Depois do fado, da bola e das touradas parece que a justiça está a ocupar o papel de espectáculo preferido dos portugueses, pontas de lança como o Eusébio dera lugar a juízes como Rui Teixeira, bandarilheiros como Ricardo Chibanga foram eclipsados procuradores-gerais como Souto Moura e musas como Amália Rodrigues deram o seu trono a modelos da Padeira de Aljubarrota como Maria José Morgado.
O país superou a vergonha nacional da pedofilia e dos abusos sexuais na pira do Processo Casa Pia, gastaram-se milhões de euros, por pouco se destruía o sistema político, assustaram-se os pedófilos e não pedófilos e agora assistimos a um processo agoniante que se arrasta e pelo qual já ninguém se interessa, nem sequer queremos saber se algum ou alguns dos arguidos é inocente, a única dúvida importante deste processo. A pedofilia continua a aí, se não for na Casa Pia será em muitas outras casas portuguesas, e mais tarde ou mais cedo tudo voltará à normalidade, e até os bancos vão acabar por instalar pagamento por Multibanco na Feira da Ladra do Sexo do Parque Eduardo VII.
Este é o risco do espectáculo que está a ser montado em torno do processo Apito Dourado, ainda não temos nada de substancial mas já existem heróis, certezas de condenações, tudo graças a um livro que teve o condão de tornar evidente o que já o era. Esperemos agora que, tal como sucedeu no passado recente com a Casa Pia, não se transformem todos os portugueses que já deram um pontapé numa bola em suspeitos de corrupção no futebol.
O espectáculo já começou, o enredo está escrito, o casting á escolheu todos os artistas e para estrela principal foi-se buscar a maior estrela hollywoodesca, só falta escolher o final, mas como se optou pelo formato de telenovela é muito provável que o enredo vá sendo escrito episódio a episódio, em função das preferências dos espectadores, e para que se mantenha o povo agarrado às pantalhas deverão ser escritos vários finais. Duas coisas são certas: a actriz Carolina Salgado já passou a figura secundária e quando o argumentista entender ser o momento apropriado ai tramar-se, e a corrupção vai continuar a grassar num país que já limpou a sua honra, um país que insiste ser pobre mas lavadinho.
A escolha de Maria José Morgado para protagonista foi uma excelente escolha, será a oportunidade de levar um filme até ao fim, mostrar que consegue estar à altura do papel de Padeira de Aljubarrota. Tenho muitas dúvidas, poucos dos argumentos que escreveu chegaram às salas de cinema, o papel de argumentista nada se assemelha ao de artista.
Aguardemos.