sexta-feira, janeiro 15, 2010

A culpa é do Convento de Mafra


Sinto-me um pouco esmagado neste debate sobre a viabilidade do TGV e quando leio posts na blogosfera envolvendo toda a artilharia pesada da econometria vejo-me encolher-me intelectualmente, há muito que digeri os modelos econométricos com equações simultâneas, equações quadráticas e equações em RN. Não me passa pela cabeça discutir com o Carlos Santos qual o melhor modelo para sabermos quantos madrilenos virão daqui a dez anos degustar as famosas corvinas da marca Lisboa que o Zé da Câmara Municipal vai promover.

Mas como mais importante do que construir o TGV é encontrar os culpados da nossa situação financeira atrevo-me a dizer que o culpado disto tudo foi o D. João V por ter mandado construir o Mosteiro de Mafra, onde gastou uma boa parte do dinheiro que tinha nos cofres.

Imaginem que o Sócrates se decidia pela construção do TGV em homenagem a Fernanda Câncio por a ter conhecido a bordo de uma automotora numa viagem de finalistas que fez quando ainda era estudante na Covilhã, o que não seria demais porque D. João V mandou erigir o Convento de Mafra para cumprir uma promessa que tinha feito se a Dona Maria Ana da Áustria lhe desse descendência. Era um escândalo.

O Convento de Mafra deve ter custado tanto ao país como vai custar o TGV, pelo que a actual situação financeira só lhe pode ser atribuída já que na construção do TGV ainda só foram gastos uns trocos em projectos, remunerações de afilhados e beberetes. O Convento de Mafra, esse sim que foi um disparate, custou uma fortuna, fica no meio de nada, não se sabe muito bem para o que serve e no fim de tudo nem é utilizado para a sua função inicial, acabou por ser quartel de infantaria.

Será que o rei D. João V teria construído o convento se tivesse feito os devidos estudos econométricos, se tivesse ouvido a douta opinião do João Salgueiro ou se tivesse seguido os conselhos de Cavaco Silva e procedido ao devido estudo da relação custo benefício. O facto é que os cofres ficaram sem dinheiro, o convento lá está para que os magalas possam aprender a marcar passo e desde então que o país não passou da cepa torta.

O pior é que o Convento de Mafra não é o único mono que não resistiria ao mais elementar estudo da relação custo benefício ou à mais simples projecção econométrica, temos ainda outras grandes obras como o Mosteiro dos Jerónimos, o Convento de Crista, a Catedral da Estrela, a Sé de Lisboa, só não acrescento o Castelo de Guimarães porque esse até deve ter dado algum lucro, trouxe mais espanhóis a Portugal do que alguma vez virão de TGV, com a vantagem de já estar pago e de não termos que dar explicações a uma missão de controlo financeiro de Bruxelas pois na sua construção não foram utilizados fundos comunitários.

Eu sei que este post não é um grande contributo para o debate em torno das potencialidades turísticas do TGV, mas não deixa de ser curioso que num país onde durante séculos se gastaram rios de dinheiro para que os espanhóis não viessem (da última vez que apareceram travámos a famosa Batalha das Laranjas e ficámos sem Olivença) vemos agora um ministro a justificar uma obra com o argumento de que será viável porque transformará Lisboa na “playa” dos madrilenos.

Já estou a ver o António Costa voltar atrás nas obras do Terreiro do Paço e encher aquilo de de areia importada da Líbia, para ali instalar uma praia igual à que o Alberto João instalho na Madeira. Depois os espanhóis descem em Santa Apolónia e dez minutos depois já estão a apanhar conquilhas à sombra dos tomates do cavalo do D. José!