A serem verdadeiras as denúncias que a ex-companheira de Pinto da Costa faz no seu livro, estamos perante uma situação grave, não porque não saibamos que algumas personalidade que pululam no país não são flores de cheiro, mas porque confirmam que a corrupção já não se limita ao envelope e ao pequeno expediente, adoptou práticas próprias da máfia.
É evidente que não vai faltar quem desvalorize a pessoa em função do seu passado profissional, ou que do que ela escreveu apenas aproveite os pormenores mais divertidos, como os descuidos odoríficos do visado no livro. Os portugueses tendem a conviver com a corrupção, como se esta fosse um símbolo de sucesso ou como se fosse um mal menor, desculpabilizam-na e não se incomodam de apoiar os que são suspeitos de a praticar, elegem-nos para autarquias e admiram-nos se levar o seu clube às vitórias. Isto não é nada de novo, a não ser o facto de ocorrer num país da Europa, um conhecido traficante de Medelin também se fez eleger na Colômbia e era adorado pelos adeptos de um clube local.
A verdade é que os portugueses sabem o que o Valentim disse ao telefone, e o major ainda é presidente da CM de Gondomar e até se dá ao luxo de fazer voz grossa ao Tribunal de Contas. E situações como estas multiplicam-se na sociedade portuguesa, a coberto de uma suposta presunção da inocência, a inocência que muitas vezes é conseguida graças a prescrições ou a truques jurídicos, e muito raramente chega a ser demonstrada.
Se for verdade o que está escrito no livro isso significa que em Portugal se está instalando uma máfia que depois de se consolidar vai ser mais difícil de a combater. Se o livro contribuir para que o país saia do marasmo em que está caindo, então teremos que agradecer à autora a coragem que teve que ter para o escrever.
PS: retirei o post anterior ao constatar que o texto divulgado não passaria de uma réplica retirada de outro contexto.