segunda-feira, maio 23, 2011

Notas de campanha

A direita anda confusa, desceu nas sondagens mas ficou eufórica, Passos Coelho não ganhou nenhum debate mas consideram que venceu Sócrates por KO, o líder do PSD está convencido da vitória mas apela ao voto útil no PSD, promete uma campanha limpa mas Menezes mete as mãos no saco do lixo.

Algo está errado, com as televisões e os jornais a levar Passos Coelho ao colo, com um PSD a lançar a crise com uma maioria absoluta nas sondagens, com tanta gente a clamar pela vitória antecipada da direita e o melhor que conseguem é um suposto empate técnico nas sondagens. Um empate técnico muito estranhou pois quando a primeira sondagem deu o PS como o partido mais votado as sondagens estabilizaram numa pequena vantagem para o PSD, o suficiente para o PSD considerar que já venceu.

Mas Passos Coelho comete o erro de ser sincero ou, o que é mais provável, é obrigado a actuar com base na realidade em vez de seguir uma estratégia política assente numa ficção criada pelos seus marketeiros. Se confiar na ficção dá rédea solta a Paulo Portas e arrisca-se a ver o PSD crescer, o melhor mesmo é esquecer o falso cenário de vitória e apelar ao voto útil no PSD numa tentativa desesperada de travar o CDS, pior ainda, os únicos ataques sujos nesta campanha estão a vir do PSD e dirigem-se ao CDS.

O PSD meteu-se num beco sem saída, não se assume de direita e perde para o CDS, mas tem um programa mais à direita do que o CDS e arrisca-se a perder uma parte do centro para o PS e mesmo para o CDS. Por outro lado ajuda José Sócrates a captar o voto útil à esquerda onde muitos eleitores já perceberam que votando na esquerda conservadora estão a apoiar a direita a destruir o pouco que resta das utopias de Abril.

Ao mesmo tempo que o PSD respira vitória Passos Coelho tem o discurso do derrotado, até questiona Paulo Portas sobre a sua disponibilidade para uma coligação com o PS, cenário só possível com uma vitória do PS sem maioria de direita. Quando luta pelo voto útil da direita Passos Coelho diz que precisa dos votos do CDS para ser o maior partido, já não está em causa nem uma maioria absoluta do PSD ou da direita, Passos Coelho já só deseja uma vitória do PSD.

Quando Passos Coelho luta pelo estatuto de maior partido indo buscar votos ao CDS isso significa que deseja vencer mesmo que a direita não tenha uma maioria absoluta. Isto é, o mesmo Passos Coelho que tentou excluir o PS quer agora um resultado eleitoral que só o levaria ao poder com o apoio do PS.

Os marketeiros do PSD mais a comunicação social estão a criar um ambiente irreal, estão reunidas todas as condições para que no próximo dia 5 de Junho os portugueses sejam surpreendidos com os resultados eleitorais, sejam eles quais forem poderão ser muito diferentes dos transmitidos pelas sondagens ou pelo discurso de vitória. Longe vão os tempos em que uma parte significativa dos eleitores votavam no partido que parecia ir ganhar, ou quando comentadores como o professor Marcelo decidiam o voto de muita gente, depois de todas as campanhas José Sócrates continua a ter o apoio de mais de um em cada três eleitores. Para ser o partido mais votado não precisa de muitos mais, bastarão alguns da esquerda conservadores e de outro que votando habitualmente no PSD não simpatizam com as aventuras liberais de Passos Coelho ou mesmo simpatizando não vêm nele o político à altura de conduzir uma mudança tão radical do modelo social do país.

Dia 5 de Junho veremos qual é mesmo a realidade.