O Jumento sabe que José Sócrates já escolheu a iguaria gastronómica para a consoada na Residência Oficial de São Bento, não querendo fugir à tradição e aproveitando o facto de o peru já estar bem gordinho e querendo prestar uma homenagem a Cavaco Silva, o seu mais recente admirador, o prato vai ser "Peru à Palácio de Belém".
Trata-se de uma reinvenção de um prato que na Madeira é mais conhecido como Peru à Terceira República e a que alguns também chamam "Peru à Contenente", nos hotéis da Madeira também é servido como "Dindonneau Farci à Albertoô". O peru tem que ser criado na Madeira, pois lá são mais fáceis de engordar e apresentam a aquele ar rechonchudo que torna o bicho mais apetitoso. Convém também que seja morto por aquelas bandas, depois de bem embebedado com uns copos de poncha.
Escolhendo um peru bem gordinho, leva-se o bicho a passear por algumas tascas dando-se-lhe a beber uns valentes copos de poncha. Quando o bicho começar a confundir o Presidente da República com o elefante das moedas do Jardim Zoológico arrefinfa-se-lhe com um maço de Diários da República na crista e fim de se lha acabar com o pio.
Gordinho, bem temperado com a poncha e a perder o pio é a altura de o deixar bem depenado, ficará com um ar mais magro, mas não perderá o seu aspecto luzidio. Depois mistura o que sobrou do poncho, se é que o peru não o bebeu todo, com um copo de aguardente de cana da adega da Assembleia da República e incendeia-se, passando-se depois a criação por cima da chama para que fique bem depenado.
Já depenado põe-se em cima de uma tábua e dão-se-lhe vários cortes por baixo do orçamento, retirando-se o excesso de obras públicas, inaugurações, certificando-nos de que não trás sifões agarrados. Faz-se um corte sobre a mitra (sobrecu), comprimindo-lhe o ventre para deitar cá para fora todos os impropérios que ficaram por digerir. corta-se a ponta das asas para nos certificarmos de que não foge para o galinheiro da Buenos Aires. O peru está amanhado e pronto para ser levado ao forno.