quinta-feira, dezembro 03, 2009

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Alcochete

IMAGEM DO DIA

[Bogdan Cristel/Reuters]

«SNAPPING SOLDIERS: A soldier photographed her colleagues before a military parade to celebrate Romania’s National Day in Bucharest Tuesday.» [The Wall Street Journal]

JUMENTO DO DIA

laurentino Dias

Já se sabe que muitos governantes escolhem os seus assessores mesmo sem os conhecerem, uma boa parte das vedetas que enchem os gabinetes governamentais são afilhados políticos, filhos de dirigentes partidários ou meros coladores de cartazes. O resultado pode ser desastroso e Laurentino não pode invocar desconhecimento depois de contratar um adjunto que é arguido num processo relativo à EMEL, se não sabia disso então o que sabia acerca do seu adjunto?

ARMANDO VARA

Não tenho grande simpatia por Armando Vara ainda que não alinhe com a dor de cotovelo que por aí vai. Mas apreciei a sua coragem de falar à saída do tribunal quebrando a regra do medo da vingança dos magistrados que tolhe muitos arguidos em processos, mesmo quando estão inocente. Depois da pouca vergonha que foi a violação do segredo de justiça perpetrada perante o silêncio senão mesmo a conivência da justiça está na hora de os arguidos exigirem o direito à defesa do seu bom nome e perderem o medo.

Espero que o exemplo vingue e que todos os que neste país são arguidos por tudo e por nada passem a dizer o que sentem, não temendo a justiça e os seusexecutores incompetentes .

APORCARIA

«A princípio e durante muito tempo, falava-se da crise. Depois, e também durante bastante tempo e porque os factos são o que são, passou-se a falar do lastimoso beco sem saída a que Portugal se encontra reduzido. Agora basta abrir um jornal, escutar a rádio ou ver a televisão: as vozes são praticamente unânimes e concluem que o nosso país se está a tornar uma autêntica porcaria.

Esta é uma situação indiscutível. Na política, a porcaria salta à vista todos os dias. A governação socialista tornou-se, desde há muito, um sinónimo ominoso de aldrabação sistemática dos cidadãos, de passes de prestidigitação grosseira e de manipulação descarada da opinião pública. Tudo eram maravilhas nos resultados sucessivamente alcançados. Mas como era absolutamente falso que assim tivesse sido, afinal tudo era areia nos olhos dos papalvos…» [Diário de Notícias]

Parecer:

Pois, com a porcaria de políticos como Vasco Graça Moura.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Meta-se no autoclismo esta porcaria da porcaria do Vasco Graça Moura.»

O MURO DE BERLIM E AS VÍTIMAS DA PIDE

«Há um mês, visitei em Berlim uma cadeia da Stasi, a polícia política da ex-RDA - Hohenschönhausen, hoje um museu aberto a quem queira conhecer o lado mais sinistro e secreto do regime comunista que vigorou na ex-RDA até à queda do Muro de Berlim. Mesmo para quem esteja familiarizado com os métodos repressivos de qualquer polícia política, através de leituras ou experiência própria, aquilo que se aprende em Hohenschönhausen não pode deixar de chocar e surpreender.

Alguns exemplos:

- a cadeia era secreta e a zona onde está situada nunca figurou em qualquer mapa da cidade. A cadeia e vários quarteirões à volta pertenciam ao aparelho repressivo do regime e ninguém podia circular naquela área;

- os presos, preventivos, eram sempre conduzidos em carrinhas fechadas cujos percursos eram tão erráticos quanto necessário para a vítima não ter noção do local onde estava;

- o regime interno era de total isolamento. Todas as celas eram subterrâneas (a prisão ficou conhecida como "submarino") e o preso nunca via ninguém além dos guardas e dos interrogadores. O "requinte" do isolamento ia ao ponto de haver "semáforos" nos corredores para evitar que alguém se cruzasse. Nesses casos, o guarda devia meter o preso na última cela do corredor (que estava sempre vazia para estas contingências), esperar que o caminho ficasse livre e só então prosseguir com o seu preso. As saídas das celas só se faziam para os interrogatórios, já que a comida era servida nas celas e as necessidades fisiológicas feitas num balde;
- o preso podia estar meses, anos, sem ver a luz do dia. As luzes das celas nunca eram apagadas e os presos só podiam dormir de barriga para cima e mãos por fora do cobertor. Os guardas vigiavam as celas de dez em dez minutos para ver se o preso estava na posição "oficial", a única que, segundo a Stasi, evitava tentativas de suicídio;

- muitos presos foram vitimados, anos mais tarde, por cancros provocados por radiações. Quando a cadeia foi desmantelada, descobriu-se que junto da máquina que tirava as fotografias e onde os presos eram deixados horas a fio, havia um aparelho a emitir radiações permanentes.

Claro que o sadismo vivido em Hohenschönhausen incluía também os truques do polícia bom e do mau, do interrogatório "sem" gravador, das celas forradas a borracha e inundadas de água, de vários instrumentos de tortura, métodos abundantemente praticados pelas polícias políticas, incluindo a portuguesa PIDE.

Em Hohenschönhausen (que em alemão, ironicamente, significa casa alta e bonita), podia-se entrar pelos motivos mais absurdos. Por se ser opositor do regime, naturalmente, mas também apenas por se conhecer algum opositor do regime. Como o caso de uma professora, submetida a tortura de sono e outras violências, porque não denunciou um colega de faculdade que tinha fugido para o Ocidente. E podia sair-se de lá, para cumprir pena noutra cadeia, também com as sentenças mais absurdas. Como o caso dos cinco estudantes que contestaram o regime nos anos 50 e cuja sentença tem data anterior ao "julgamento" a que foram submetidos e foi redigida pelo próprio Walter Ulbricht, o presidente do partido e do país.

A sociedade policial construída na ex-RDA atingiu paroxismos assustadores. Houve filhos a denunciar pais, pais a denunciar filhos, maridos a denunciar mulheres. O caso talvez mais célebre foi o da mulher que esteve presa cinco anos e que só descobriu muitos anos após o Muro cair, ao consultar os arquivos da Stasi, que tinha sido denunciada pelo próprio marido, com quem ainda estava casada. O marido escapou a tudo, mas acabou divorciado e denunciado num livro que ela escreveu sob o título literalmente certeiro Dormindo com o Inimigo.

A Stasi tinha 91 mil agentes para uma população de 16 milhões de habitantes, enquanto a Gestapo de Hitler tinha "apenas" 70 mil para uma população de 65 milhões. Além dos 91 mil agentes, havia 180 mil informadores que eram os olhos e os ouvidos do regime. Potencialmente toda a gente era vigiada e escutada. Quando foram abertos os arquivos, verificou-se que havia seis milhões de pessoas "fichadas", ou seja, 37 por cento da população. O regime desconfiava de quase metade da população, apesar de governar em nome do povo.

Hohenschönhausen era uma prisão secreta, como já referi. Ninguém sabia que existia, nem os próprios presos sabiam onde tinham estado. O secretismo era tal que só foi desmantelada em... Março de 1990, cinco meses após a queda do Muro. As indefinições de poder na RDA após a queda do Muro ajudaram à sobrevivência da cadeia, mas a sede oficial da Stasi em Berlim foi assaltada por manifestantes e desmantelada em Janeiro de 1990. Contudo, Hohenschönhausen funcionou ainda mais dois meses. Ao escutar esta história, lembrei-me como em Portugal a sede da PIDE foi assaltada pelos manifestantes na própria tarde do 25 de Abril e como as restantes cadeias foram abertas nessa noite ou no dia seguinte.

Foi justamente o 25 de Abril e os tempos da ditadura que não me saíram da memória durante a visita à prisão, estabelecendo um paralelismo inevitável entre a Stasi e a PIDE. E aí uma terrível ironia se insinuou: as maiores vítimas da PIDE, os comunistas portugueses, sofreram horrores idênticos às vítimas da Stasi, quando lutavam por um projecto político e pela instauração em Portugal de um regime em tudo idêntico ao da ex-RDA. Que, fatalmente, mais tarde ou mais cedo não dispensaria uma qualquer Stasi. Um paradoxo? Nem tanto, como o século XX demonstrou. Acima de tudo, uma terrível ironia histórica.» [Público]

Parecer:

Um artigo de José Alberto Lemos que recomendo aos jovens militantes do PCP.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

LAURENTINO METEU O PÉ NA ARGOLA

«O secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias, "desconhecia completamente" que o adjunto que contratou para o seu gabinete é arguido num processo que decorre no DIAP por suspeita de utilização indevida de fundos públicos. Trata-se do ex-administrador da EMEL Pedro Policarpo, que está a ser investigado pelo Ministério Público com base nas despesas que este debitou à empresa enquanto estava de férias.

Pedro Policarpo foi ouvido este Verão, na qualidade de arguido, sobre este processo que corre na 9.ª secção do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, numa audição que se arrastou por três dias e que se centrou nas despesas realizadas em Maio de 2008.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Seria bom que os governantes justificassem a escolha dos assessores, adjuntos e altos dirigentes da Administração Pública.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sugira-se a Laurentino que se informe melhor acerca do "currículo" dos seus afilhados.»

MENOS MORTOS NA ESTRADA DO QUE NO ANO ANTERIOR

«Os dados provisórios da ANSR, que reúne os números da PSP e da GNR, mostram que entre 01 de Janeiro e 30 de Novembro 680 pessoas morreram em acidentes rodoviários, enquanto no mesmo período do ano passado registaram-se 707 vítimas mortais.

Segundo a ANSR, Lisboa foi o distrito onde os acidentes provocaram mais mortos, (74), seguido de Santarém (71) e Porto (68).» [Diário de Notícias]

Parecer:

Enquanto a estatística omitir as mortes que ocorrem depois em resultado dos acidentes estas estatísticas são falíveis e não permitem grandes comparações. Basta que melhore o esquema de socorro para que hajam menos mortos no momento do acidente e mesmo depois daí não se podendo concluir que as medidas para combater a sinistralidade tenham sido eficazes. Portugal carece de um sistema de monitorização da sinistralidade rodoviária que para cada acidente avalie as causas, faça o acompanhamento estatístico de todas as consequências materiais e humanas e que apresente propostas a todos os níveis.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Proponha-se um novo modelo de monitorização da sinistralidade nas estradas.»

PSD JÁ SABIA DO CONTEÚDO DAS ESCUTAS

«A posição do PS, que também foi sugerida pelo ministro da Economia, Vieira da Silva, foi transmitida pelo vice-presidente da bancada Ricardo Rodrigues, em sede de Comissão de Assuntos Constitucionais, mas foi fortemente rejeitada pelo PSD.

Segundo Ricardo Rodrigues, não foram só órgãos de comunicação social que se referiram ao teor das escutas a Armando Vara e que acabaram por envolver José Sócrates.» [Diário Económico]

Parecer:

Pela forma como Jerónimo de Sousa se manifestou fiquei com a sensação de que o PCP sabia, como nos últimos tempos a esquerda conservadora anda a servir de cajado ao PSD não me admiraria nada que tivesse havido um sopro.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Jerónimo se foi ele que deu a dica a Ferreira Leite.»

NO "AS REGRAS DO JOGO"

A ler "As causas reais do desemprego e a conversa neoliberal do costume":

«O anúncio de que a taxa de desemprego em Portugal subiu para 10,2%, em Outubro de 2009, reflecte o atraso no ciclo com que a UE está a seguir o padrão de retoma dos EUA. Não deverá faltar muito para a habitual ladaínha dos economistas de serviço: alegar a necessidade de flexibilizar o mercado de trabalho, argumentando que o desemprego só descerá quando se congelarem salários, Vítor Bento falará mesmo em descida de salários, e quando se flexibilizarem turnos e despedimentos. A conversa será deste teor: os custos unitários do trabalho são muito elevados em Portugal, a produtividade cresce menos que os salário e blá blá. Vai uma aposta? Estão contudo, totalmente errados. O gráfico acima, extraído do Relatório do Banco de Portugal de 2008 é prova cabal disso.

As barras a azul representam o salário real do sector privado, e as barra a cinzento uma medida da produtividade do trabalho. A linha a preto corresponde à diferença entre salários e produtividade. Como se torna evidente da leitura do gráfico, desde o final dos anos noventa até 2007, tem-se verificado continuamente uma situação em que o a produtividade está sempre acima do crescimento salarial quando este existiu (sector privado). O que significa uma duminuição progressiva dos custos unitários do trabalho em termos reais. Se atendermos, adicionalmente, aos pontos a castanho, representando a taxa de desemprego, verificamos que a sua evolução não tem um padrão aparente de relacionamento com os custos unitários do trabalho. Neste milénio, por exemplo, o desemprego subiu quase continuamente e, com uma ligeira excepção, os salários cresceram sempre abaixo da produtividade!»

WALO THOENEN

AUPERMERCADOS CARDOSO