segunda-feira, maio 30, 2011

O que está em causa

Apesar de os partidos continuarem unidos em torno dos seus líderes a verdade é que nestas eleições está em causa muito mais do que o poder e a redistribuição dos cargos públicos que permitem às elites partidárias viver, está em causa um modelo social.

O PSD está aparentemente unido em torno de Passos Coelho mas a verdade é que o liberalismo radical defendido por Passos Coelho está mais distante do defendido por muitos dos seus militantes e dirigentes do que o que o PS pretende manter, talvez por isso muitas personalidades ignorem o programa eleitoral e se centrem nos ataques pessoais a José Sócrates.

A direita está aparentemente unida em torno do objectivo da conquista do poder mas dificilmente conseguirá manter essa unidade na hora de elaborar um programa de governo. A direita portuguesa é mais conservadora nos valores que diz serem morais do que no domínio da economia, tem mesmo uma longa tradição de intervencionismo estatal herdado do antigo regime e nunca depois do 25 de Abril se deixou seduzir pelo liberalismo.

A esquerda conservadora diz defender este estado social, aquilo a que vulgarmente gosta de designar como conquistas de Abril e que considera suas, mas a verdade é que em toda a história da democracia portuguesa foi mais agressiva contra governos do PS do que contra os governos da direita. A esquerda conservadora sabe muito bem que nenhuma falsa maioria de rua irá revogar o que um parlamento com maioria de direita decidir, poderá conseguir maior protagonismo político enquanto oposição mas isso é conseguido à custa do fim definitivo do Estado social de que diz grande conservadora.

O que está em causa nestas eleições é a escolha do modelo económico e social português, os portugueses escolherão entre um modelo que todos os partidos ajudaram a construir ao longo de décadas e que a crise financeira internacional pôs em causa e um aventura conduzida por alguém que não sabe muito bem o que quer, sem capacidade de liderança, sem experiência e que quer liderar uma revolução ultra liberal desenhada à pressa e sem uma avaliação cuidada das consequências.

Os portugueses irão escolher entre melhorar o que têm ou permitir a desintegração desse modelo, aceitando que os fundos da segurança social financiem a redução das contribuições, arriscando a liberalização da legislação laboral a níveis próprios do terceiro mundo, permitindo que os sectores rentáveis do Estado financiem um sector privado preguiçoso que foi incapaz de investir em novos sectores e que nas últimas duas décadas se alimentou dos monopólios privatizados pelo Estado

A escolha é entre Sócrates e Passos Coelho, por mais que Portas se arme em candidato a primeiro-ministro ou Louçã pretenda formar um governo de esquerda com os seus 5 ou 6%. A direita conservadora que não revê na Arca de Noé ideológica que é o PSD não conseguirá impedir os novos liberais de desorganizar socialmente o país, nem a esquerda conservadora impedirá a direita de destruir o que resta das suas conquistas de Abril.