Antes de mais gostaria de lembrar vexas que Portugal tem uma democracia que, mal ou bem, tem funcionado, que nessa democracia os cidadãos escolhem quem os deve representar e que os problemas do país se discutem no Parlamento. Eu sei que nem sempre andamos bem representados, que os deputados não correspondem ao modelo de virtudes que todos desejaríamos e ainda por cima é frequente a maioria ter sido eleita por partidos de que vexas não gostam, mas a democracia tem destes inconvenientes, era Winston Churchill que dizia que “a democracia é o pior sistema de governo com exceção de todos os outros”.
O ideal seria os governantes serem escolhidos por concurso curricular, António Borges teria currículo para primeiro-ministro, Nogueira Leite teria boas hipóteses de ficar nas finanças e o Carrapatoso, com o seu MBA da Universidade Nova, poderia ambicionar um lugar de secretário de Estado. O parlamento deveria ter duas câmaras, uma composta pelos deputados eleitos pela populaça, aos quais só seria exigido o ensino obrigatório, e uma outra câmara constituída por gente inteligente e com provas dadas, nela onde poderiam estar muitos dos peregrinos do Beato. O orçamento apenas pagaria os vencimentos dos eleitos pelo povo, os governantes seriam pagos pela empresas promotoras e ganhariam prémios fixados por essas empresas, os deputados da câmara dos inteligentes teriam que recolher patrocínios para se sustentarem, como sucede com os pilotos portugueses da Fórmula 1. O problema é convencer o povo.
Permita-me que lhe dê os parabéns pela escolha dos nomes para a apresentação dos textos provocatórios, como, por exemplo, o do capítulo relativo a “Pensar e redefinir as Funções do Estado”, foram dois secretário de Estado de Pina Moura (um dos melhores modelos de político-empresário que por cá temos), Nogueira Leite (o vaidoso secretário de Estado do Tesouro) que quando o barco guterrista começou a dar sinais de meter água pela borda assumiu o papel de ratazana de serviço, e Fernando Pacheco (secretário de Estado do Orçamento), que quando a nau já não tinha salvação inventou à pressa cinquenta medidas para reduzir a despesa pública.
O modelo escolhido para fazer passar a mensagem também me merece o elogio, não deve ter sido fácil a tão ilustres pensadores transformar as propostas numa linguagem tão simples, quase tão simples como a publicidade que o Continente me mete na caixa do correio.
As moças da minha aldeia.
Quando vão mijar à rua.
Dizem umas para as outras.
A minha é maior que a tua!
Deixe-me dizer-lhe também que discordo do muitos que o acusam de defensor do ultra-liberalismos, embora a generalidade das propostas nos levem a pensar assim, a verdade é que o Compromisso Portugal propõe-nos a mais moderna e actualizada das revisões do leninismo, quer no plano político, quer no que se refere ao modelo económico.
As críticas subtis ao modelo político e a exibição dos modelos de virtudes da sociedade portuguesa não são mais do que evidenciar as fragilidades da democracia e a defesa de que cabe a uma vanguarda a mudança da sociedade. No antigo modelo leninista esse papel cabia à classe operária, enquanto vanguarda do proletariado era a classe que melhor simbolizava os valores da nova sociedade e capaz de ser mais fiel ao marxismo-leninismo. Para o Compromisso Portugal deverá continuar a haver uma vanguarda que deverá zelar pela mudança, em vez dos operários, coisa que está em extinção, deverão ser os assalariados mais capazes e bem sucedidos, os administradores das empresas. Aliás, a melhor das democracias seria aquela em que o país seria governado por essa mesma classe, ninguém tem dúvidas que em vez do Santana Lopes o lugar de primeiro-ministro seria de António Borges, o grande líder da nova vanguarda.
Também no modelo económico o Compromisso Portugal se revela leninista, para o seus promotores a mudança da sociedade faz-se através do Estado, todos os males e benfeitorias da sociedade passam pela gestão do Estado. Até no texto provocatório dedicado à competitividade, onde esperava uma análise dos problemas das nossas empresas só encontramos medidas aplicadas ao Estado, isto é, fiquei a saber que é do Estado que depende a competitividade das nossas empresas, coisas como a inovação são manias dos americanos. Para o Compromisso o Estado é a fonte de todos os bens e de todos os males, o grande centro da economia.
Acho mesmo que da peregrinação do Beato deveria ter saído o Manifesto do PCP – Partido do Compromisso Portugal, e os textos provocatórios, que contemplam centenas de medidas para o Estado, deveriam ter saído do encontro sob a forma de plano quinquenal.
Sem mais, despeço-me com elevada estima e consideração.