quarta-feira, dezembro 07, 2011

O regresso da velha Europa

A queda do Muro de Berlim que poderia ter representado mais uma época de desenvolvimento na Europa acabou por desencadear um processo que só poderá terminar em conflitos e revoluções como sempre sucedeu. As feridas nunca foram curadas, basta visitar os museus europeus para ali verem o resultado da pilhagem, o Museu Britânico tem uma boa parte da história grega que foi desmontada pedra a pedra e roubada, a Alemanha nunca pagou o que Hitler destruiu e nem sequer devolveu as riquezas que pilhou na Europa ocupada, a própria Alemanha foi pilhada pelos soviéticos e os museus russos ainda hoje escondem o resultado das sua pilhagens. Não há nenhum país europeu que não tenha problemas de fronteiras, nem mesmo Portugal que se gaba de ter as fronteiras mais antigas da Europa tem um espinho chamado Olivença.

Hoje percebe-se que a direita europeia não aprendeu nada durante o século XX, nunca concordo com o modelo social europeu, o projecto de integração ou a criação do euro não passaram de oportunismos de circunstâncias. Mal se viram livres da ameaça dos misseis nucleares russos começou acorrida à destruição de tudo o que cheire a progresso social e perante a primeira grande crise financeira internacional cada país colocou o seu interesse acima do da Europa e onde era habitual uma resposta conjunta ouviram acusações. Foi uma vergonha na história da Europa ver ingleses a designar por pigs quatro estados europeus, ouvir governantes idiotas a reafirmarem sucessivamente não serem como os gregos, ou políticos e negarem a existência de uma grave crise internacional e a jogar com a segurança dos seus países para assaltarem os governos.

A Europa está a desmoronar-se e uma direita idiota, dela dizia Miterrand ser a mais estúpida do mundo, insiste em arranjar bodes expiatórios a sacrificar no altar dos mercados, como se a imensa dívida alemã que absorve uma boa parte dos recursos financeiros mundiais não fosse mais responsável do que as dívidas das pequenas economias da EU. A mesma Merkel que apelava ao investimento público quando o Lehman Brother faliu vem agora mandar troikas chicotear os países que lhe obedeceram. O mesmo palermar que está à frente da Comissão da EU que hoje defende tudo o que a Merkel combina com o totó que é marido da Carla Bruni esquece que foi a Comissão Europeia a defender o levantamento do limite aos défices para responder à crise internacional.

A EU ainda existe como agremiação unida por interesses e enquanto cada país tiver a ganhar ou pensar que ganha mais do que o vizinho nesta EU sobreviverá. Mas já está suficientemente fragilizada e incapaz de responder aos mercados, os investidores perceberam-no e estão a ganhar biliões com os aumentos dos juros. A banca europeia dedicou-se ao proxenetismo, pedia ao BCE a 1% e enriquecia com os juros da dívida soberana, e apesar de os juros atingirem níveis absurdos nunca faltou a oferta, agora receiam a falência de Estados membros e já profetizam a morte do euro.

A direita foi gulosa demais, pensou voltar ao capitalismo da primeira metade do século XX, ao tempo em que a alta burguesia se divertia nos salões dos grandes paquetes enquanto os pobres suavam a alimentar as fornalhas. Sonhou com o fim dos custos do Estado social e com o empobrecimento forçado da classe média e dificilmente recuará. A Europa corre um sério risco de voltar ao que sempre foi, e continuará a ser, um continente de guerras, convulsões e revoluções.