Tal como as pessoas há terras que nascem com azar, deverá ter sido o que sucedeu a Alcoutim e aos que por lá insistem em viver e ser portugueses. São terras que parecem estar condenadas ao subdesenvolvimento por um modelo político que as despreza, mas poderia ter escolhido muitos outros concelhos do país.
Em Alcoutim as pessoas são trabalhadoras, dão valor ao ensino e ainda há poucos dias foi de lá que veio uma reportagem mostrando, crianças, pais e autarcas a concordar que uma escola bem equipada era melhor de que pequenas escolas de aldeia sem um mínimo de condições para proporcionar um ensino de qualidade, a localidade fica na margem do terceiro maior rio português e na fronteira de uma Espanha cada vez mais rica. Porque razão não se desenvolve?
Alcoutim teve azar.
Fica numa da regiões onde o ambiente quase não foi alterado e por isso quem lá vive nada pode fazer, nem sequer construir uma casa de banho numa casa que não a tenha, porque uma lei de protecção ecológica feita por idiotas da capital entende que os seus habitantes, os mesmos que cuidaram desse ambiente durante séculos, são os seus piores inimigos. Aliás, para muitos dos nossos defensores do ambiente os autóctones da região deveriam andar com um brinco na orelha para os identificar como indígenas locais aos quais deveria ser vedado o uso vestuário produzido depois de 1950.
É um concelho pobre, mas como fica numa das regiões consideradas das mais ricas do país os idiotas de Bruxelas consideram-na uma das regiões ricas da Europa e por isso não tem direito a fundos comunitários. Aliás, basta dar uma volta pelo concelho para se perceber que por ali nunca deve ter sido visto um daqueles painéis a informar que a benfeitoria é paga por fundos comunitários.
Fica colada a Espanha mas para lá se ir de carro quase se tem que se ir ao outro lado da península, a ligação a San Lucar del Guadiana, do outro lado do rio, não faz parte das grandes vias de comunicação da Europa, as estradas locais, que pouco evoluíram desde os tempos da ocupação romana pouco evoluíram, não são uma prioridade, a Alcoutim só vai quem precisa mesmo de lá ir. Que se saiba por ali não há nenhum grande projecto de um qualquer Belmiro que leve o Sócrates a uma cerimónia da botanada ou o ministro da Economia a fazer o mesmo percurso para celebrar o primeiro aniversário da botanada.
Poderia ter tido a sorte de ter ficado do outro lado de um qualquer oceano, dessa forma poderia beneficiar de programas de cooperação e do apoio diplomático em Bruxelas ou, ainda melhor, seria uma região autónoma, ter-se-ia construído um porto de mercadorias em Alcoutim e um aeroporto em Guerreiros do Rio e no fim transferia-se a dívida para as contas da República, ter-se-ia que aturar um Alberto ou qualquer outro idiota, mas o dinheiro chegaria a rodos.
Alcoutim não beneficia dos investimentos estatais que infernizam a vida aos contribuintes, por ali não há concentrações do funcionalismo público, programas de realojamento, túneis e rotundas, aeroportos e TGVs, base militares ou docas de submarinos, passa ao lado da despesa pública.
Vive da agricultura, mas de uma agricultura que a Política Agrícola Comum desconhece, o que por ali se produz não faz parte das preocupações dos ministros que se reúnem em Bruxelas, os agricultores locais nem deverão saber que existe um ministério da Agricultura, nenhum dos funcionários que nos corredores de Lisboa convivem com o exame de representantes de associações de produtores tiveram pela sua frente alguém preocupado com os agricultores de Alcoutim. Ainda por cima é gente pacífica, pouco dada a manifestações de moca na mão, ou com dinheiro para levar tractores de topo de gama a passear pelas ruas de Lisboa, ainda por cima de nada lhes serve encerrar uma estrada, por ali não passa nenhuma estrada, na ausência da ponte as estradas acabam ali.
Alcoutim é o paradigma do subdesenvolvimento das regiões do interior do país. Será o ministro da Agricultura capaz de dedicar um dos seu muitos dias de Governo aos agricultores de Alcoutim, ou a ministra da Educação retribuir a forma como a sua política foi bem recebida, ou o ministro das Obras Públicas desviar uns tostões da Ota para a ponte sobre o Guadiana, ou o ministro da Economia lá ir conhecer os problemas entre duas visitas a Tróia? Duvido muito, os poucos eleitores que por ali são recolhidos não merecem o respeito de uma classe política que conta os votos com a lógica de uma caixa registradora.
Ainda poderia ser que algum se interessasse por contruir um palacete com vista para o rio, ali para os lados de Guerreiros do Rio, mas nem isso, é mais fino ir para a Quinta do Lago e ir apreciar as obras se escultura em silicone na Praia dos Tomates.