sábado, setembro 09, 2006

Semanada


1. Pactos

Cavaco Silva apresentou a sua nova versão, ainda que seja uma versão beta, agora temos um Cavaco de consensos, o que é uma ruptura com um passado autoritário. Marques Mendes não cabe em si de contente, ainda não percebeu que ao dar-lhe um estatuto para-governamental Cavaco Silva está a desferir uma machadada final em qualquer ilusão no regresso do PSD ao poder nas próximas legislativas. Os portugueses não vão votar num partido que enquanto oposição em vez de se apresentar como alternativa, se assume como anexo governamental de Sócrates.

2. A matraca

As procissões da Semana Santa da minha infância eram antecedidas por um homem que levava a matraca, o ruído que produzir nada tinha de espiritual, chamava os crentes para a procissão que vinha a chegar. Outra personagem que ainda reside na minha memória e que também recorria à matraca para chamar a atenção era o pregoeiro, que anunciava alvíssaras para quem encontrasse o bem perdido.

Lembrei-me das matracas ao ler os artigos que Vital Moreira escreveu sobre a ADSE, o Governo ainda não adoptou nem ameaçou os funcionários públicos com o fim dos benefícios da ADSE, a procissão ainda não está à vista, e já Vital Moreira vem à frente a avisar os crentes de que se devem prostrar porque vem aí o andor. A minha consideração por Vital Moreira leva-me a sentir alguma tristeza pois dele esperava muito mais do que ser o homem da matraca do Governo de José Sócrates.

3. Os Corleone

Louçã anda escasso de ideias e decidiu chamar Coleones a vários empresários da nossa praça, algo que faz dele um líder do proletariado com os ditos cujos no sítio. Só que todos sabemos que é fácil chamar Corleone seja a quem for quando se está protegido pela imunidade parlamentar. Essa imunidade serve para não condicionar os deputados e não propriamente para que estes beneficiem de um estatuto de impunidade.

4. Democracia real

Foi assim que o PCP se referiu às FARC no comunicado que emitiu a propósito das críticas que ouviu por ter incluído este movimento na Festa do Avante. Não sei bem o que Jerónimo de Sousa designa por real democracia, mas por aquilo que as FARC não é difícil de imaginar. Se Jerónimo de Sousa não conhece as FARC, então que consulte a Wikipédia [Link], onde pode ler:

«FARC has financed itself through kidnapping ransoms, extortion, drug trafficking which includes but it is not limited to coca plant harvesting, protection of their crops, processing of coca leaves to manufacture cocaine, and drug trade protection. Many of their fronts have also overrun and massacred small communities in order to silence and intimidate those who do not support their activities, enlist new and underaged recruits by force, distribute propaganda and, more importantly, to pillage local banks. Businesses operating in rural areas, including agricultural, oil, and mining interests, were required to pay "vaccines" (monthly payments) which “protected” them from subsequent attacks and kidnappings. An additional, albeit less lucrative, source of revenue was highway blockades where guerrillas stopped motorists and buses in order to confiscate jewelry and money, which were especially prevalent during the presidencies of Ernesto Samper Pizano (1994-1998) and that of Andrés Pastrana (1998-2002).»

A verdade é que o mundo dos sonhos do velho PCP ruiu, resta-lhe Fidel Castro, que tanto quanto se sabe não está lá muito bem de saúde. Longe vão os tempos em que uma visita à Cidade Internacional da Festa do Avante era uma versão comunista da Alice no País das Maravilhas, com a queda da URSS resta ao PCP inventar libertadores que substituam os antigos, seja o Kim Il Sung da Coreia do Norte ou o Manuel Marulanda Vélez [Link] das FARC.

Não me admiraria nada que na próxima Festa do Avante a Cidade Internacional venha a ter mais uma meia dúzia de pavilhões, por exemplo, a máfia sicialiana convertida aos princípios científicos do marxismo-leninismo (versão PCP 2005) poderia apresentar-se como FARS - Forças Armadas Revolucionárias da Sicília, e no seu pavilhão poderíamos comprar coca progressista exportada para Itália pelos camaradas das FARC.

Como qualquer líder marxista-leninista que se preze Jerónimo de Sousa terá que deixar o seu contributo teórico, pelo que aguardamos a sua obra com o título "A Democracia Real, novos Métodos de Luta e de Financiamento"

5. Os novos jornais oficiais

Sócrates criou uma nova via de comunicação com os cidadãos e os militantes do seu partido, escreveu um artigo do Expresso para o fazer e o ministro da Defesa adoptou o memo figurino tendo recorrido ao Público. Por este andar os leitores do Correio da Manhã arriscam-se a saber quais a intenções do ministro das Finanças, os do Jornal de Notícias ficam especializados na política para a Saúde, o novíssimo Sol poderá ajudar-nos e entender a política Externa e não
me admiraria nada que a política orçamental para 2007 viesse explicada no Borda D'Água.