quinta-feira, janeiro 07, 2010

Tanta energia ...


Sempre que a direita fica incomodada por ser adoptada uma medida que não pode impedir por não ter maioria parlamentar usa o argumento do tempo mal empregue, quando há problemas maiores para resolver. O próprio Cavaco Silva fez essa crítica subtil a propósito do casamento gay, a líder do PSD também usa este tipo de argumento com alguma frequência, fê-lo de uma forma subtil para criticar a presença do secretário-geral do PS no congresso sugerindo que deveria estar em Bruxelas.

Mas no caso do casamento, que uns designam por gay e outro por casamento de pessoas do mesmo sexo, quem gastou menos tempo com o assunto foi o governo, basta a alteração de uma linha do Código Civil e duas horas de debate parlamentar, o que não me parece qualquer prejuízo para o país.

Já do lado dos que se opõem a que os outros se casem como eles houve tanta iniciativa e empenho que fiquei com a impressão de que ou não têm nada que fazer ou andam preocupados com os problemas errados. Desdobraram-se em entrevistas, recolheram assinaturas, promoveram debates, escreveram artigos para os jornais, até houve um senhor juiz que puxou da pena e escreveu um livro que, por sua vez, deu lugar a uma apresentação pública e mais algumas entrevistas.

Deputados que ninguém conhece tiveram o seu momento de glória, magistrados desconhecidos alcançaram a fama, líderes de sacristia transformaram-se em personalidades públicas, até o PSD se deu ao trabalho de encontrar uma lei alternativa. De repente o país silencioso mobilizou-se para resolver aquele que entendem ser um grande problema.

Até compreendo que muito boa gente tenha receio de um dia destes passar à porta de uma conservatório do registo civil e apanharem com um ramos de grinaldas pecaminosas, por aquilo que posso ver muito destes senhores ou têm boas reformas ou não sabem o que será o desemprego, mas concordo com ele num ponto, há coisas bem mais importantes para gastar tanta energia do que o casamento gay.

A verdade é que nenhum dos grandes problemas do país, do desemprego ao papão do endividamento, levou esta boa gente a escrever um artigo, a recolher uma assinatura, a dar uma entrevista e, muito menos, a escrever um livro. E não podem dizer que problemas como o desemprego não colidam com os seus bons princípios, por exemplo, o desemprego causa a destruição de mais famílias do que o número de casamentos gays a que iremos assistir.

Desta vez concordo com o tal argumento da perda de tempo, é uma pena ver tanta gente válida a dar o litro contra o casamento gay, se todos dedicassem igual energia aos verdadeiros problemas do país Portugal conseguiria mais facilmente sair da crise.