sábado, maio 23, 2009

E se a Volkswagen fosse portuguesa?

Ao assistir aos debates que por aí se vai ouvindo sobre a Autoeuropa quase me sinto transportado para ex-União Soviética, mesmo assim estarei a pecar por defeito, na URSS os debates, quando existiam, tinham mais nível do que a peixeirada proto comunista a que temos assistido. Os deputados, jornalistas, sindicalistas e demais espécimes do zoo político nacional referem-se à Autoueropa como se fosse uma empresa “pública-nossa” ou, pior ainda, no passado nunca assisti a tanto disparate em relação às grandes empresas públicas.

Os dados da empresa são devassados, as comunicações internas são objecto de divulgação e debate na comunicação social, Carvalho da Silva fala como se o seu estatuto de líder sindical, cargo que ocupa por inerência da sua condição de militante do PCP, também lhe desse direito, por inerência, à vice-presidência da empresa. Até os deputados do CDS interpelam o ministro da economia como se fossem destacados militantes do Bloico de Esquerda preocupados com o contributo da Auteuropa para a realização das metas do grandioso plano quinquena.

A ausência de propostas para o problema do país levou as nossas elites políticas a aproveitar tudo para ensaiar discursos com objectivos meramente eleitoralistas, desde as conversas de almoço de magistrados de pouca confiança até à situação da Autoeuropa, tudo serve.

E se a Volkswagen fosse portuguesa?

Carvalho da Silva, que se esqueceu do discurso da deslocalização pois a fábrica da Autoeuropa é um bom exemplo desse fenómeno, seria o primeiro a defender os interesses nacionais e em nome do progresso questionaria porque razão a capacidade excedentária da empresa não era utilizada para produzir o que está sendo produzido na Alemanha. E se vivessemos noutros tempos ainda proporiam aos trabalhadores da Autoeuropa que o trabalho ao sábado fosse considerado trabalho nacional.

Os deputados do CDS estariam a questionar a razão porque o seu partido não tinha um lugar na administração e idêntica reivindicação fariam os sindicalistas que defenderiam a co-gestão.

A forma como uma empresa privada alemã está a ser tratada por políticos e comunicação social é ridícula, como é ridícula a forma como muitos sindicalistas ainda vêm as empresas, algo mais parecido com uma manjedoura do que com uma entidade que tem quer ser competitiva para assegurar emprego e riqueza aos que nelas trabalham e investem o seu capital.

Até parece que não aprenderam nada com as asneiras do passado.