terça-feira, janeiro 12, 2010

Comícios à porta de Belém


Portugal assistiu ontem espantado a um comício dado por um tal João Salgueiro, cidadão comum com ar de aposentado, à saída de uma audiência de chá e bolachinhas dada pelo candidato presidencial Aníbal Silva que ostenta o título de Presidente da República. Ninguém percebeu muito bem a que título Cavaco convidou um velho amigo e manda-os entrar pela porta principal para onde foi convocada a comunicação social.

Cavaco pode muito bem beber chá com quem entender mas seria conveniente que o hall de entrada do palácio não se transforme num Circo Chen onde as velhas glórias do PSD vão fazer palhaçadas por encomenda. João Salgueiro não representa nada nem ninguém e foi recebido sem se perceber a que título, quando sabemos que muitas entidades bem mais representativas pediram audiências ao Presidente da República e nunca foram recebidas.

É evidente a estratégia de Cavaco Silva, já não dá entrevistas a dizer que está preocupado, agora convida amigos para irem a Belém para que à saída façam comícios. Só ex-ministro das Finanças dos seus governos Cavaco pode convidar meia dúzia pois, como se sabe, Cavaco mudava de ministro das Finanças como quem muda de camisa.

Agora está na moda o receio de Portugal vir a passar pela situação que a Grécia não atravessa, o que não é novidades, quando a Grécia sofreu uma vaga de violência nas ruas houve muito boa gente que sentiu o desejo de por cá se passar o mesmo. É um velho hábito das oposições, sempre que ocorre uma desgraça noutro país sonham com o empurrãozinho eleitoral que receberiam se a desgraça ocorresse por cá. Sucedeu com a violência nos subúrbios de Paris, com as manifestações violentas em Atenas e sucede agora com a crise financeira grega.

Quando a crise financeira internacional atingiu o país foram muito poucos os que questionaram a generosidade orçamental no combate às consequências, se o governo dava dez, a oposição exigia 20, não ouvi Cavaco Silva nem nenhum dos seus amigos preocupados questionar-se sobre as consequências orçamentais. Foi preciso entrar em 2010 para Cavaco recear explosões sociais e dar início a este roteiro de amigos aposentados para que o país seja confrontado com tanto pânico. Até um qualquer analista de uma empresa de rating passa a ter mais destaque do que um presidente do FMI, como se nos últimos anos a classificação de Portugal se tivesse mantido inalterada.

Este Presidente da República está mesmo convencido de que a capital do país se situa algures para os lados do seu umbigo, não hesitando em destruir a confiança dos portugueses se isso ajudar à sua reeleição. Enfim, com um presidente destes a democracia portuguesa nem precisa de partidos da oposição.