Os recentes acontecimentos no mundo do futebol não trouxeram nada de novo quanto à dimensão do fenómeno da corrupção, a novidade está na evolução das fórmulas de actuação. A corrupção já não se limita aos sacos de dinheiro, já assume contornos de uma máfia, mata, tenta matar ou ameaça de morte, persegue procuradores, enfim, deixou de ser perigoso ser criminoso para que a honestidade seja um risco.
Andam todos muito admirados e indignados como se nunca tivessem dado conta, como se muitos dos que agora se manifestam não tivessem sido cobardes ou mesmo colaborantes durante anos. Como se o mau cheiro não se sentisse neste país há muitos anos, como se não fosse evidente que a corrupção se instalou nalguns sectores da sociedade.
E ao mesmo tempo tenta-se localizar o fenómeno ao mundo do futebol, como se fosse um mundo de sociedades secretas que urge eliminar. Mas não é esse mesmo mundo da bola que atrai políticos, jornalistas, magistrado e empresários menos escrupulosos? Basta ir ver um camarote de honra para se constatar que está cheio de penduras ansiosos por uma oportunidade de negócio, desde políticos ambiciosos a altos responsáveis do Estado há lá de tudo, uns foram convidados, outros meteram a cunha para obter o precioso bilhete, uns vão para fechar negócios, outros para iniciar outros.
O mundo da bola não é um mundo fechado, ali misturam-se altos quadros da administração com empresário, magistrados com patos bravos, banqueiros com inspectores do fisco, e o que os junta não são os dribles do Simão Sabrosa ou do Cristiano Ronaldo, e muito menos os sentimentos de famílias desportivas, isso é para a ralé das claques. Os dribles que ali se discutem são outro, são os dribles ao fisco, às licenças, à lei. Ali nomeiam-se dirigentes, escolhem-se políticos, elegem-se deputados, ali apodrece-se a democracia e a legalidade.
Puxem pela ponta da meada e vão ver como o fenómeno da corrupção no futebol faz parte de uma imensa teia que une as mais diversas famílias, vão perceber como a corrupção une crentes com ateus, magistrados com criminosos, a esquerda com a direita, maçons com numerários da Opus Dei, benfiquistas com sportinguistas, directores-gerais com chefes de divisão, generais com sargentos, banqueiros com devedores, transformando-se numa imensa família solidária, geradora de cumplicidades, unida com o objectivo de extorquir dinheiro ao pai.Cheira mal em Portugal, e não se venham armar em meninas ofendidas porque não é só no futebol que cheira mal, e cheiro desde há muito tempo, muito antes do livro da Carolina.