terça-feira, maio 05, 2009

TVI: Um programa de televisão próprio do terceiro mundo

Talvez por se terem ouvido algumas críticas ou porque a novela “Equador” mostrou um rabo e um par de mamas o programa uma “Uma Canção para Ti” foi exibido mais cedo, tendo terminado antes das onze da noite do domingo. Tenho algumas dúvidas de algumas frases dos apresentadores do “Uma Canção para Ti”, designadamente, algumas piadas brejeiras, sejam menos próprios para exibir em horário nobre do que o traseiro da louraça do “Equador”, mas é positivo que o país tenha deixado de assistir ao espectáculo triste de crianças com pouco mais de oito anos serem obrigadas a cantar já depois da meia-noite.

Mas o medo dos senhores Monizes das televisões portuguesas deve estar a tolher as autoridades, até porque depois do casal Moniz ter transformado a TVI numa plataforma de ataque a Sócrates qualquer inspecção seria considerada uma vingança e tema central do jornal da Manuela.

Mas é estranho que crianças que têm aulas na segunda-feira de manhã em localidades que ficam a centenas de quilómetros de Lisboa estejam a cantar na TVI às onze da noite? É tão estranho que seria interessante saber em que circunstâncias isso pode acontecer, em que medida escolas públicas estão envolvidas. Como estão a ser compensadas as faltas, qual o acompanhamento psicológico de crianças que sentem a frustração ou atingem uma falsa fama.

Gostaria, por exemplo, de saber quais as responsabilidades pós-programa são assumidas pela TVI sendo certo que para a generalidade das crianças este programa pode resultar num prejuízo psicológico, para além do impacto negativo na carreira escolar.

É um facto que as criancinhas cantam bem, mas isso só se consegue com trabalho, com muito trabalho, com horas e horas de ensaios, em casa e em estúdio, isto é, com muitas horas de trabalho que apenas o vencedor verá remuneradas.

É evidente que a TVI pode dizer que não estamos perante trabalho infantil, é verdade, as crianças trabalham, trabalham e não recebem nenhum ordenado, apenas têm direito à fama efémera. Apenas um deles receberá um prémio, uma pequena parte do que a TVI embolsa com as chamadas de valor acrescentado dos votantes incautos e com a publicidade.

Mas a troco de um sonho temos crianças a dar o litro, a trabalhar horas e horas de ensaios, a faltar a aulas, a dormir em hotéis da capital e a fazer centenas de quilómetros, tudo isto durante o terceiro período escolar. Trabalham dezenas de horas a título gratuito para que os apresentadores ganhem honorários chorudos. E a que horas passa o programa? Já vi crianças de oito anos a cantar à mesma hora a que Moniz passava filmes pornográficos quanto tomou conta da TVI.

Isto é normal? É evidente que não é, até proponho um exercício, que Manuela Moura Guedes dedique o seu jornal de sexta-feira e use o mesmo critério que aplica a outros temas. Sempre gostaria de ouvir a língua afiada de Manuela Moura Guedes a criticar a forma como a estação do marido ganha dinheiro, ou ouvir os comentários humorísticos de Vasco Pulido Valente às piadas brejeiras da abundante apresentadora. Até pagaria para ouvir um comentário de Miguel Sousa Tavares sobre se aquilo a que o país assiste semanalmente é ou não trabalho infantil não remunerado.

No passado vimos uma gala internacional de meninos cantores, mas esse programa ocorria uma única vez, as crianças tinham meses para ensaiar uma canção e o programa era exibido num domingo à tarde. O programa da TVI é semanal, as crianças são forçadas a trabalhar até às onze horas (nas primeiras edições terminava muito mais tarde), as crianças ensaiam semanalmente várias canções.

Mas quem se mete com o senhor Moniz corre o risco de ter os jornalistas da TVI à perna e por isso todo o país fica calado, com medo.