terça-feira, dezembro 15, 2009

A gorja

Num momento de generosidade negocial os nossos patrões deixaram de se opor a qualquer aumento do salário mínimo nacional, para abrirem os cordões à bolsa e proporem um aumento de dez euros. O argumento contra os aumentos dos salários mínimos é o do costume, assegura que as empresas não percam competitividade, um argumento que tanto serve para os momentos de crise, como os de fartura.

Um aumento de dez euros mensais significa que os trabalhadores que estão no fim da escala de rendimentos ganharão mais 50 cêntimos por dia, ou seja, cada hora de trabalho vai custar mais de 6,25 cêntimos. Isto não é um aumento nem sequer uma “gorja”, não passam de um símbolo da miséria humana que existe no nosso meio empresarial.

Se o presidente da CIP for almoçar ao Gambrinos e pagar o almoço com o cartão visa da sua empresa, o que leva a que todos os contribuintes o ajudem a digerir o repasto e der ao empregado uma goja de dez euros é muito provável que da próxima vez o cozinheiro pique os bifes com as brochas da bota.

Este circulo vicioso de salários baixos que asseguram empresas que nada fazem para serem competitivas está na origem do nosso atraso e da incapacidade de o país se libertar do subdesenvolvimento. Como é que Portugal superará o défice externo e deixará de estar na dependência do financiamento externo se os nossos empresários insistem em manter um modelo económico que se alimenta da miséria que ele próprio gera? Temos uma economia que limita ao máximo o mercado interno e que prefere exportar produtos de baixo valor acrescentado, produzidos à base de matérias-primas importadas.

Não são só os apoios sociais que se transformam num incentivo à preguiça, os salários indignos que os nossos empresários tanto apreciam são igualmente um forte incentivo à preguiça, por aquilo que eles pretendem pagar ninguém quer trabalhar e correm um sério risco de terem de pagar em impostos para assegurar a segurança e os apoios sociais o que não querem pagar em salários.

Com estes empresários o país nunca se desenvolverá pelo que o país tem de encontrar uma solução, ou dá razão ao PCP e o Bloco de Esquerda e estoira uma revolução que os obriga a mais uma diáspora por terras do Brasil, ou os governos apostam fortemente na renovação do nosso tecido empresarial. Uma coisa é certa, é preciso acabar com este ciclo viciosos da miséria pois há décadas que prometem desenvolvimento a troco de contenção salarial e é evidente que o balanço de trinta e cinco anos é negativo, os mais pobres estão mais pobres e os ricos estão mais ricos.