segunda-feira, janeiro 04, 2010

Manuel Alegre Presidente?

Aos poucos a recandidatura presidencial de Manuel Alegre vai renascendo, desta vez a partir do interior do PS e sem a procissão dos zangados com as escolhas de José Sócrates. Francisco Louçã percebeu a possibilidade de Alegre vir a contar com o apoio do PS e antecipou-se no patrocínio da candidatura, muito provavelmente sem ter ouvido a opinião do seu próprio partido.

Depois do famoso episódio das escutas a Belém os portugueses perceberam que Cavaco Silva não cumpriria o mandato com isenção, o envolvimento dos seus assessores em diversas diatribes tornou evidente que o Palácio de Belém não era uma fonte de estabilidade política. Mais do que uma Presidência da República tivemos em Belém uma sede de uma recandidatura presidencial e, como se isso não bastasse, ao Palácio de Belém tem sido a sede da oposição, substituindo-se a um PSD que só consegue fazer oposição a si próprio.

Sendo evidente que a estabilidade política passa pela derrota de uma candidatura presidencial de Cavaco Silva, resta ao centro e à esquerda encontrar um candidato capaz de devolver o cavaquismo ao lugar de onde não deveria ter saído, o passado. Para isso o PS deve apostar num candidato capaz de vencer um Cavaco Silva que depois de namorar a direita se vai entreter a reconquistar o centro. É neste contexto que se coloca a questão de saber se Manuel Alegre consegue vencer uma candidatura de Cavaco Silva.

Questionados sobre esta questão 61% de um total de 334 visitantes d’O Jumento consideraram que Manuel Alegre não conseguirá vencer Cavaco Silva. É evidente que muitos terão confundido o seu voto com o resultado que resultaria de umas eleições, mas é essa a minha convicção, Manuel Alegre dificilmente conseguirá vencer Cavaco Silva.

Não basta ter ido a um comício da campanha eleitoral para Manuel Alegre ter branqueado vários anos em que liderou a oposição ao seu partido, colocando-o durante meses sob chantagem, tudo fazendo para desgastar eleitoralmente José Sócrates. Ao manter no ar a hipótese de cisão, com muitos dos seus correligionários a promover a criação de um novo partido Manuel Alegre centrou em si os olhos da comunicação social.

Foi, por exemplo, graças aos “alegristas” que um dos melhores ministros deste governo, o ministro da Saúde, foi substituído. Não me esqueço dos protestos de muitos alegristas, incluindo o próprio Manuel Alegre contra o encerramento da Maternidade de Elvas. Dizia Alegre na segunda reunião do seu movimento, o MIC, que «A desertificação é que é o grande problema. É a história da maternidade de Elvas. Ouvi hoje o líder do PSD e tenho de estar de acordo com ele. Tenho de concordar que os portugueses, as crianças de Elvas tenham o direito de nascer em Portugal e não tenham de ir nascer a Badajoz». Aliás, Alegre não perdeu uma oportunidade para se colocar ao lado de movimentos populistas.

Ao usar o argumento da convergência de esquerda Manuel Alegre mais não fez do que dividir a esquerda e favorecer o Bloco de Esquerda, a verdade é que Manuel Alegre fez o jogo de Louçã até ao momento em que o líder do BE se manifestou contra a criação de um novo partido. O grande beneficiário das iniciativas de Alegre foi o BE, como se viu nas últimas eleições.

Não acredito que Manuel Alegre consiga o voto do eleitorado do PS, nem mesmo dos militantes do PS que enquanto apoiaram o governo do seu partido tiveram que suportar milhares de páginas de jornais alimentadas pelas intervenções de Manuel Alegre. Também não acredito que o voto do centro confie num candidato que durante dois ou três anos apareceu de braço dado com a extrema esquerda. Ainda menos acredito que um PCP marginalizado pelas supostas iniciativas de convergência da esquerda vá apoiar agora um Alegre que ajudou o BE a ultrapassá-lo nas urnas, isso para não lembrar que o PCP não costuma ser muito simpático com os seus ex-militantes.

Tenho muitas dúvidas de que Alegre venha a ganhar as eleições presidenciais.