem como objectivo pessoal e nacional e para que isso alguma vez sucede os governantes e os dirigentes da Administração pública terão que dar o exemplo desse empenho, o que há muito não sucede enquanto se pede mais trabalho e sacrifícios a uns aqueles que nos andam a apregoar a fantasia da convergência andam a tratar da sua própria convergência à custa do desenvolvimento do país.

A única convergência a que Portugal assistiu é a dos padrões de consumo e de enriquecimento dos mais ricos, dos políticos e de alguns dirigentes da Administração Pública, só que essa convergência não tem resultado do aumento da riqueza mas sim da injustiça gerada pelo oportunismo dos que usam o poder para se safarem à custa do país. À convergência dos mais ricos tem correspondido a divergência de todos os outros, muitas vezes abafada por supostas políticas sociais como o rendimento mínimo ou as pequenas benesses concedidas aos reformados.