segunda-feira, novembro 05, 2007

Diretores-gerais ou executores testamentários?



Um das características mais marcantes do modelo de gestão da nossa Administração Pública é o número elevado de dirigentes, designadamente de directores-gerais e subdirectores-gerais em “regime de pré-reforma”. Não me refiro a dirigentes que chegam o momento da aposentação em cargos de topo após um grande número de anos no seu desempenho, estão em causa dirigentes que são nomeados sabendo-se que dois ou três anos depois se vão aposentar. Se fosse feito um estudo da categoria dos nossos aposentados não me admiraria se o número de directores e subdirectores-gerais reformados fosse desproporcionalmente elevado.

O que se pode esperar de alguém que é nomeado sabendo que vai reformar-se dois anos depois?
Antes de mais, temos instituições pouco competitivas, gerida por dirigentes desfasados dos problemas, técnicas e métodos de gestão deste tempo. Tendem a defender o seu modelo cultural, o modelo que os levou ao sucesso mesmo sabendo que esse modelo está desajustado da nova realidade que têm que gerir.

Um dirigente que sabe que se vai reformar em breve não é um líder ambicioso, não toma as decisões certas no momento certo, não faz as suas escolhas a pensar nas instituições, não vai ser sujeito a qualquer avaliação pelo seu desempenho, não terá de responder pelo que fez ou deixou por fazer. Os problemas são deixados para quem o substituir, as nomeações e reestruturações são feitas com a preocupação de deixar os seus amigos bem instalados, as asneiras não vão ter consequências pois não serão confrontados com os resultados nem terão que olhar no olhos das vítimas das suas arbitrariedades.

Um gestor que é nomeado porque um governante quis dar a oportunidade a um amigo de se reformar com maior conforto financeiro actua mais como um executor testamentário que julga que a instituição é a herança que vai ser deixada a amigos do que um gestor. E a Administração Pública tem gestores a menos e executores testamentários a mais.