Há quem defenda que o país precisa de um choque salarial, daí resultaria a morte imediata de muitas empresas pouco competitivas que sobrevivem à custa de salário, quando não o fazem recorrendo à evasão fiscal e a outros expedientes, daí resultando concorrência desleal com as que remuneram melhor e a destruição de empresas que poderiam crescer e promover o desenvolvimento.
Mas reduzir as preocupações em matéria de políticas salariais ao salário mínimo, enquanto o próprio Estado, enquanto maior empregador de quadros, tem como política reduzir os custos em pessoal através da redução dos salários no Estado, através da sua desvalorização com aumentos salarias sempre inferiores ou mesmo muito inferiores do que a inflação, significa que muito provavelmente em vez de uma política salarial a pensar no desenvolvimento estamos perante políticas meramente eleitoralistas.
Todos achamos bem que o salário mínimo ultrapasse os 800€, mas num país onde os jovens quadros e muitos doutorados que fazem investigação com bolas públicas ganham 1000€ ou pouco mais, estando sujeitos ao IRS o que não sucede com os que auferem o salário mínimo, estamos comprometendo o futuro.
As famílias que mais pagam impostos e mais investem na educação têm como resultado que os filhos, que estudaram durante cerca de 17 anos, ganhem pouco mais do que quem aufere um salário mínimo e, pior do que isso, sabe que a classe política está muito preocupada em aumentar os salários mínimos, enquanto em matéria de combate à inflação, em política fiscal ou na gestão da Administração Pública o objetivo é aumentar a carga fiscal e reduzir o rendimento dos supostos “ricos”.
Por outro lado, ignora-se o imenso mundo do trabalho informal do país, onde muitos empregadores declaram o salário mínimo, enquanto pagam uma parte substancial “por fora”, para não referir uma imensidão de profissionais e de “biscateiros” que trabalham sem pagar qualquer imposto. Todos sabemos do que se passa e não serão poucos os que poupam quando contratam “mulheres a dias” ou encomendam reparações.
O mais grave de tudo isto é que esta política salarial revela um desprezo quase total em relação ao desenvolvimento económico, ignora que uma aposta nesse desenvolvimento implicaria que empresas mais competitivas investissem em melhores salários e na qualificação dos trabalhadores, num mercado salarial onde escasseia cada vez mais a mão de obra qualificada.
Conseguir-se-ia ao mesmo resultado, mas esta estratégia salarial dos governos, que combina aumentos salariais de forma administrativa e favorece os menos remunerados através da política fiscal, tem mais resultados eleitorais a curto prazo, ainda que a médio prazo se traduza em menos desenvolvimento e na aposta de um modelo de crescimento económico cujos resultado é a perda de competitividade da economia portuguesa e a fuga em massa dos profissionais mais qualificados.
Pagamos impostos para termos mais e melhores universidades, mas fecham-se as urgências por falta de médicos, as escolas abrem sem professores, os concursos para muitas funções do Estado ficam sem candidatos, enquanto na City de Londres temos muitos jovens quadros na área das finanças, os hospitais de toda a europa contam com médicos ou enfermeiros portugueses.