Quando um governo apresenta um orçamento sem défice, com um
aumento da receita fiscal e alardeia uma suposta redução dos impostos, através
de mexidas nas taxas do IRS temos de desconfiar, seguindo a máxima popular de
que quando a esmola é grande até o pobre desconfia.
Não é fácil de imaginar que os governos contam com modelos
econométricos que lhes permitem simular as receitas fiscais em função de
alterações nas diversas taxas de impostos, considerando os diversos cenários de
crescimento económico.
Se o objetivo é reduzir as receitas de IRS sem reduzir as
receitas fiscais é uma questão de mexer noutros impostos, simular taxas de
crescimento e taxas de inflação. Feitas todas as contas dá-se o milagre,
anuncia-se a redução dos impostos sobre o rendimento, quando, feitas as contas,
o cidadão paga um pouco menos de IRS e compensa este benefício pagando mais
noutros impostos.
O aumento do IUC das viaturas mais antigas quase não se
falou aquando da apresentação do orçamento, mas dias depois quase fez esquecer
a tão falada redução do IRS. Não tanto pelos montantes que estão em causa, mas
por se tratar de uma medida que atinge em cheio os mais pobres, porque é de
pobres que falamos quando se aumentam os impostos sobre os carros velhos.
Está claro que a medida até é apresentada com uma boa intenção
ambientalista, aliás este tem sido um argumento muito usado desde há alguns
anos para aumentar alguns impostos. Nunca é a intenção de aumentar as receitas
fiscais, é sempre a boa intenção de proteger a saúde, de proteger o ambiente ou
proteger qualquer coisa.
É por isso que este aumento de impostos é uma medida fiscal
cínica, pensada por gente que gosta se apresentar como muito bem intencionada,
preocupada com as pessoas e o com o ambiente e que para isso não encontrar
melhor solução do que penalizar precisamente as pessoas com menos recursos, que
são os que compram carros velhos ou não conseguem substituir o seu carro a cair
aos bocados por um novo ou mesmo por um menos velho.