domingo, janeiro 03, 2010

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Beco da Caridade, Bairro da Sé, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Reuters]

«También en la Red - La señal de la Radiotelevisión Austríaca ORF ha sido distribuida a 72 países de todo el mundo y se espera una audiencia de más de 40 millones de personas. A la lista de lugares donde se podrá ver por primera vez se suman Mozambique, Mongolia, Sri Lanka o Trinidad y Tobago. Internet es, también por vez primera, una alternativa. En la foto, Prêtre bromea con una escopeta que dispara flores durante el concierto.» [El Pais]

JUMENTO DO DIA

Francisco Assis, líder parlamentar do PS

Francisco Assis reuniu uns quantos deputados do seu partido e foi ver os estragos provocados pelo temporal na Região Oeste, só é pena que só o tenha feito depois de terem passado todas as festas (com excepção do Dia de Reis que por cá fica-se por uma fatia de bolo-rei) e apenas para elogiar as medidas já adoptadas pelo governo.

RESPONSABILIDADE: IMPOSTOS OU DESPESA

«No último debate no Parlamento, José Sócrates afirmou que seria uma irresponsabilidade baixar os impostos, dado o seu efeito nas contas públicas. Ao mesmo tempo, reafirmou o compromisso de aumentar o investimento público, apesar do défice que dele resulta. Contradição? Nem por isso, depende de dois pressupostos.Para perceber porquê, reparem que o défice público é igual aos gastos do Estado (G) menos as receitas, que por sua vez são iguais à taxa de imposto (T) vezes o rendimento do país (Y). (Claro que isto é uma simplificação, até porque há varias taxas de imposto, mas ela não altera o ponto principal.)

Numa equação simples: Défice = G - TxY.

O compromisso do primeiro-ministro de aumentar o investimento público (G) parte do pressuposto de que isso vai causar um aumento no PIB (Y). Ou seja, que o investimento público vai estimular a economia. Logo, o efeito no défice será atenuado pelo aumento nas receitas, e esta é uma medida responsável. Este raciocínio está na base do Keynesianismo. Sócrates claramente perfilha este ponto de vista. Em contrapartida, reduzir os impostos também estimula a economia. Se as pessoas pagam menos impostos, têm um incentivo para trabalhar mais e investir mais. Logo, baixar impostos (T) também aumenta o rendimento (Y). Os economistas que acreditam que este efeito é grande chamam--se supply-siders. Sócrates deve achar eles estão errados.» [i]

Parecer:

Por Ricardo Reis.

PS: Carlos Santos responde a este artigo num post do "As Regras do Jogo" citado abaixo.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

NOTÍCIAS DA FRENTE DA GUERRA

«No aeroporto holandês onde entrou o terrorista nigeriano do voo para Detroit havia scanners de corpo inteiro que teriam descoberto os explosivos com que ele tentou rebentar o avião. Havia, até, 15 scanners. Supermodernos, capazes de olhar para lá da roupa e vasculhar tudo. Esse tudo é que foi o problema. Os scanners existem mas não se usam, por pudor. O passageiro passa pelo scanner de corpo inteiro e o corpo inteiro vê-se no ecrã do computador da segurança. E isso é um horror, como se sabe... Por exemplo, Ian Dowty, um advogado britânico dos direitos das crianças, da organização Action on Rights for Children, considera que fazer passar um menor de 18 anos pelo scanner viola as leis contra a pornografia infantil. Daí, os scanners estarem explicitamente proibidos aos menores, na Grã-Bretanha. E eu que pensava que não havia nada mais pornográfico do que um corpo de criança rebentado por uma bomba. Além de que, a haver a excepção infantil, ela vai dar ideiazinhas aos radicais islâmicos: suspeito que vão aparecer portadores de bombas inocentes e sem direito a prémio de 70 virgens. Em todo o caso, a oposição aos scanners faz-me lembrar as minhas iniciais reticências a mostrar as meias nos aeroportos. Hei-de tirar o resto da vergonha como já tiro os sapatos. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

MAIS UM ANO!

«É um milagre. Ainda cá estou. Ainda cá estamos. Foi bonita a primeira manhã do ano.

Já fui despedido duas vezes (do DN e do Expresso) e já enterrei dois títulos (O Independente e a K) dos quais fui parteiro. Mas nunca tinha sido prolongado. Era para escrever só durante um ano mas o PÚBLICO, depois de muitas insistências minhas, deixou-me ficar mais um ano inteirinho.

As colunas de despedida são sempre apetitosas. Há as explosivas e paranóicas, que culpam a direcção; a economia; o mundo. E há as renitentes, com o fingimento de se ir embora de livre vontade, de cabeça erguida, com a tarefa cumprida, não obstante as condições nem sempre ideais e a oposição de certas pessoas que nunca se nomeiam porque têm sempre o condão de "saberem quem são".

Mas como se escreve uma coluna de prolongamento? Em tempos de desemprego e de menos leitores, será de mau gosto? Como se evita o tom falso e repugnante do "desculpem lá mas vão ter de me gramar mais um ano"? Como se resiste a fazer o temido "balanço" em que se procede à exenteração de todos os dramas e disparates aqui microvividos e contados ao longo de 2009?

Diz-se muito mal da década que passou mas para mim foi a mais feliz da minha vida. O primeiro dia em que acordei ao lado da minha mulher foi dia 1 de Janeiro de 2000. Começámos a viver juntos no dia seguinte. Daqui a bocado, dia 1 de Janeiro de 2010, ela vai acordar. E eu terei acabado esta estúpida crónica para pegar nela e levá-la a almoçar.» [Público]

Parecer:

Por Miguel Esteves Cardoso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

ESTADO:1,2% DO PIB EM COMPRAS SEM CONCURSO

«Em cerca de um ano foram gastos mais de dois mil milhões de euros em ajustes directos na Administração Pública (AP). Este valor é fornecido através da publicação de contratos públicos em sites governamentais e significa mais de 1,2% do PIB português (situado nos 163 mil milhões de euros) que não é sujeito a concurso público.

O montante corresponde a um total de 84 968 contratos divulgados entre Agosto de 2008 e Setembro de 2009 no site governamental www.base.gov.pt, sendo disponibilizados de uma forma mais funcional pela Associação Nacional de Software Livre(ANSOL) que criou o site Transparência na AP (http://transparencia-pt.org).» [Diário de Notícias]

Parecer:

Com o argumento da celeridade vale de tudo um pouco, se a estes números acrescermos as despesas das falsas empresas do Estado os números atingirão níveis inaceitáveis.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao ministro das Finanças se vai acabar com os concursos.»

A CULPA É DA TESTOTERONA

«A infidelidade tem razões químicas. Não sendo a única causa para o adultério, certas substâncias que o organismo produz estão associadas a comportamentos infiéis. A culpa é da testosterona, mas não só.

"Homens com menor tendência para o casamento, ou com maior tendência para o adultério, ou ainda com maior propensão para o divórcio, demonstram frequentemente um nível médio e alto de testosterona", escreve Madalena Pinto, no seu livro "Química do Amor e do Sexo".» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Uma boa desculpa, vai haver por aí muito marido a justificar-se à esposa "querida, desculpa, tive um excesso de testosterona".

MENEZES DIZ QUE O PSD NÃO TEM AUTORIDADE PARA APONTAR OS MALES

«O autarca de Gaia, Luís Filipe Menezes, disse hoje, sábado, que "o PSD não tem legitimidade para apontar os males do país quando não resolve os seus próprios males", considerando que ninguém confia no partido tal como ele está.

Para o presidente da Câmara de Gaia, Luís Filipe Menezes, "o país está mal mas o PSD infelizmente não está melhor", considerando que o partido "para ter legitimidade para se colocar ao lado das posições do Presidente da República (PR) tem que primeiro resolver os seus problemas".» [Jornal de Notícias]

Parecer:

Eu diria que o próprio PSD já se transformou num dos males do país, diria mesmo que um dos piores.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprovem-se as críticas de Menezes.»

NO "AS REGRAS DO JOGO"

Carlos Santos responde ao artigo de Ricardo Reis no "i" online com o post "As crises não são todas iguais"

«Ricardo Reis faz hoje no i é errada e perniciosa. A cor da verdade não é o branco nem o preto. É o cinzento. Pretender que os economistas, e os caminhos de solução da crise, se reduzem a uma escolha etérea e sem coordenadas históricas ou geográficas, a uma opção entre ser supply-sider e defender a descia dos impostos, ou ser keynesiano e defender o investimento público, é de um reducionismo intolerável! Não por ser um pressuposto simplificador. Antes, por ser, simplesmente, errado.

Da forma como Ricardo Reis apresenta o problema, esses dois caminhos seriam possíveis na resolução da crise actual: que partiu do subprime americano, se generalizou ao sistema financeiro, se tornou numa crise de crédito e de procura, e gerou ondas maciças de falências e desemprego pelo mundo. Não é verdade! A simplificação do Ricardo leva a pensar que existem vias, como a que o governo português se propôs seguir, e uma outra via de combate a esta crise. O que ele omite, é que está a tratar todas as crises como se fossem iguais.

Um choque petrolífero é uma crise do lado da oferta. E em que as medidas supply-side que o Ricardo preconiza (baixando impostos ou, eventualmente, custos laborais ,às empresas) podem trazer a oferta agregada de regresso ao nível potencial anterior. Só que a originalidade, e a grande dificuldade dos economistas do mainstream neoclássico, como o RIcardo Reis, e tantos economistas-problema em Portugal, é que não estão a distinguir uma crise de oferta de um choque negativo na procura. Esta crise, tal como a crise dos anos 30, é uma crise de procura. O receituário supply-side traduz-se em dar o medicamento errado para a doença do paciente. Quando uma crise de procura é tratada como se a prescrição médica fosse única, o paciente arrisca-se a morrer.»

NO "CÂMARA CORPORATIVA"

João Magalhães comenta a mensagem de ano novo do senhor silva no post «O Presidente e os "apoiantes" »:

«Por definição - e não por opção, como alguns julgam - o Presidente da República é sempre o Presidente de todos os portugueses. Quer isto dizer que, independentemente das suas opções políticas, passadas ou presentes, ele deve representar, na acepção mais generosa da palavra, todos os portugueses. Por actos ou palavras.

Por isso, mesmo quanto um Presidente, com toda a legitimidade (como poderia ser de outro modo?), faz as suas opções, não pode, nunca, por actos, omissões ou palavras, ser exclusivo. Se há figura inclusiva por excelência no sistema constitucional português, ela é a do Presidente da República.

É por isso que os seus discursos, quaisquer discursos, por muito que indiciem opções ou críticas, têm de conter sempre uma certa dose de polissemia congregadora. Ninguém se pode sentir excluído, todos têm de sentir que são, mais que ouvidos, chamados a participar na vida política do país.

O discurso de Cavaco Silva neste início de 2010 cumpre essas funções mínimas, apesar de ser um dos mais clarificadores testemunhos da dissonância de Belém com a governação resultante das eleições legislativas de Setembro.

Mas, ao cumprir os serviços mínimos que a Constituição lhe impõe, Cavaco deixa - tinha de deixar - caminho aberto a várias interpretações, à polissemia interpretativa própria das democracias.

Só não compreende isto quem, no fundo, é um dos maiores praticantes - embora goste de se fazer passar pelo contrário - do chamado pensamento único. São pessoas como estas que transformam o Presidente em líder de facção e lhe retiram a amplitude que a Constituição lhe confere.»

"WELCOMING 2010"[Link]

AFGHANISTAN, DECEMBER, 2009 [Link]

VADIM KOVA

FIERO ANIMALS