terça-feira, novembro 27, 2007

Preços, globalização e ambiente


A dimensão dos problemas ambientais e a escassez de alguns recursos naturais, como a água ou a energia, terá mais cedo ou mais tarde de ser contemplada nos mecanismos de formação dos preços na economia, quer à escala nacional, regional ou global.

O crescimento de algumas economias está parcialmente conseguido à custa do dumping social e de um novo tipo de dumping que poderemos designar como dumping ambiental. O que poupamos no preço de um produto chinês acabaremos por pagar em medidas ambientais ou no preço dos combustíveis já que os baixos preços dos produtos chineses é conseguido, para além das remunerações miseráveis, com o desprezo pelos problemas ambientais e com uma utilização ineficaz da energia.

Compramos têxteis chineses baratos ao mesmo tempo que fechamos as nossas fábricas porque não podem concorrer com ordenados miseráveis. A par disso os preços do petróleo aumentam em consequência do aumento exponencial da procura do mercado chinês. Como se isto não bastasse temos que aumentar os impostos para fazer face ao aumento dos custos da segurança social, agravados pelo crescimento do desemprego. Para encerrar o ciclo as nossas empresas são penalizadas pelo elevado custo das medidas ambientais para responder a um problema ambiental que é global. É evidente que os preços dos produtos chineses não reflectem a realidade económica, são conseguidos graças ao dumping social e ambiental.

Mas há muitas outras situações em que o sistema de preços não favorece a solução de problemas à escala mundial, como sucede com muitas matérias-primas fornecidas pelo terceiro mundo cujo baixo preço é conseguido à custa da exploração, reflectindo uma situação de dumping político e social, situação agravada por relações de troca internacionais cada vez mais favoráveis ao Ocidente. Os único ganhadores do negócio são as multinacionais, já que no momento em que se têm que assumir os custos, através do recurso ao armamento para responder às situações de crise ou da ajuda económica, estes são suportados por impostos a que essas multinacionais escapam com facilidade. O que poupamos nalguns produtos, como o café, a madeira ou os metais, pagamos em instabilidade política, insegurança, impostos e qualidade ambiental.

À escala nacional também poderíamos dar exemplos de situações em que os preços não reflectem a realidade económica, um dos casos mais evidentes é o da água que sendo um recurso escasso é tratada no plano económico como um recurso ilimitado.

Da mesma forma que a economia soviética foi sempre incapaz de implementar um modelo de preços que reflectisse a sua realidade económica, também a economia de mercado não incorpora uma realidade que já existe, uma boa parte do sucesso da globalização é conseguida graças a isso. Mais tarde ou mais cedo o mundo vai ter que suportar os custos do esbanjamento e da destruição do ambiente.