É conhecido o modelo económico que Teng Xiaoping introduziu na República Popular da China, com este modelo político-económico designado por “um país, dois sistemas”, a R.P. da China promoveu o capitalismo nalgumas regiões do país. A separação entre o dois modelos é definida por uma fronteira geográfica.
Portugal também adoptou um modelo económico que também pode ser designado por “um país, dois sistemas”, mas no nosso caso a fronteira geográfica dispensa controlos de emigração ou funcionários aduaneiros, no nosso caso a fronteira é etária. Os cidadãos com uma determinada idade beneficiam de todas as vantagens de um estado social decalcado dos sonhos dos anos 70, as gerações mais novas vivem num modelo liberal fundamentalista, que nem os liberais ousariam propor.
Vem este post a propósito de um mail mandado por um visitante que alertava para o tratamento favorável dado aos pensionistas em matéria de aumentos:
«Você acha bem que um trabalhador que ganha 1000 euros seja aumentado em 1,5% na prática 1% por causa do aumento do desconto para a ADSE e um reformado que tenha uma pensão de 4000 euros seja aumentado em 2,4% e um reformado de 2300 euros em 2,6%, então vamos ter reformas muito mais baixas quando nos reformarmos e no activo levamos por tabela? Há ou não aqui uma conspiração grisalha instada nos corredores do poder? Sei que é um homem que defende as causas justas, junte-se a esta por favor.»
Na verdade multiplicam-se as situações e que as vantagens concedidas aos mais idosos são-no à custa e suportadas pelos mais novos.
São as gerações mais novas mais penalizadas pela crise, e são estas a que os custos de políticas que as esqueceram e excluíram. Quase todos os debates políticos e lutas sindicais desenvolvem-se à margem dos interesses das gerações mais novas, os grandes problemas nacionais prendem-se com a manutenção dos benefícios das gerações estabelecidos. Quando os mais jovens são considerados no debate dos “grandes problemas nacionais” são-no mais para efeitos decorativos, ou para engrossar as manifs.
São os mais jovens que mais sofrem com o desemprego, emigram, trabalham a recibos verdes, ingressam na Função Pública quase sem direitos, são penalizados pela inexistência de um mercado de habitação, são forçados a colaborar com a evasão às contribuições sociais e ao fisco como condição para conseguirem o primeiro emprego. Mas serão também essas as gerações que terão de pagar a divida pública, que vão ter que financiar pensões de montantes muito superiores aos descontos que foram feitos, que terão que pagar os juro dos investimentos nas grandes obras públicas ao mesmo tempo que suportam os custos da sua utilização, que suportarão um SNS especializado na terceira idade.
Não estamos perante uma situação de solidariedade entre gerações como deveria suceder, são as gerações instaladas a servir-se da riqueza do país, remetendo para a futuras gerações os custos de uma situação que chega a ser de abuso e oportunismo.
E o mínimo que se pode dizer da actuação dos governos é de que votam os jovens a um desprezo total, fazem-se umas páginas engraçadas na net, dão-se uns “shots” publicitários, e pouco mais. O governo anterior perseguiu penalizou a juventude retirando-lhe vários benefícios, este limitou-se a designar um secretário de estado que acha que os problemas da juventude se limitam à bola, estando mais preocupado em bater o recorde mundial do político com mais fotografias na sua página oficial, do que com os problemas da juventude.